9/27/2025

tensão

em volta desta fonte,
quando a Noite se estender
e o Sol, cansado, descer
os muros do Horizonte,

estaremos defronte
e sem nos perceber
iremos nos conhecer,
cruzaremos a Ponte

e juntos, doutro lado,
não haverá tal cuidado
em levantar nossa voz,

mataremos no beijo
esse duplo Desejo —
essa Tensão entre nós...

9/20/2025

livre arbítrio

não se escolhe nascer;
você nasce — e pronto
se declara o confronto,
se pretende viver...

não se escolhe pensar;
você pensa — tá feito,
já ficou sob efeito,
não se pode parar.

não se escolhe sentir;
quando viu — quer sorrir,
quer fluir e cantar.

não se escolhe querer,
e no mais — vai saber
quem se escolhe amar?

9/05/2025

Stims XX

Conheço uma nova calma
deitado no chão —
alucino um mergulho em Gaia...

Apago por horas minha alma
numa condição;
que o coração não me traia.
 

9/02/2025

XI

Adeus, Sol — nunca mais as lúdicas auroras... 
Adeus, Sol — belo, vivo, forte e bem disposto...
Adeus, Sol — sempre quase choro nessas horas...
Adeus, Sol — tudo sempre parte do suposto...

Adeus, Sol — leva minhas dores mais sonoras...
Adeus, Sol — bata em outro canto, em outro rosto...
Adeus, Sol — luz no riso triste das senhoras...
Adeus, Sol — faça um novo ninho, um novo posto...

Adeus, Sol — parte com teu divinal conceito!
Adeus, Sol — que esse estranho verso não tem jeito...
Adeus, Sol — que essa velha história se renova...

Adeus, Sol — livre, raro, e justo carmesim...
Adeus, Sol — dorme. Logo, logo, chega o fim...
Adeus, Sol —  (((     s  u  p  e  r  n  o  v  a       )))

8/13/2025

Relax

Pensar em ti somente e não dizer! 
repito para ser memorizado...
Silêncio... faço um verso cochichado
que quase some o som, que quer morrer...

Pensar em ti somente por prazer,
daquele bom prazer que é bem pensado —
que em tempo de partir quer nos prender,
que em tempo de prender tem libertado...

Pensar... isso somente... só isso basta?
Mas nada me responde e me devasta,
nem diz que estou errado, que vacilo...

Eu tento te deixar, eu me ameaço
e ponho o teu silêncio nesse traço —
e finjo ir dormir, assim... tranquilo...

8/12/2025

Stims XIX

Ao mesmo tempo que me fascinam 
esses, que julgo serem o que são, 
fico boquiaberto
ao que os conduz 

a serem o que são, assim, sendo vistos 
nesse espelho social adulterado... 
é tão óbvio o sol 
para quem luz?

8/07/2025

Para seus óculos

Voltaste para ler meu corpo inteiro
depois de me prender, de ser quem és...
E agora, que me deste paradeiro, 
mantendo-me pisado por teus pés?

E agora, que contei teu fevereiro,
embora dissidente, mais de dez...
Que importa a quantidade, se primeiro
a qualidade mostra o seu viés?

Que importa o dia do mês ou da semana
pra quem não fez, na vida, mais que os planos,
pra quem não quer saber que tudo engana –

quer sejam desprazeres quotidianos,
quer seja a mesma bossa, a mesma gana –
que importa, para nós, a luz dos anos?

8/05/2025

Insolação

Que tenho, que essa febre não desiste?
Que alucino analemas no infinito
da sanha dos seus olhos e acredito 
no verão, que é verão porque pediste...

Que tenho, que confundo se resiste
a mesma febre estranha? Que esquisito —
não vou? — aceito — não quero? — permito —
não sei se é mesmo amor, se o amor existe...

Ah, céu! Por que não cai? Por que me luz
tão vivo, que mais vida reproduz 
em tudo que me fere e me aprisiona?

Ah, Sol! Talvez nem saibas que sou teu...
deixa estar — vai passar — aconteceu —
precisando, tomo outra Dipirona.