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Chegou meu Cruz e Sousa de tardinha...



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Chegou meu Cruz e Sousa de tardinha, 
não morto num vagão de tosco cargo, 
mas sim de motoboy, pra meu descargo, 
na mata que me escondo, tranquilinha... 

Lá foi... ficando eu, o livro e a minha
rudeza de animal queixudo e largo, 
talvez um ticos alto de letargo, 
mas sem bandeira dar do que obtinha... 

E o Cruz me olhando pávido na capa, 
sem me entender da uva, nem do vinho, 
mal sabe que comigo se esfarrapa

um outro livro seu, mas não sozinho, 
que os trago doutros tempos à socapa 
em pilhas numa estante em desalinho... 

Manual do Minotauro



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E esse blogue de tiras da Laerte? 
que achado, nele tudo é bem servido... 
a novidade hermética que aperte 
o seu tronxo bolado bem lambido!

Transvó! Certa a poesia que te converte 
nesse teu traço tão desentupido, 
que do ácido me ferve teu "desperte" 
da droga que me faz ser comprimido. 

Eu não sei se ela tá careta agora, 
tanto faz qualé a fuga que vigora, 
só preciso escrever mais uma estrofe... 

E que mulher, que artista, que gogó! 
nem Moebios Madureira, seu xodó,
deixou tão belo e vasto estrogonofe! 

A consulta



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Neste quarto que o sol nunca quer,
mudas mãos nervosas nos mostravam 
a matiz roxa que aos lábios davam,
uma dor de arfar o rosicler...

Os vazios venciam cheios de quaisquer
fractais atróficos que inchavam,
pela vida que testemunhavam 
a metástase entre homem e mulher...

"Dor no peito?" Diz o frio doutor. 
"Vai ter jeito?" O interlocutor,
ajeitando as bordas do vestido

que de flores em fundo pastel 
perfumava suas dores no céu,
onde o sol não devia ser erguido...

XIII



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Aqui deste ocultismo em carne viva
confesso doutra boca o meu desvelo, 
portanto mais vulgar do choque ao pelo
na pele metamorfa e permissiva... 

Nem sangue vence aquela que cativa 
nas tranças ancestrais o pesadelo, 
que dói como se a dor não fosse vê-lo 
distante dentro em outra dissertiva. 

A Lilith urbana não se afeta, 
quando ama se derrama por completa, 
até se transbordar ou se exaurir, 

da estrela do ocultismo te convoco, 
servida dos espasmos que provoco, 
até chegar aos céus e transgredir!...

VII A Sukeban



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Em gangues hemorrágicas se infestam
nos bares dos pretensos monarquistas, 
empunhando suas bokkens entre saias
que longas contornavam toda fúria, 

furavam olhos bêbados, patriarcas 
da tradição nipônica do estupro, 
que gritam reduzidos às suas presas
agonizantes, velhos bem surrados! 

O crime de uniforme feminino;
a violenta rosa mais que o choque
engendra o roubo e a prática do estilo

que curva de joelhos mesmo a vida, 
que finca, que desmembra, que incendeia, 
que não se submete e nem acata... 

XII



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Serás, talvez, bem mais do que presumes, 
garoto só, Nobre Anto - bronze a pele 
que arriscas, pobre e rude em teus queixumes 
cheios de deboche. Como me repele

aquilo que não tens entre teus lumes, 
que fere a si porque assim se compele 
daqueles quase todos dos cardumes, 
que te destacam lindo, mas imbele... 

Ai, não me chore, que hoje a regra basta, 
que não darei meu peito de bandeja,
pegada por tua birra, charme ou mimo, 

cansei de te dar mole e me contrasta 
o verso que te imponho, que te beija 
na minha própria falta de um estimo! 

VI O Poeta



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Amálgama lisérgico da realidade,
propenso à adicção rotunda dos lampejos, 
que vai negando ir, que subtrai das furnas
sinapses de carne dionísica adentro. 
 
Seguindo a velha escola do amputacionismo, 
malhado como Judas que nunca viu a prata;
vagabo dos vagabos, vestes de barril, 
correndo todo bairro em busca de um perverso... 

Discípulo aberrante que prega o suicídio, 
suspenso tal Jesus, amadeirado e nu, 
tingido de sentir insignificâncias, 

defende eternizar a pretensão risível 
da natureza morta - crivo supressivo 
que tenta refutar entranhas e universos.

No quarto à meia noite



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Diz ao Vento: – Carrega-me ao horizonte!
Mas responde: – Quem dera, folha morta...
Diz ao Sonho: – Vem, toca minha fronte!
Que se enerva: – Por quê? Não me comporta... 

Pede à Luz: – Desenluta-me, Caronte!
Ela fala: – Só o dracma me importa...
E suplica: – Cai sobre mim, oh, Monte!
O qual soa: – Teu silêncio me conforta.

Será assim? – Concretizo que obedeça.
Que pretende? – Pilhar outra cabeça.
Que medita? – Na dúvida que enflora...

Será o Amor? – Nunca vi, nem tenho visto. 
Por que mentes? – Talvez porque desisto...
O que é a vida? – Um deus que se devora! 

O Destino



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"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”

Machado de Assis

Eu tenho um Verme como amigo, 
que sempre ampara meu suplício
quando se chega, meretrício, 
a se enredar no que te digo... 

Verme Destino, não o predigo, 
se bem conheço do teu ofício, 
se vens render da rima o vício
ou vais compor um novo antigo... 

Vejo-o dançar sobre esse lodo, 
a desprezar o Mundo e o Todo, 
moldando Golens para amar-te. 

Teu mal prazer mais nos instiga, 
e nos impõem, logo castiga, 
assim na morte como na arte. 

XI



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Envolta de quereres flutuantes, 
recobro amor daquele já perdido 
e como ele tivesse respondido, 
marejo de latências delirantes... 

Em ritmos primevos repulsantes,
dedilho tanto acorde suprimido, 
afogo em tanto azeite desungido 
o cimo de prazeres dissonantes! 

Explodo de urgência descritiva,
por ele que me esquece concussiva,
reverberando baba e compulsão, 

discorro sobre toda solitude,
nesse êxtase da quase infinitude 
que enrama minha boca de amplidão!

V O Burguês



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Depois da matinê, no beco podre,
te trombo perfumado em porcelana, 
tentando escapulir por improviso  
ao ver que te propus minha navalha...

De luz lunar tomado, democrata, 
abri na tua boquinha mentolada 
o talho que te ajude na hora sacra 
que tendes a empapar-se do meu nunca. 

Depois de provocar-te o riso horrível, 
te fiz uma cesária com urgência, 
de merda despencaram as tuas tripas... 

Sem mais que te cobrar voltei soberbo, 
dançando pela chuva mais vermelha, 
nutrido do teu gesto de pavor! 

II



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Cavalgando sobre a viração maldita, 
traz aos lábios fresco beijo, sutilmente
emulando um novo amor pra quem medita
deslumbrado, adocicado e adolescente...

Numa treva que entre as trevas é infinita, 
que consome tudo em fome de repente,
estendidas asas de abutre esquisita
que se banha só do sol indiferente...

Tal prazer da carne rasga seu tecido
coligindo o Graal que nunca foi perdido, 
sem matizes, na constância contumaz, 

mas acende sempre o incenso indefinido 
nesse altar deteriorado e desbenzido 
que do corpo se desgraça e se desfaz...

X



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Bendito seja o punho e seu itinerário 
que esmurra todo crente sem acepção;
humilde vaidoso, servo perdulário, 
imagem do Senhor afeito à danação! 

Bendita toda chaga que igualitária 
recobre metafísica a tua infecção;
que fede tão purina a rosa mortuária
da velha idolatria, difusa sugestão! 

Bendita a pouca pena que veste tua sanha, 
retórica da Morte que leva até os teus 
pequenos belos filhos da avidez tacanha;

projetos e construtos desses fariseus
curtidos de tesouros ungidos da banha, 
cuspindo letargias pela boca de Deus! 

IX



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A insubmissa 
de queixo em riste fúria precursora, 
que movediça 
irrompe pela vala transgressora, 

que te aterrissa
dos céus onde proclamas opressora, 
a mesma missa 
do velho amarrotado defensora!... 

Arcana maga
que chove o sangue tétrico do oculto, 
que verte a chaga

que sentencia um Deus subproduto 
da própria praga 
que prega o desamor absoluto! 

IV O Sacerdote



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Silêncio na penumbra que meditas,
coçando do teu falo o cancro duro, 
desejas a pureza do gorjeio 
filtrada por vitrais engordurados,

lá fora corre o riso onipresente, 
completo como tu não podes sê-lo, 
conspiras orações de mendicante 
propondo toda forma de barganha, 

e desces as escadas do teu templo,
arfando grunhos chulos de chorume, 
tua bata suando fátua teus farfalhos... 

O cervo escapa livre e te debates 
na neblina espalhando o nimbo véu 
heroico do paterno Belzebu!...

VIII



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Amado dos meus cantos rarefeitos, 
restritos num acorde mal montado;
louvor aborrecido e deslocado, 
não pôde fazer jus aos teus preceitos, 

nem nunca imaginar os teus trejeitos 
enquanto tu me lês desconcertado
e sentes que o que eu digo foi pensado 
por quem te beija até por teus defeitos... 

Amado que jamais ouviu, latente,
do corvo o miserere displicente, 
paupérrimo, truncado e desigual, 

que sendo assim esdrúxulo torcido, 
sugere parcamente algo vencido, 
ungido, ressurreto e triunfal!... 

III A Criança



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Acordo desconexo e reconcilio 
o caos dos meus sentidos desarticulados, 
de pronto te procuro pela casa e saio 
descalço no jardim onde contorno acácias 

e ali porque perdi do teu destino o rumo,
ferido de perfume por qualquer espinho 
conduzo pelo breu meu desespero ufano 
com mãos inconsoláveis feitas de vingança, 

encontro-te no ontem e já despetalado,
teus membros entre espasmos de inocência ida - 
no choque roxo puro, surto criminal! 

E o riso como luto me vestiu suspeito,
deitado no teu resto, reunido e impuro 
no jorro tanto êxtase quanto digressão. 

VII



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"Esta rosa desbotada, 
já tantas vezes beijada, 
pálido emblema de amor;
é uma folha caída 
do livro da minha vida, 
um canto imenso de dor!" 

Casimiro de Abreu 

Arranco desse turvo mal-me-quer 
a oculta dissidência do Destino 
que fez de mim spleen de Baudelaire 
pulsando todo gênio antidivino! 

Eu sou concupiscência, não mulher, 
é fato e sobre os fatos desopino, 
não quero quem me quer e quem não quer 
me tem completamente em desatino! 

Fadada à toda distribuição
injusta, infecunda de noção, 
sozinha no meu leito primavera, 

meus versos esculpindo a desrazão
no mármore que dorme o coração 
como epitáfio um grande: "quem-me-dera!" 

II O Zumbi



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Que saudade de cair meus fatos! 
Verde musgo vem cobrir-me o úmido 
putrecido do ideal mortífero, 
que pecado sem utilidade!

Quando arrasto pela campa laica 
todo fim que nos espera vivo,
vou rangendo procurando um justo 
que alimente a minha dor de ser. 

Quanta falta de servir meu tempo 
para quem habita o chão dos burgos,
recolhidos sob à luz dos céus,

quando outrora do osedax faminto 
não pulsava esse festim orgíaco
de fervor a revolver no estômago!

VI



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Não mordes dos meus lábios a romã
por toda vez que queres consumi-lo
e quando ferve o sol desta manhã 
não tomas minha pele como asilo? 

Não beijas ofegante meu pistilo 
na estática textura de uma lã
na mesma noite sempre a conduzi-lo
tão longe da virtude que é vã?

Não podes segredar teu destempero
infante do que diz ser desespero
no abismo de infinita plenitude? 

Não gozas cada grumo de ambrosia 
no quarto em que tua mão me asfixia
o sonho que deixei na juventude?...