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13.8.25

Florir

As palmeiras floriram de repente
no corpo de um novembro delirante, 
por dentro da canção incandescente
perjura o novo crente e praticante...

Amantes — veja o Sol que vagamente
pelo quarto se deita triunfante... 
Amantes — olha, tudo está presente,
pois tudo que é presente é importante!

Os segredos dos novos transgressores, 
as injúrias do choro dos aflitos —
olha a consequência dessas dores

dorindo em desamores infinitos —
bendita essa aquarela de mil cores
no beijo dos mais tristes e bonitos!

1.8.25

Tempestade

Confesso que pensei em ti demais, 
que nunca te deixei um só minuto, 
que vi por entre as nuvens divinais
as páginas de um sonho resoluto... 

Confesso que o desejo absoluto 
é um sonho de miragens soturnais, 
talvez não fosse mais que um dissoluto
desejo de querer-te sempre mais... 

Mas bebo teu perfume e me embriago
da tua consciência, deste afago 
sem culpa, sem clemência, sem razão

te beijo, Tempestade caudalosa, 
e o choque da tua boca cor de rosa
é luz, clarividência e redenção... 

25.7.25

Metalinguagem

Palavra por palavra. Tudo dito
na fração dos segundos, um recorte
sobre o que se mantém confesso e forte
e tão contraditório, tão bonito...

Palavra bem pensada, sem conflito,
que vem tão natural, sem passaporte 
na escala musical, dançada à sorte 
do blues desta cintura — requisito 

que atende à descoberta rediviva 
do acorde relicário, que te viza
vibrando nos ouvidos, sem que cale,

mas não sem consentir, tão bela e viva,
que a boca da palavra, assim, precisa,
te chegue devagar, te beije e fale...

24.7.25

Analemas

Que tenho, que essa febre não desiste?
Que alucino catarses no que é dito 
dos teus novos retratos... que acredito
no verão, que é verão porque pediste...

Que tenho, que confundo se resiste
a mesma febre estranha? Que esquisito —
não vou? — aceito — não quero? — permito —
não sei se é mesmo amor, se o amor existe...

Ah, céu! Por que não cai? Por que me luz
tão vivo, que mais vida reproduz 
em tudo que essa dor proporciona?

Ah, Sol! Talvez nem saibas que sou teu...
deixa estar — vai passar — aconteceu...
qualquer coisa tomo outra Dipirona...

23.7.25

Primavera

Existe alguma força devorante
que pode me esmagar o sofrimento?
Um rolo compressor, assim, gigante
que planifique a dor deste momento?

Amor? Quando a certeza é delirante 
e fez do tempo embargo tão sedento?
Amor? Quando a paixão me fez amante
da voz que ouço cantar; a voz do vento...

Seria a dor confessa necessária
para formar a brava coronária
nas ramificações dessa raiz?

E a Primavera diz, toda imponente,
que nunca viu alguém tão insolente...
que nunca viu alguém mais infeliz...

22.7.25

Voragens

Voragens distorcidas que me tragam 
no torque deste amor, nesta loucura
que trama recurvar minha estrutura
nas ondas que nas luzes se propagam,

as luzes dos seus olhos, Noite Escura –
vivendo para os braços que te largam,
seguindo pelos passos que divagam,
perdida nos espaços da procura

do que ao teu lado está, mas nunca vês
nem ouves te dizer, nem contradiz,
nem volta a te dizer mais outra vez

e assim vertendo vai e não te prediz
aquilo que produz o que tu lês,
que não dizendo diz o que te diz...

21.7.25

Frio no Cerrado

Inverno gris fechado, que distinto
desaba sobre o vale e romantiza
a tarde que mansinha vem — me pisa
que mais eu tremo, estalo e sinto 

teu golpe ressecado. Tanto instinto 
me ocorre transversal pela divisa 
e na espinha dorsal se cristaliza,
que a dor me fez melhor e mais sucinto...

Rasga, Inverno Cálido, os instantes
que te conheci as cores cintilantes 
nos traços dessa tela boreal!

Que vingue o nosso amor profuso e franco
nesse deserto agudo de tão branco,
tão branco quanto a Morte, quanto o Mal...

19.7.25

Handroanthus



dedicados ao Sol
Imagem e ação 

Pensar em ti somente e não dizer! 
(repito para ser memorizado)
refaço um verso quase cochichado
que quase some o som, só quer sofrer...

Pensar em ti somente por prazer,
daquele bom prazer que é bem pensado —
que em tempo de partir quer nos prender,
que em tempo de prender tem libertado...

dormir nesse regaço delirante 
que ora torna tudo mais distante,
que ora torna tudo tempestivo;

vencer esse troféu da liberdade,
dizer a quem me mata de saudade
que aquele amor tá vivo e muito vivo!