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Chegou meu Cruz e Sousa de tardinha...



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Chegou meu Cruz e Sousa de tardinha, 
não morto num vagão de tosco cargo, 
mas sim de motoboy, pra meu descargo, 
na mata que me escondo, tranquilinha... 

Lá foi... ficando eu, o livro e a minha
rudeza de animal queixudo e largo, 
talvez um ticos alto de letargo, 
mas sem bandeira dar do que obtinha... 

E o Cruz me olhando pávido na capa, 
sem me entender da uva, nem do vinho, 
mal sabe que comigo se esfarrapa

um outro livro seu, mas não sozinho, 
que os trago doutros tempos à socapa 
em pilhas numa estante em desalinho... 

9 de Junho



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É véspera da morte, rememora
a pátria que pariste, Vate Caolho,
prepara algum lençol e põe de molho
nas lágrimas da Tágide que chora;

que inveja dessa gente que decora
a música que molha a tez do abrolho, 
por onde compuseste teu refolho
ao mar que n'alma fere a dor da aurora,

reclamo a mim também essa orfandade
e o luto, que enferruja as línguas, há de
plangir da renascença assinalada 

o tom que vai contigo, moribundo,
e mesmo cá distante em novo mundo 
encontra ressonância desprezada!...

À Manicure



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Em teus ouvidos curam-se as carências
daquelas saturadas das cidades, 
curvando tua coluna, em penitências, 
recontas pelos dedos as idades

que marcam teus horários nas urgências
do teu convento móvel, soledades
que atendes cutilando confidências
distintas, mas iguais em densidades... 

Das cores? Vinte telas que matizas, 
não sem antes moldar em formas lisas;
quadradas, curvilíneas, estiletos 

da prática de antigas outras monjas, 
que herdaste, merecidas as lisonjas
que tingem os teus lindos olhos pretos! 

Agora Inês é morta



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É tarde, do cajueiro a sombra dorme
deitada ao longo córrego da mágoa
que traz nos seus soluços, que se enxágua
na espuma cintilante pluriforme ... 

Rancor! Um rasgo púrpura na espádua
nos dilacera vago e desconforme - 
distinta larva rubra e liquiforme
que freme, que se infiltra forte e fátua

e rememora fundo, cava, desce
aos círculos sinistros e acontece, 
prolífera e ranúncula e urbígena

ramificada em músculos repulsa, 
se expele perfumosa e reconvulsa 
orgásmica, perene, polacígena! 

Ramal Roxo



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Ao lado da craveira dos trilhos
temos nossos barracos
e dentro: cabeças de peixes
nas mãos de nossas viúvas, 
os lenços gordurados 
fazem nós nos cabelos cinza, 
restritos de luz solar, 
contidos... 
Nos domingos de canela de fogo, 
justos e eleitos
evangelizam pelos becos 
das nossas satânicas dores
para Aquele que carece das primícias
dos nossos centavos sujos, 
noutro descarrego
expulsam nossos ancestrais, 
pisam, dão bicos nos utensílios
da nossa memória... 
Ambicionam
os seus restos de tábuas de construção,
seus restos de outdoor e placas de trânsito, 
seus restos do que sobramos, 
tão nossos... 
esses que levantam nossa austera Jericó, 
que dela chora o Josué
com sua trombeta cega, cínica, 
nela ajoelha e silencia
antecedendo o gemido gutural 
que implode seu Verbo
impotente e desbenigno
por contemplar nossa face real.

Manual do Minotauro



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E esse blogue de tiras da Laerte? 
que achado, nele tudo é bem servido... 
a novidade hermética que aperte 
o seu tronxo bolado bem lambido!

Transvó! Certa a poesia que te converte 
nesse teu traço tão desentupido, 
que do ácido me ferve teu "desperte" 
da droga que me faz ser comprimido. 

Eu não sei se ela tá careta agora, 
tanto faz qualé a fuga que vigora, 
só preciso escrever mais uma estrofe... 

E que mulher, que artista, que gogó! 
nem Moebios Madureira, seu xodó,
deixou tão belo e vasto estrogonofe! 

A consulta



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Neste quarto que o sol nunca quer,
mudas mãos nervosas nos mostravam 
a matiz roxa que aos lábios davam,
uma dor de arfar o rosicler...

Os vazios venciam cheios de quaisquer
fractais atróficos que inchavam,
pela vida que testemunhavam 
a metástase entre homem e mulher...

"Dor no peito?" Diz o frio doutor. 
"Vai ter jeito?" O interlocutor,
ajeitando as bordas do vestido

que de flores em fundo pastel 
perfumava suas dores no céu,
onde o sol não devia ser erguido...

No quarto à meia noite



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Diz ao Vento: – Carrega-me ao horizonte!
Mas responde: – Quem dera, folha morta...
Diz ao Sonho: – Vem, toca minha fronte!
Que se enerva: – Por quê? Não me comporta... 

Pede à Luz: – Desenluta-me, Caronte!
Ela fala: – Só o dracma me importa...
E suplica: – Cai sobre mim, oh, Monte!
O qual soa: – Teu silêncio me conforta.

Será assim? – Concretizo que obedeça.
Que pretende? – Pilhar outra cabeça.
Que medita? – Na dúvida que enflora...

Será o Amor? – Nunca vi, nem tenho visto. 
Por que mentes? – Talvez porque desisto...
O que é a vida? – Um deus que se devora! 

O Destino



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"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”

Machado de Assis

Eu tenho um Verme como amigo, 
que sempre ampara meu suplício
quando se chega, meretrício, 
a se enredar no que te digo... 

Verme Destino, não o predigo, 
se bem conheço do teu ofício, 
se vens render da rima o vício
ou vais compor um novo antigo... 

Vejo-o dançar sobre esse lodo, 
a desprezar o Mundo e o Todo, 
moldando Golens para amar-te. 

Teu mal prazer mais nos instiga, 
e nos impõem, logo castiga, 
assim na morte como na arte. 

Francisco



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O Papa humano morreu, 
vale nota o acontecido. 
Amado por bramir o óbvio
do óbvio tão reduzido. 

Foi santo porque gentil, 
como se aí tanto houvesse
algo que falta ao poder
que se apropria da prece.

Agora que vai enterrado
exuma-se o que se consterna,
que se conserva na igreja
como na imunda taverna. 

Hipátia



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Teus olhos decididos descortinam
no quarto da manhã por qual despontas, 
consecutivamente se iluminam
os cômodos, as dúvidas, as contas, 

as mãos que curvam forças rotineiras 
num gole de café, tão soberanas 
traçando movimentos, costumeiras 
à moda proletária das urbanas. 

Avanças sobre a turba nas calçadas, 
munida com teus fones introversos 
que vibram melancólicas porradas
sensíveis aos ouvidos subversos, 

compassam na cidade desmelódica
teus passos que afrontosos recolorem
a boca murchecida e episódica
que diz-nos, tirânica: que implorem!... 

Espreme-te nos vários suprimidos 
vagões convulsionados, transitórios 
espaços permutados e contidos 
no clima que remete ao dos velórios 

de quem trabalhou sempre, tanto a custo 
da própria concordância, subalterno
do que a sobrevivência torna justo, 
presente tão fantástico e moderno

que entendes feito maga, confessora
das práticas belezas, das elipses 
erráticas da Vênus promotora 
que dita a competência dos eclipses

completos, delirantes e dantescos
que só teu ventre pode suceder, 
assim como a palavra volta frescos 
os ventos que te vêm anoitecer

no ponto quando um velho vaticínio
recorda-te dos anos mais escuros, 
passando nos esquadros de alumínio
o filme que remonta teus futuros... 

E voltas desmembrada, convertida 
no afago que com precisão produz
os quadros hemorrágicos da vida
que pulsa por cada rastro de luz.

Hosana!



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Ao painel do micro-ondas te dedico, 
macarrão parafuso vespertino;
feijão - ovo estralado te confino
no que deixo, que como e comunico,

no fundo da província o prontifico, 
microcosmos que sugo e denomino
em garfadas, errático, ferino
o sabor doutra fome metrifico. 

Depois de refolgar minha algibeira, 
ataco por prazer a geladeira 
que esconde chocolates pelos quais 

salivo teus efeitos paralelos, 
na impregnação dos caramelos
de trufados Jesus Cristos pascoais!

Elegia do Ocaso



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Ah, cantar o fim das coisas, 
palavras por entre as loisas
a rodo... 
Do sol ver um outro eclipse, 
crer-me ser do Apocalipse - 
rapsodo!...

Ah, cantar-te ocaso vasto
deste céu de azul nefasto
que impera
sobre as ondas que redobram
quando os afogados cobram - 
Nova Era! 

E cantar da ceifa o súbito
no meu triste estranho púlpito, 
pendão
do esplendor que traz o Outono, 
ergo-te, mas te abandono, 
perdão... 

Dar-te voz, deus preterido, 
martelar tema batido, 
febril 
sorver o teu sumo rude, 
sufocar de finitude - 
Nihil!...

Junji Ito



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Da casa as sombras tortas se rebelam
em vórtices talvez ectoplasmáticos, 
julgando entre rangidos democráticos
o crime que nem mesmo nos revelam... 

Pululam pelas nuvens que encapelam, 
no horrendo cavalgar dos raios trágicos, 
as luzes refulgentes que fantásticos
provérbios recursivos atropelam...

Nas bocas os sorrisos de ferrugem
nos morde a fina e tímida penugem
bebendo da vertente flor do trauma!... 

E a tela de nanquim nos mortifica 
no olhar que já sem vida testifica 
a mágoa que a beleza traz na alma!

Canzone



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Amore, amore mio,
entardeci vazio
do seio teu...
Não mais augures místicos -
poemas apocalípticos -
não mais eu!...

No prado do martírio
cansei do meu delírio
compulsão,
matei minha alfazema,
sofrendo de enfisema,
de paixão...

Amore, tutto cuore,
mais nada me colore,
tu somente...
Só tu, em quem confio, 
só tu, meu bem, meu lírio
penitente... 

E brinco - ignoro
meu nome, tento o choro,
mas desisto...
A saudade é um fio
de sabre tão sombrio
quando insisto...

Simulacro



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Daquilo que era realidade,
da poesia primogênita,
da simples capacidade
da rima brutal e frêmita,

daquilo que é preterido
e que subverte o capital,
daquilo que nunca foi tido
como verdade universal,

da luz que se impõe limite
e serve pra fim algum 
além daquilo que transmite
o ideal de não ter nenhum,

daquilo que foi romance
ou do que pensava sê-lo, 
da eterna performance
de obter o perfeito apelo,

daquilo que o verbo encerra
e dá-se por satisfeito -
um eco no seio da terra
de um tempo liquefeito... 

Por ti desejo ser assassinado...



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Por ti desejo ser assassinado
e a febre que me toma, repentina, 
sustenta meu delírio depravado
e a morte pelo amor se desatina!...

Vem matar-me, não deixes que assombrado
meu verbo, que por tudo mais opina, 
te conjugue piedoso e amedrontado, 
que me adora e que nunca me assassina!

Enfim, quando cravar o teu punhal
na insignificância, transversal,
que impera quando penso na existência, 

enfim, quanto a sofrer, seria igual 
à dor que escorre o chão do hospital 
na madrugada em muda recorrência...

Sem Imagem



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Aqui aposto a letra
pra seu novo estímulo, 
contra o tédio surge 
o verso, que simulo

da dopamina o vício...

Lento contratempo, 
corpo estranho - cringe
ao relapso - skip! 
Nada aqui te atinge

da dopamina o vício... 

É dinossaurismo 
sem rastro ou depois - 
sem pornô, sem vibe:
"semana de vinte e dois..." 

Da dopamina o vício 

te entrego analógico, 
meu correspondente
trafega anacrônico 
e morre de repente...

Impregnado



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Observo-me de fora, apreensivo
com o dedo indicador sobre os lábios
me estudo sob a luz do relativo
e turvo olhar recrutador dos sábios...

Procuro me atentar nesses indícios, 
pois a dissociação do involuntário
cansado coração que pulsa vícios
só quer representar o que é contrário... 

Doppelgänger, aflito anti-narciso
produzo minha mímica, psíquico
elástico espectro plástico e químico... 

Renasço do equilíbrio que harmonizo - 
segunda voz do velho tabernáculo 
no corpo estrutural deste espetáculo!...

Cyber Pindorama



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Atrás da barricada
só não vai quem já morreu,
nem correio ou caminhão
do lixo me apareceu...

Fogo na mata - é verão 
no vale dos desovados,
manilha exposta, esgoto
que cospe fora os dados 

não colhidos e sujeitos 
a todo mal demográfico, 
meus comparsas de escola
foram servir para o tráfico, 

foram, não voltam jamais
nem que suas mães arrancassem
do peito suas lacunas 
e nunca mais murmurassem...