6/29/2025

Tu és da cor a música...

Tu és da cor a música 
almiscarada e nítida, 
quando toco-te a verdade, 
o teu pejo se enrubesce... 

Se conheço o meu Amor, 
ele vai por onde fujo, 
nas areias ondeadas
performadas pelos zéfiros... 

Se confesso o meu Amor, 
ele fere, em fúria, os mares, 
e nos solos dos soluços 
faz-me ouvir a terra e os céus... 

Se esqueço o meu Amor, 
pelas trombas colunares
vai em voltas volteando, 
recurvando, recurvando... 

Há uma Dor que fareja
nos meus olhos que turvam
pelo caminho dos seus
a debulhar-me em sussurros, 

há uma Dor que esfarela 
pelos rastos, pelos rastos
as cinzas do desencontro
dos que sonham lado a lado... 

Mas alegro minha graça 
ao Juiz supremo e anoso, 
e protejo o meu algoz 
com coroa de açucenas... 

Porque a música é a dor 
onde habito em cativeiro, 
só me basta uma fresta 
para dar-te a peça inteira... 

Vejo as claves deste sol, 
no suflar dos sustenidos,
revelar-te o corpo vulto, 
nas vibragens dos acordes

rente às hordas dos ciprestes 
sobejados dos orvalhos, 
onde o Nada cai num breu
que me apaga, que me esquece...

6/27/2025

notas para vanguarda poética

do - pós - humano - pós - o - quê? - 
enlatar-se para não se enlatar
desperformar-se para performar 
impor métrica quando a regra for livre
impor livre quando a métrica for 
impor o não-impor para desimpor o pós-impor 
ser tirano de si 
ser múltiplo mas unilateral 
não falar de amor para falar de amor 
ser vazio para ser profundo 
acorrentar a favor do nado 
cafona cofonérrimo cafoninha cafonão 
em suma para aparecer sumir 
oclinhos cult camisinha cult disquinho cult
crescer em favela para ter lugar de fala
usar anti e des e pós com sub-frequência 
cagar na mão e jogar em quem passa 
sublinhar absurdos inconfessos 
não ser para ser 
escrever para ninguém ler
esquecer que tudo é linguagem 
subverter a linguagem 
provocar tragédias para engrandecer a biografia 
morrer como catarse 
negar para não negar
como principal meta não levantar da cama
testar pra cima para cair no cuspe 
cifrar a possibilidade do leitor entender 
fazer pastiche de dadaísmo cruzado com budismo
não nascer para nascer 

6/26/2025

notas para sukeban

seifuku gangues
city pop
anos 60 a 80
urbanização veloz
normas patriarcais e misoginia (redundância?) 
tensões sociais
crimes da juventude 
esploitation 
pink violence
bokkens 
desexualização na marra

6/24/2025

Coisas Deleitáveis

Inspirado num texto da Izabela Cosenza

Escrever listas, poemas, prosas, pastiches, pinturas, devaneios, preguiças, desesperos, nasceres e morreres, palavras difíceis, inventar palavras, destruir palavras, palavras, sentenças, orações, a língua portuguesa, sotaque português, sotaque nordestino e nortista, gírias mil, palavrões cabeludos e hirsutos, referências de obscuras ao pop, contradições matemáticas, os bigodes de Nietzsche, de Cruz e Sousa e de Machado de Assis, o erotismo de Gilka Machado, chamar Gilka Machado de vó, rimas da classe mais baixa, a métrica, o verso branco, o cativo e o livre, sinestesias lisérgicas, descobrir bandas ou cantores depressivos, fumar maconha para ouvir música, descobrir escritores anônimos geniais, comer nuts enquanto assisto MasterChef, acertar um combo bom em Mortal Kombat, andar de moto na chuva, construir algo e depois olhar pensando: "fui eu que fiz essa porra!", aprender coisas novas só porque sim, hiperfocar na Segunda Guerra, dar paulada na cabeça de nazista, tocar bossa nova, aprender um acorde complicado, decassílabos simétricos, versos que fecham com Satã, mitologias judaico-cristãs, versos de Cartola, melodias do Tom, gatos gordos se espreguiçando, poetisas intensas, poetisas rasas, poetas gays, poetas atormentados, espelhos antigos, ciências ocultas, misticismos regionais, a ambiguidade da palavra essência, corrigir métrica e sintaxe, riff de contrabaixo minimalista, o Delta Blues, rir de humor de constrangimento tipo The Office, buscar referências em obras musicais e de literatura, entender como funciona algo mecânico, customizar coisas incustomizáveis, acordes dissonantes, contrastes absurdos, estereotipias sem culpa, pesquisar custo benefício, o dia que consegui casa própria, andar pelado em casa em dia de verão, fazer amor com amor, acompanhar o crescimento das plantas, o florir da flor de maio, ganhar algo para comer, comida apimentada, comer até explodir, psicodelias underground, cafuné para dormir, beijo afrodisíaco, conversar sobre algo que não sei com alguém que sabe muito mais, mulheres mais inteligentes que eu, livros antigos, cheiro de folha passada em mimeógrafo, proparoxítonas, mangás de ero-guro, filmes do estúdio Ghibli, sexos orais, bolo de aipim, cafezinho da tarde, ouvir meu nome da boca de quem tenho apreço, perfume amadeirado, ouvir declamar um poema meu, desenhar olhos em reunião,  ficar em casa a toa vendo vídeos no YouTube, jogar vídeo game quando quiser, organizar livros, fazer faxina ouvindo Smiths ou The Cure, morar no meio do mato, ser bicho do mato, a cor verde, provocar riso de criança com algo inesperado, fingir ser burro para alguém que eu amo se sentir mais confiante sobre si, peças de Shakespeare, solos de flauta doce, pudim bem feito, afinações abertas, mistérios do cosmos... 

6/22/2025

Chegou meu Cruz e Sousa de tardinha...

Chegou meu Cruz e Sousa de tardinha, 
não morto num vagão de tosco cargo, 
mas sim de motoboy, pra meu descargo, 
na mata que me escondo, tranquilinha... 

Lá foi... ficando eu, o livro e a minha
rudeza de animal queixudo e largo, 
talvez um ticos alto de letargo, 
mas sem bandeira dar do que obtinha... 

E o Cruz me olhando pávido na capa, 
sem me entender da uva, nem do vinho, 
mal sabe que comigo se esfarrapa

um outro livro seu, mas não sozinho, 
que os trago doutros tempos à socapa 
em pilhas numa estante em desalinho... 

6/17/2025

O sexo dos anjos

– Então você cresceu no Azul... 
– E você na Bêra do Rio, mas não é cria...
– Não sou? Cê tá de brincadeira... 
Os dois se olham fixamente. 
– Se liga, quando tinha operação era na porta de casa,  jogavam granada e tudo... 
– Tá, na Bêra eu via os traçantes passando na janela, morava no quinto andar... 
– No Azul tentavam esconder arma na lage, minha mãe discutia com os Meninos: "Olha minha filha aí, aqui não!" 
– Na Bêra, quando deviam na boca, eles amarravam cada mão num cavalo e arrastavam até o Pontilhão... 
– E lá em cima no Azul picavam, era um serrote cego, botavam num carrinho de mão... 
– É mesmo? Pois, se chegavam vivos no Pontilhão, enfiavam dentro de uns pneus e tocavam fogo, bem na travessia para o Brizolão! 
– Mas quando matavam o chefe do morro, arrancavam a cabeça lá encima, na Glória, e saiam desfilando com a cabeça, acho que o último lugar que via era na Bêra... 
– Impossível! Para de caô! 
Os dois se olham e dão de ombros. 
– Hoje esses Meninos não são de nada, não respeitam ninguém... 
– Concordo, época boa já foi, a do Lambari! 
– Lambari? O Vado foi muito melhor!... 
Entardece em nuvens pesadas de chumbo lentamente, 
que logo logo chove. 

6/15/2025

para compras de domingo

feijão
arroz ou macarrão
açúcar
milho para pipoca

café 
leite 
margarina 
se macarrão 
queijo 
se arroz 
iogurte

cebola
pimentão 
cenoura 
batata ou inhame 
se batata 
inglesa ou doce 
couve ou brócolis 
se couve
proteína de porco 
se brócolis 
proteína de frango 

banana da terra
manga tommy 
fruta do conde 

páprica defumada, picante e comum 
alho 
pimenta e cominho 
canela
cheiro verde
coentro 

água sanitária 
desinfetante neutro
sabão em pó 

chocolate
nuts! 

6/12/2025

O Movimento contra Ozomi

Soltaram fogos como alerta
numa tardinha de quinta-feira
e os Meninos do Movimento
com suas armas, com seus reflexos, 
correram becos, abandonaram
seus chinelos, seus postos, suas bancas, 
para responder à altura, 
porque lá vem Ozomi... 

E Ozomi com suas armas, 
com suas fardas, com suas contas, 
com seus salários, suas famílias, 
com suas ordens, seus deveres, 
com continências, suas amantes, 
com seus pecados chegam no susto,
sem marcar a hora
da morte. 

Sempre cai mais dos Meninos, 
sempre cai mais dessa cor, 
sempre cai que nem biscoito,
se perdem um vem dezoito...

Depois da onda voltam pra casa, 
tanto Ozomi como os Meninos, 
comem seus pratos, suas mulheres, 
pedem a bença pros seus padrinhos, 
vão ao terreiro, vão à igreja, 
dormem cabreiros, na contenção
e quando acordam tomam seus postos,
com suas armas, suas rotinas 
e jamais marcam a hora
da morte.

6/10/2025

notas para "algo ritmos"

versos programados em vidmac
desinstagramáveis
suprimir emoções
emular sensações
simbolismo contemporâneo(?) 
propor o sentimento da máquina 
agir como máquina (laboratório mecânico?) 
ser feito coisa
isto este aquilo
emular emoções 
suprimir sensações 
flow e não fluxo 
uso de caixa baixa predominante 
computar-se 
explorar-se em terminologias contemporâneas 
jargões de Internet 
provocações ambíguas + metalinguísticas
não obter resultados estatísticos 
prompt minimalista 
interface opositora 

6/09/2025

9 de Junho

É véspera da morte, rememora
a pátria que pariste, Vate Caolho,
prepara algum lençol e põe de molho
nas lágrimas da Tágide que chora;

que inveja dessa gente que decora
a música que molha a tez do abrolho, 
por onde compuseste teu refolho
ao mar que n'alma fere a dor da aurora,

reclamo a mim também essa orfandade
e o luto, que enferruja as línguas, há de
plangir da renascença assinalada 

o tom que vai contigo, moribundo,
e mesmo cá distante em novo mundo 
encontra ressonância desprezada!...

6/08/2025

À Manicure

Em teus ouvidos curam-se as carências
daquelas saturadas das cidades, 
curvando tua coluna, em penitências, 
recontas pelos dedos as idades

que marcam teus horários nas urgências
do teu convento móvel, soledades
que atendes cutilando confidências
distintas, mas iguais em densidades... 

Das cores? Vinte telas que matizas, 
não sem antes moldar em formas lisas;
quadradas, curvilíneas, estiletos 

da prática de antigas outras monjas, 
que herdaste, merecidas as lisonjas
que tingem os teus lindos olhos pretos! 

6/06/2025

Agora Inês é morta

É tarde, do cajueiro a sombra dorme
deitada ao longo córrego da mágoa
que traz nos seus soluços, que se enxágua
na espuma cintilante pluriforme ... 

Rancor! Um rasgo púrpura na espádua
nos dilacera vago e desconforme - 
distinta larva rubra e liquiforme
que freme, que se infiltra forte e fátua

e rememora fundo, cava, desce
aos círculos sinistros e acontece, 
prolífera e ranúncula e urbígena

ramificada em músculos repulsa, 
se expele perfumosa e reconvulsa 
orgásmica, perene, polacígena! 

6/05/2025

Ramal Roxo

Ao lado da craveira dos trilhos
temos nossos barracos
e dentro: cabeças de peixes
nas mãos de nossas viúvas, 
os lenços gordurados 
fazem nós nos cabelos cinza, 
restritos de luz solar, 
contidos... 
Nos domingos de canela de fogo, 
justos e eleitos
evangelizam pelos becos 
das nossas satânicas dores
para Aquele que carece das primícias
dos nossos centavos sujos, 
noutro descarrego
expulsam nossos ancestrais, 
pisam, dão bicos nos utensílios
da nossa memória... 
Ambicionam
os seus restos de tábuas de construção,
seus restos de outdoor e placas de trânsito, 
seus restos do que sobramos, 
tão nossos... 
esses que levantam nossa austera Jericó, 
que dela chora o Josué
com sua trombeta cega, cínica, 
nela ajoelha e silencia
antecedendo o gemido gutural 
que implode seu Verbo
impotente e desbenigno
por contemplar nossa face real.

6/04/2025

80 plus vs cybenetics

pesquisa de fontes custo benefício 

garantia extensa

quando o fabricante tem confiança em seu projeto ele fornece mais de um ano de garantia

é notável a manipulação do sistema de selo 80 plus 
fabricantes podem usar plataformas diferentes e projetos diferentes dos que foram apresentados para o selo 80 plus com o intuito de baratear o produto
pois não há fiscalização do mesmo
problema esse resolvido com a abordagem clara do selo cybenetics
que fornece a lista completa de todos os componentes de um projeto de fonte certificado
impossibilitando a mudança 
sem que haja atualização da lista

amperagem como fator de qualidade

potência (W) = corrente (A) . tensão (V)


exemplo - 850w = 70,8A . 12V
 
Opções de projetos         *selo cybenetics 
 
nome                    volts          sc*            R$       loja

p550b gigabite     550w         bronze      359      magalu

xpg pylon             650w         silver        349      magalu

6/03/2025

Manual do Minotauro

E esse blogue de tiras da Laerte? 
que achado, nele tudo é bem servido... 
a novidade hermética que aperte 
o seu tronxo bolado bem lambido!

Transvó! Certa a poesia que te converte 
nesse teu traço tão desentupido, 
que do ácido me ferve teu "desperte" 
da droga que me faz ser comprimido. 

Eu não sei se ela tá careta agora, 
tanto faz qualé a fuga que vigora, 
só preciso escrever mais uma estrofe... 

E que mulher, que artista, que gogó! 
nem Moebios Madureira, seu xodó,
deixou tão belo e vasto estrogonofe! 

6/02/2025

CEP 20785-080

Passei dos 16 aos 22
por alguns números
na rua Álvares de Azevedo, 
da fábrica Chinezinho, 
da casa de minha tia Jô 
e do meu amor morena, 
da travessia para a escola Rio de Janeiro 
para o postinho da Xuxa... 

Naquela época era impossível 
compreender minha própria lira. 

Na aula de literatura brasileira 
sobre o Mal do Século, 
no presídio-escola Delfim Moreira, 
percebi que eu era aquela rua
e decidi assim rotular meu verso 
por falta da concepção de estética, 
encantado com a tragédia do nome 
daquela rua, daquele poeta 
que eu queria ser, que já era, 
também eu tinha tanta tragédia... 

Naquela época só era possível
compreender minha própria ira. 

6/01/2025

Avulsos Atípicos VIII

I

Abstraio longamente os instantes com minha raquete eletrônica, 
produzindo estalidos faiscantes da mosca mais antagônica. 

II

Carma ruim. Voltarei mosca
e não haverá mais sopa
para meu esporte olímpico... 

Outra ideia tem sido uma fosca
rima aberrante que tropa
num dobro de passo cínico...

III

O SUS é tipo um cassino, 
que acaso a casa se distraia, 
nós conseguimos destino 
com os outros da nossa laia. 

IV

Ai, que me consterna um odor, 
se aquele me tange à memória, 
e chapo aboletado na cor, 
se dela confesso uma história... 

V

Uma semana antes viro helminto 
trançado num casulo biliar, 
na espera infernal que pressinto 
que algo inda vai me chegar. 

Me ferve do estômago o domo, 
não há Sonrisal que combata
com força essa ânsia que como, 
que não me abandona, nem mata. 

VI

Noutra das minhas vidas 
onde um gerente da Adidas 
me julgava para o tronco, 

gestei da dúvida, em suma, 
se ir com meu grunge Puma
dava ares de ser bronco, 

foi prodígio de surpresa
que ninguém naquela mesa
perguntasse sobre a afronta, 

que fingi por simpatia 
que meu tênis nem sabia 
da piada quase pronta. 

VII

Queria nascer, simplesmente, 
e não me entender por nascido, 
trocar o arcabouço da mente 
por qualquer lodaçal curtido,

caçar na savana ou na neve, 
ter prole, um ninho, uma toca
e nunca reter nem de leve
mais nada que verba e provoca...