agosto 11, 2025

Me enterre em Inhaúma

de fones...

Se puder, perto da vó Joana,
ou da tia Raquel...
Tendo condições;
um ônibus da Braso Lisboa,
acho que um basta.

Não levem violão,
alguém vai puxar alguma da Legião.
Ponha pra tocar numa JBL;
Revolver dos Beatles,
depois um ao Vivo do Zeca.

Tenha comes e bebes,
caso alguém chore dê cachaça.
Se ninguém chorar
dê cachaça.

Defume, defume a capela,
queime muitas flores de Cannabis 
e incensos com aroma de café.

agosto 10, 2025

é só linguagem, fia

     a       métricamétrica
    r b              r
    i abra         i
   m ab abra m
   a abr b abr a
             a r
               a  
                 s
                  u a
             ca 
                b
                eça.  
                        .
                       .

agosto 09, 2025

Carta XIV

Ando projetando meu espírito. Daqui dali colhendo, mastigando, refazendo, perseguindo linguagens do metatradutor que almejo.
De manhã, desde que fui ao neuro, fico status: lento (- 10% movimento) (+ 50% percepção), oráculo sustenido, mas desassociado, pulo fora da canção, do tempo, átono. 
Compreendes, eu vejo, julgo ver... suponho tua empatia e confiança, agora que em teus ombros repouso a voz, testo a imagem límpida e a suja, que te insira na paisagem, quando a beleza vier montar o espetáculo de outono. Sempre outono é lindo, mas sem teus olhos é só folha seca, mofo contradito, qualquer alegoria que é finita em si e acontece longe. Livre arbítrio que nada, somente há o que há de ser e sendo basta... basta, né? A beleza não conhece o natural e o fictício, nós que lhe pomos roupas, que escolhemos botas ou scarpins.
O que fizemos nós dois de nós mesmos? Se a vida é isto ou aquilo outro, se lá desce aos círculos de lirismos medievais, se aqui sobe escadas de plasma a dar mata leão em anjo, se em tudo se desdobra  incessante porque, e só porque, estamos vendo, documentando, dando ângulos, profundidade, textura, enquanto somos. Bem, a qual lugar cheguei aqui? 
É próprio dos doidinhos confessar seus vaticínios, o riso nos comove, aguarde o fim. 
Finjo não ser ingênuo, ao menos não em aspectos medianos de ingenuidade. Comprei um Rimbaud seminovo, agora está no centro logístico de São João de Meriti, passando de mão em mão na Abissínia carioca, vou desposá-lo em breve. Verlaine que não saiba, careca fudido!
Já viste o filme Ágora de 2009, com Rachel Weisz? Essa semana fiquei stalkeando Hipátia de Alexandria, como ninguém nota Shakespeare de autor-fantasma nessa história? Então, compus uns decassílabos pensando em ti, espero que goste, mesmo traçando paralelos com outra mulher que foi brutalizada violentamente, goste, ok?
No mais, é isso, meu bem.

agosto 08, 2025

III

Entra, Noite! Se foi da casa a luz,
as sombras trocam beijos e insultos
nas cantos invertidos pela cruz,
de gozo por satânicos ocultos.

Espalha-me no piche, no naquim —
truncados os meus braços nós de pinho,
essências de lembranças carmesim
que traz-me no tropel de um torvelinho.

E que prazer dorido a fome canta
mordendo-me na língua em tom tão grave,
tão grave quanto o peito de uma santa
que nunca fora aberto pela chave...

E a Noite, toda em renda, flutuante,
dos círculos de brisa deletéria,
emerge rebordosa e cintilante 
e cobre-me com toda antimatéria!

agosto 07, 2025

Para seus óculos

Voltaste para ler meu corpo inteiro
depois de me prender, de ser quem és...
E agora, que me deste paradeiro, 
mantendo-me pisado por teus pés?

E agora, que contei teu fevereiro,
embora dissidente, mais de dez...
Que importa a quantidade, se primeiro
a qualidade mostra o seu viés?

Que importa o dia do mês ou da semana
pra quem não fez, na vida, mais que os planos,
pra quem não quer saber que tudo engana –

quer sejam desprazeres quotidianos,
quer seja a mesma bossa, a mesma gana –
que importa, para nós, a luz dos anos?

agosto 06, 2025

pq?

pq pq vc quer ser útil
pq
vc       
quer              ?
ser  
útil                ?

agosto 05, 2025

Insolação

Que tenho, que essa febre não desiste?
Que alucino analemas no infinito
da sanha dos seus olhos e acredito 
no verão, que é verão porque pediste...

Que tenho, que confundo se resiste
a mesma febre estranha? Que esquisito —
não vou? — aceito — não quero? — permito —
não sei se é mesmo amor, se o amor existe...

Ah, céu! Por que não cai? Por que me luz
tão vivo, que mais vida reproduz 
em tudo que me fere e me aprisiona?

Ah, Sol! Talvez nem saibas que sou teu...
deixa estar — vai passar — aconteceu —
precisando, tomo outra Dipirona.

agosto 04, 2025

para-quedas


                    v
                        e
                    i
                       o
                na ponta
                da língua 
                 dizer-te:       
         — senti tua falta 
                       e
                      foi
                         t
                           a
                        n
                      t
                        o

                no passo 
                o silêncio 
               no espaço 
                      um
                        p
                        r
                        a
                        n
                        t
                        o