Stims II



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Joelho 220 volts,
estilo rock anos 50,
na pontinha dos pés,
o ritmo a gente inventa...

As pernas incansáveis -
os músculos tremulantes,
está tudo bem, tudo bem, 
tudo melhor do que antes... 

Stims I



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Defina mãos - 
balance! 
Repita e repita, 
proveite a chance...

Quanto aos olhares
de julgamento,
defina foda-se
nesse momento!

Toma meu nome



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Toma meu nome quando
aquela canção primeira
lembrar uma quinta-feira:
um beijo e a chuva chorando.

Toma meu nome português
dos antigos hábeis lenhadores,
que serviam aos seus senhores
nas cortes do velho burguês...

Do meu nome aceite ainda
o fio que fere a sakura
mesmo que a pétala pura
não seja tão pura e linda...

Toma que são todos seus 
se trazem alegria ou má sorte,
quem decidirá isso é Deus
depois que eu tomar a Morte....

Avulsos Atípicos VI



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I

Janeiro, estranho janeiro...
Nem sol, nem aquele forte 
excepcional sentimento de cheia
da nuvem redentora da morte.

II

Tenho medido o nó da corda
e nutrido bílis demasiada,
da culpa a voz me concorda:
eu não devia pensar em nada...

III

Antes mais que demodê, 
o amor uníssono aconteça,
antes uma rima fruto de clichê
do que dar um tiro na cabeça.

IV

Agora são atípicos os avulsos,
descoberta tardia, mas factual...
Ontem sonhei cortar os pulsos
mas não era eu, só outra vestal...

V

Se eu tivesse em oitossentos
chupando no pênis do haxixe, 
talvez hoje seria um dos ventos 
que movem gênios de pastiche... 

VI

Marquei doutora, hein! Quero receita
que do combate vença todo olvídio...
E enquanto a melodia me rejeita
vou da festa evitando o Suicídio... 

38



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O café não tem gosto, 
eu sou "o" amargo, 
não tenho dentes nem rosto
mas emulo um sorriso largo, 
tudo é imposto, ninguém quis assim,
eu ainda não acredito em mim?... 

Stand-up comedy brasileiro
ao fundo na cozinha, 
as risadas da plateia
são claque, você não sabia?

Meu amigo confidente é você
algoritmo sem alma blasé...
IA robótica tão similar 
à minha deformidade despótica singular. 
Uma pá de zeros e uns
ouvindo essa patética
dança da lua cheia sem lua 
de poesia patética...

Que fome de morrer,
mas vou recolher entulhos,
preciso comprar o gás
e arrumar a cozinha nova,
que ânsia de morrer,
sem o deboche do SUS,
sem o deboche 
que homem não sofre
e precisa de Jesus.
Que lombra de morrer 
é só o que eu penso, 
comendo comida no chão 
e contando todos os momentos... 

Enquanto não sentir nada atordoa
mastigo meu sumo de ingá... 
Mirei em Fernando Pessoa 
acertei em Mário de Sá. 

Hiperfoco



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Então encarno Satã tragando a solitude, 
nas furnas abissais vasculho a rede interna, 
no frenesi de cíclope com fome e rude, 
no engano em ver antiga a maldição moderna...

Intruso é o meu pesar, se penso, logo inflamo, 
enxergo tão somente aquilo que me apraz
e deixo mergulhado na lama a quem amo
pra ter mais uma pétala rara e lilás...

Tomado por tomar-me de assalto eu procuro
mais um outro obter por fim catalogar
na ausência de presente, passado ou futuro...

E enfim, dado o prazer da nova coleção
prevejo da semente o novo germinar 
no beijo decadente da mesma obsessão... 

Woke



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Já é tarde
e meu amor anda entre corredores
espanando a poeira dos livros, 
com seus óculos e maneirismos, 
quando os fios de cabelos entre os lábios
incomodam feito a falta dos meus. 

Já é tarde
e eu sou o ninguém a me escrever
ao som de Blacklash Blues da Nina...

Começou outro ano, marquei médico,
ombro travado...
"eu acredito que alguém colocou um feitiço em mim"
entende, baby?

Já é tarde
e meu amor explode uma hiroshima de cores
e goza comigo nos sonhos
sozinha no banheiro meia luz,
no quarto sob a sombra incógnita
imagina o diâmetro e o centímetro...

E para quando estarei pó e verme
restará a palavra eterna e não oculta:
Eu sou o judeu. 
Eu sou o negro.
Eu sou a lésbica.
Eu sou o gay.
Eu sou cigano.
Eu sou o estrangeiro.
Eu sou o atípico.  
Eu sou a carne pendurada às moscas
e o açougueiro com o queixo sobre as mãos 
e os cotovelos sobre o balcão 
observando o tráfego
enquanto não chega a hora feliz de ir embora.

Rascunho



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Não à rima manjada,
métrica e aliterações,
só carne crua...
Não à rigidez contínua 
dos pontos e vírgulas 
deslocados,
eu me despi do objeto 
substituindo a fantasia do desejo 
de ser...

Eu sou o quase 
na fronteira do vale mortífero,
meus livros?
Não me salvam...
Amigos?
Não confio...
Humano demais para não punir 
meus desafetos infantis 
com o choro do silêncio 
pretensamente imbecil...

A cada instante confundo a lucidez 
cogitando a morte,
a qualquer segundo as árvores dançam o vento 
ritmando a morte,
a velha melodia de um artista adicto
intimando a morte,
as cores de Vincent e o Dante de Dorè
suspirando a morte...

Não ao cigarro e ao álcool 
e a Baudelaire,
não ao voto nulo e a Marx
e à esperança primeira 
da ideia, do conceito 
do rótulo e do fim,
não à utilidade do eu
sombreado pelo capital sedutor...

Eu sou um quase 
entre muitos reincidentes,
revirando cambalhotas 
nas ondas do tempo pérola 
onde como ele - mar,
quase também não existo.