julho 21, 2025

A Justa

Se sabes, cara dama, deste vate
a quantos anda o pulso, que não meço,
que aqui não há limite, te confesso
que nada disto é amor, mas sim combate!

Contrário a me poupar de todo abate,
desnudo o elmo e a malha, me ofereço
sabendo ser lançado, te obedeço,
e mesmo que tal feito, então, me mate...

Servi-la, que servir é minha sina,
será, por mais complexa a toxina,
melhor que não te ver, não te escutar...

Não sabes como entendo essa fraqueza 
de ser mais desejada que a certeza 
de ter alguém pra quem se declarar...

julho 19, 2025

Handroanthus Albus

Ou poemas dedicados ao Sol
 
Jamais direi, não mesmo. Se disser
do arrepio adocicado que provoca
a simples assonância da tua boca,
que diz-me tudo aquilo que se quer.

Não digo, e sem dizer nada sequer
lacuno uma certeza que me choca,
e o quadro que te beijo se desfoca
na lente do silêncio que é não ter.

Espero que desflore a primavera,
que agora furta cores de quimera
no lance que acontece — que castigo!

Que néctar de sol borboleteio!
Que febre, que luxúria, que tonteio!
Que nunca te direi, que te não digo...

julho 17, 2025

Ode ao Fogueteiro

Salve, moleque - 
canela russa, 
cara de qualquer coisa, 
estagiário do Movimento. 

Acende o de 12 
e corre, não, 
e voa
antes que sua mãe chore... 

De radinho na esquina 
vai avisando, 
vai zolhando, 
vai fumando, 
vai contando, 
vai comprando quentinha... 

Salve, de menor, 
com a cara de ruim, 
invisível, mas ruim, 
que se vê só quando é ruim, 
que ilustra capa, 
que vende matéria, 
que não tem matéria.

De radinho na entrada, 
fica segurando, 
fica aprontando, 
fica não sonhando, 
fica e vai ficando... 

Salve, cheira-cola! 
que te deram
teu ferro agora, 
que pra ser homem tem hora, 
que te deram sentido
na margem do sentido. 

E quando você faz
o que todo mundo sabe
que você vai fazer 
a culpa é só tua... 
A vida simplesmente continua. 

julho 16, 2025

Eu não-lírico

Não confie no meu eu não-lírico, 
que ele não te revela o presente, 
que ele não finge, não mente,
que ele não é.

Não confie no meu eu não-lírico, 
que ele dorme, erra, faz-não-faz,
que ele teme aproximar-se demais
do que ele é.

Ai, meu eu não-lírico vai longe
buscar o dicionário, o dicionário!...
Tropeça — unha encravada — caralho!
que dor! 

Ah, esse meu eu não-lírico, garoto
míope! anedônico! presunçoso!
carne, finito, parco, meloso
de amor...

julho 14, 2025

notas para o sobrado/gato

tubo de 40
4 joelhos de 40
tubo de 20
8 joelhos de 20
teflon 
cola tubo

2 metros de areia 
2 metros de areola
2 metros de brita n° 2

36 sacos de cimento 
10 sacos de graffilito
1500 tijolos de 30
500 tijolos de 20

cabo 10,0mm duplex 
neutro isolado
50 metros
4 conectores perfurantes
entrada de 70 saída de 10
duas alças
caso seja possível
aproveitar alguma alça do poste

julho 13, 2025

O Programador

Acorda Deus, é sábado, vem para fora 
do cobertor Nirvana... presto, seja vivo! 
recola um retrô pôster bem figurativo
no Teu quarto de caos, de estática! Vambora! 

Põe Teus chinelos, verba a Voz, acende o Agora, 
flanela o curvo óculos definitivo, 
encontra em existir Teu cínico motivo, 
dichava Teu badego, vem Nossa Senhora!...

Pois liga o Teu PC que, singular, explode
num boot tão veloz, que distorcendo a luz
imagifica o Tudo com Seu hack mode, 

também vê Teus recados de orações em flux, 
enquanto clica a Terra, e pensa no bigode
do próximo avatar com nome de Jesus!...

julho 11, 2025

arno extreme force breeze poetry

vol 1

leve zéfiro ameaça levantar a página de "uma estadia no inferno e iluminuras" suave baforeja na pele o carinho intermitente e causa sono

vol 2

já espanta mosca já refresca já se supõe que as oito pás enterram um mormaço morno porém naturalmente o meio termo nunca é tido como opção

vol 3

potência de existir que esgota a força o sentido a vontade que regela e se faz presente no desejo da maioria que respira a meta total da vitória 

desl

mudez descanso (in)finito

julho 10, 2025

XV Os pássaros

No meu dissimular de déjà vu, 
tentei justificar um vaticino, 
onde retorcia um homem-bem-te-vi 
de dor sobre a soleira, ao sol a pino, 

tomei teu corpo pobre, e me atrevi 
cuidar-te as asas quedas de menino, 
depois dei-te ao biquinho, que previ 
tomar de toda boca algo ferino, 

a carne do meu pão recém partido, 
o sangue que um milagre fez ungido 
por tantos passarinhos machucados, 

e a mim? não resta mais que ver partir, 
assim como chegaste, podes ir, 
agora que não tens pra que cuidados...