8/05/2025

Insolação

Que tenho, que essa febre não desiste?
Que alucino analemas no infinito
da sanha dos seus olhos e acredito 
no verão, que é verão porque pediste...

Que tenho, que confundo se resiste
a mesma febre estranha? Que esquisito —
não vou? — aceito — não quero? — permito —
não sei se é mesmo amor, se o amor existe...

Ah, céu! Por que não cai? Por que me luz
tão vivo, que mais vida reproduz 
em tudo que me fere e me aprisiona?

Ah, Sol! Talvez nem saibas que sou teu...
deixa estar — vai passar — aconteceu —
precisando, tomo outra Dipirona.

8/04/2025

para-quedas


                    v
                        e
                    i
                       o
                na ponta
                da língua 
                 dizer-te:       
         — senti tua falta 
                       e
                      foi
                         t
                           a
                        n
                      t
                        o

                no passo 
                o silêncio 
               no espaço 
                      um
                        p
                        r
                        a
                        n
                        t
                        o

8/03/2025

soneto

outro soneto? 
                        não sei,
                                      tem sido falho...
obsoleto?
        pensei,
              e me atrapalho...
              
outro soneto 
                       te dei,
           que       
                  me e s mi ga l     h     o.     .           .

me apaixonei?
                        dancei —
                                    que do caralho!

8/01/2025

Trégua

São dez horas da noite, quinta-feira.
Depois de carburar um mato fino,
dei play no Spotify —  tirei seu pino,
granada defensiva e verdadeira,

e aqui te segurei, nessa trincheira —
e nada de explodir nenhum destino,
e nada a reportar, nada sanguino,
e nada de cruzar uma fronteira!...

Já vamos para as onze. Vamos indo 
sonhar não despertar, dormir sorrindo,
meu coração culpado e belicoso,

ouvir teu metralhar desafinado
tem sido um disparate delicado,
tem sido um desespero valoroso!

7/31/2025

Metalinguagem

Palavra por palavra. Tudo dito
na fração dos segundos, um recorte
sobre o que se mantém confesso e forte
e tão contraditório, tão bonito...

Palavra bem pensada, sem conflito,
que vem tão natural, sem passaporte 
na escala musical, dançada à sorte 
do blues desta cintura — requisito 

que atende à descoberta rediviva 
do acorde relicário, que te viza
vibrando nos ouvidos, sem que cale,

mas não sem consentir, tão bela e viva,
que a boca da palavra, assim, precisa,
te chegue devagar, te beije e fale...

7/28/2025

Prenúncio

Se sei que sabes bem? Não subestimo 
total capacidade e raciocínio
em desatar meus nós, mas me lastimo; 
fiquei na mira fácil e por fascínio...

O vento colhe as cores no escrutínio
das pétalas douradas ao vindimo...
E eu fico aqui culpado, sem domínio 
vou me desfalecendo em desarrimo

e lembro de cifrar que a seca finda 
no prenúncio da chuva e da fanfarra
do sol que traz verão, que vibra a linda

canção de mais amar, soror guitarra
tocada de tensão, de dor ainda,
que tende a ser timbrar de uma cigarra...

7/25/2025

Esperança

Existe alguma força compulsante
que pode me esmagar um sentimento?
Um rolo compressor, assim, gigante
que planifique a dor deste momento?

Amor? Quando a certeza é delirante 
e faz da voz o embargo mais sedento?
Amor? Quando a paixão é sufocante
e fez arfar meu peito descontento?

Eu tive poucas chances como agora 
e como agora o tempo, que me alcança,
revela que há bem mais, que mais vigora 

enquanto essa paixão perdura e avança —
tão crente que não posso ir embora, 
tão crente que já tive uma Esperança...

7/24/2025

Voragens

Que faço se as voragens não me largam?
Reduto da paixão, quanto padeço 
e pago novamente um caro preço
por um papel de versos que te amargam...

Reduto da paixão, me dê teu preço,
um preço para os braços que te largam,
vitrine de sonetos que me amargam
no corte dos pedaços que padeço...

Bonito isso a dúvida, não vês
que tudo se repete ou contradiz
e volta a te dizer mais outra vez

e assim dizendo vai e não prediz
aquilo que produz no que tu vês,
que não dizendo diz o que te diz...