Carta X



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Vem, sumo de caju, conversemos sobre aquilo. 
Eu disse te amar crendo proferir um encantamento medieval, um desejo de que o mundo físico se modificasse, tenho a meu lado o fato neurológico que explica: gente jovem faz merda, fizemos. Era ou não era alquimia? 
Aqui seremos francos, aquele teatro infantil machucou a nós três, que protagonistas amadores!(aqui, esqueci da quarta criatura, a do teu lado). Dediquei-te sonetos, espremi-te cravos e espinhas da alma, pesquisei-te o custo benéfico das juras, dos modismos contraculturais, dos romances dúbios, apoiei-te quando a tarde veio te apertar num canto. Vê lá, que poemas imensos cheios de erros gramaticais, de miopias e astigmatismos sintáticos, mãos ansiosas em conquistar-te ideal, a mais platônica das patologias... 
Longe de mim me eximir do conceito da culpa, mas na real, me perdoe, eu menti. E nos mentimos. Como bem disseste, nós. 
Não existe amor sem cumplicidade, sem aquela partilha de dor fúnebre ou riso escandaloso de piada duvidosa, sem o verme do bico de um para o outro, como, naturalmente, comem os bucólicos passarinhos. Veja que o exemplo que tive foi o dos meus pais - putz! 
Bem, como todo poeta... não, pera, não serei um canalha desse tipo, mas doutro! Errei e ponto. Penso ter acabado lá, mas talvez eu tenha deixado alguma semente murcha, que brotou uma flor moribunda, que te perfuma com os vapores de Delfos, deixando claro a alusão a algo entorpecente e nocivo. 
Olha, com todo respeito, mate esta flor dos infernos!
Agora, sabendo do peso da sua cruz, exponho-nos, deliberadamente. E digo para não dizer o oculto, aquilo que bem sabes. 
E tu, que chegas por aqui de soslaio, sabes de tudo, insuspeito leitor. Nós não. 
Pense, naquela época acontecia a revolução dos smartphones. 

arno extreme force breeze poetry



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vol 1

leve zéfiro ameaça levantar a página de "uma estadia no inferno e iluminuras" suave baforeja na pele o carinho intermitente e causa sono

vol 2

já espanta mosca já refresca já se supõe que as oito pás enterram um mormaço morno porém naturalmente o meio termo nunca é tido como opção

vol 3

potência de existir que esgota a força o sentido a vontade que regela e se faz presente no desejo da maioria que respira a meta total da vitória 

desl

mudez descanso (in)finito

XV Os pássaros



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No meu dissimular de déjà vu, 
tentei justificar um vaticino, 
onde retorcia um homem-bem-te-vi 
de dor sobre a soleira, ao sol a pino, 

tomei teu corpo pobre, e me atrevi 
cuidar-te as asas quedas de menino, 
depois dei-te ao biquinho, que previ 
tomar de toda boca algo ferino, 

a carne do meu pão recém partido, 
o sangue que um milagre fez ungido 
por tantos passarinhos machucados, 

e a mim? não resta mais que ver partir, 
assim como chegaste, podes ir, 
agora que não tens pra que cuidados... 

social ability killer



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no eyes no look
can't move can't see
  this is a thing
this is a situation for me

no eyes no look
can't love but can hate
  I can so much so far
  I can die and die and putrefy
can you feel me a natural reflex?
can't cry like human and confess

no mouth no voice
can't suffer from suffering
  bullet my honey eyes
  bullet my alien soul
we're dying just to lies 
there's no more shining
and green and white and nothing

Avulsos Pós-Punk XII



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I

– Enterrado Morto!
– Que tem? 
– Era o nome da página. 
– Ah... 
– Não é genial? 
– Nossa!... 
– Nunca mais te conto nada... 

II

– No cursinho fiz um PowerPoint com a discografia do Nick Drake!... 
– Parabéns, dividiu o átomo, né? 
– Você é igual minha mãe... 

III

– Eu andava com o W, então a turma do C veio me perseguir também.
– O que você fez?
– Levei um canivete do meu P.
– E aí?
– Fui expulso pela D.

IV

Ai, que mundo egoísta...
Ai, que o ser humano é mal por natureza...
Ai, que todo mundo faz isso...
Ai, me dê um tiro na boca! 

V

Pense em algo absurdo, 
fruto de meio milênio 
de administração inconstante 
onde os planos de governo
são descontinuados... 

Ouviram do Ipiranga às margens....

VI

(Faça voz de criança mimada, histriônica, 
de pais relapsos, alheia ao outro, alheia a si.) 

– Eu tenho o direito de gostar do Bigodinho! 
    É um país livre!! 

VII

Olha o aleijado, que engraçado! 
(Traduz-se por?) 

O macaco, o aidético, a bichona, a piranha! 
(Entre as entrelinhas, observe. ) 

Ora, mas querem censurar minha arte?! 
(Não importam os meios para o marketing. ) 

VIII

déos
prátrea
i fámêléa

IX

Olá! Prazer, Machado aqui. 
Não te cansa
essa necessidade moderna
de ter que se defender a tese 
do óbvio? 

Será cansaço? 
Será moderno? 
Será mesmo óbvio? 
Será o "será" será? 
................................ 
Necessidade? 




Aqui?! 

X

Preocupa-se não 
com lingua-
gem a f
om
e

the sovereign self



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metas = {
                 popular, invejável;
                 limpo, feliz;
                 célebre, sorrir;
                 poder, glória;
{
 
método = {
                    canibalizar, ostentar;
                    segregar, usurpar;
                    proclamar, morder;
                    impor, humilhar;
{

metas + método = tendência;
se tendência is true;
      pessimismo;
se tendência is false;
      otimismo;

Avulsos Pós-Punk XI



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I

– Adoro a boneca de Kafka... 
– Eu gostava da boneca da Xuxa. A Kafka passava onde? 
[claque] 

II

"Desde os primórdios do universo, 
(você sabe) , 
que a culpa do holocausto 
é de Paulo Freire! 
Salem
e o Massacre do Carandiru, 
Massacre de Mutantes, 
Massacre da Serra Elétrica, 
Massacre da Candelária, 
Massacre de Nanquim 
e outros pontos turísticos da história. 

Eu nunca li Paulo Freire,
mas dá tesão odiar quem defende Paulo Freire!
Paulo Freire Paulo Freire Paulo Freire... 
Ele! Que caiu com a terça parte dos anjos!"

III

Olha o gay atravessando na rua, 
olha a inclusão social, 
olha o professor comunista, 
olha o negro comprando um carro novo,
olha o trabalhador lendo um livro, 
olha a mulher tendo perspectiva, 
olha a igreja imitando Jesus - 
olha o favelado vivendo, 
todo mundo do seu lado no avião! 

IIII

E o Molejo Ultra-direitista? 

Mamadeira de piroca,
como é bom! 
como é bom! 

Hitler foi morrer na toca,
Franz Franz von! 
Franz Franz von! 

XIV



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Quando ao tocar-me a tez intumescente
supões que me dominas, acintoso, 
se regurgitas, dentro, teu mal gozo, 
boleando esse turíbulo dormente, 

sorrindo teu bigode, crente crente 
do olhar que te confesso, que amoroso 
não tiro do teu lábio mentiroso. 
Meu fauninho, ouça bem: abra tua mente! 

Pouco importa a luxúria que produzes, 
meu corpo já verteu por outras cruzes
muito sangue, mais vida, mais espasmo! 

Se me dou nesta noite, rumorosa, 
remida neste arroubo cor de rosa, 
né por ti, mas somente pelo orgasmo!!