15.7.25

Stims XVII

Nem melancolia, nem destempero, nem medida
por algum fio... 
Divago ânsias em órbita do abismo mais denso 
de tão vazio... 

Cansei de maldizer o dia que vim a nascer... 
num maio frio  
o Outono a me balançar cantigas no berço —
num tom sombrio... 

13.7.25

O Programador

Acorda Deus, é sábado, vem para fora 
do cobertor Nirvana... presto, seja vivo! 
recola um retrô pôster bem figurativo
no Teu quarto de caos, de estática! Vambora! 

Põe Teus chinelos, verba a Voz, acende o Agora, 
flanela o curvo óculos definitivo, 
encontra em existir Teu cínico motivo, 
dichava Teu badego, vem Nossa Senhora!...

Pois liga o Teu PC que, singular, explode
num boot tão veloz, que distorcendo a luz
imagifica o Tudo com Seu hack mode, 

também vê Teus recados de orações em flux, 
enquanto clica a Terra, e pensa no bigode
do próximo avatar com nome de Jesus!...

5.7.25

Stims XVI

Queria alucinar outra loucura, 
que não esta, 
roubar a pedra mor da ventura 
de uma testa, 

praticar magia mais obscura, 
mais modesta... 
ser não mais que uma criatura 
da floresta... 

3.7.25

Stims XV

O verso que não fiz 
não me diz nada, 
se não fiz, não veio a ser 
e se não há pé, não há estrada.

O verso que te fiz? 
Foi desse jeito:
acordei, tomei café, banho, saí... 
depois voltei com dor no peito. 

19.6.25

Stims XIV

Posiciona-se intrusivo, velhaco, urticante, cínico,
estrategicamente nas quinas etéreas
onde me cai todo nexo, 

esse susto, esse sopro, esse topo, esse tapa
que derruba o número oito 
recurvando o som do sentido. 

18.6.25

Stims XIII

Mimético inveterado, 
imito aquilo me apraz
ou seja; um doido dado
àquilo que um doido faz, 

por esse meu repeteco 
que rapto, que confisco, 
que desdo australopiteco 
arranho parede e disco... 

8.6.25

À Manicure

Em teus ouvidos curam-se as carências
daquelas saturadas das cidades, 
curvando tua coluna, em penitências, 
recontas pelos dedos as idades

que marcam teus horários nas urgências
do teu convento móvel, soledades
que atendes cutilando confidências
distintas, mas iguais em densidades... 

Das cores? Vinte telas que matizas, 
não sem antes moldar em formas lisas;
quadradas, curvilíneas, estiletos 

da prática de antigas outras monjas, 
que herdaste, merecidas as lisonjas
que tingem os teus lindos olhos pretos! 

3.6.25

Manual do Minotauro

Manual do Minotauro  
 
E esse sonho de tiras da Laerte? 
que achado, nele tudo é bem servido... 
a novidade hermética que aperte 
o seu tronxo bolado bem lambido!

Transvó! Certa a poesia que te converte 
nesse teu traço tão desentupido, 
que do ácido me ferve teu "desperte" 
da droga que me faz ser comprimido. 

Eu não sei se ela tá careta agora, 
tanto faz qualé a fuga que vigora, 
só preciso escrever mais uma estrofe... 

E que mulher, que artista, que gogó! 
nem Moebios Madureira, seu xodó,
deixou tão belo e vasto estrogonofe! 

13.5.25

Stims XII

Toda semana vasculho
nessa estreita plataforma
não o poema, mas a poesia:
essa que não se conforma,

essa que, cosmopolita, 
pretende evocar e morrer, 
té penso ser melancolia 
o que a rigidez vem reger. 

4.4.25

Stims XI

Da sensação o tempo percorrido
de quando os átomos chocam 
no afeto prazeroso e mantido
onde os dedos curiosos tocam...

Das ondas de acordes dissonantes
que vibram cordas de tessitura, 
no sexo que nos esconde instantes - 
permanência rara de textura!... 

13.3.25

Stims X

Cataplat! Estouram estilhaços
de confetes palavrões confusos
do eu lírico - patrão desses palhaços
que não têm nenhum dos parafusos...

Granada! E lá vai bomba - aplaudem
ao me explodir de raiva, mas poética - 
Ora, Sol! Que teus raios me saúdem
no fim dessa atração patética! 

12.3.25

Jacaré

Flutua o trem, compassa
embora ninguém faça 
menção de perder fé, 
depois de Del Castilho 
retorna à casa o filho:
teus trilhos - Jacaré! 

No Jaca que eu cresci 
de tudo quase eu vi, 
mas sem xisnovear, né? 
Eu lembro de um vizinho 
que teve um fim sozinho... 
teu forno - Jacaré! 

Que boldo perfumado! 
Incenso que é tragado
no encanto do oboé,
na feira tem farinha,
tem pedra e barraquinha
de flor prensada até...

Na Bêra do rio verde
qualquer herói se perde, 
té mesmo Ivanhoé, 
se rende e nada vê
Ricardo não-sei-quê - 
Saudades, Jacaré! 

11.3.25

Stims IX

Saturno, o senhor tem fome?
Tal de Goya te postou na Espanha,
não te culpo, mamãe me consome
fritando minha carne na banha...

Sofres de fúria, ah! Sartuninho
girando anéis de grã deidade,
teu outro nome? Eu adivinho:
Ansiedade! Ansiedade! Ansiedade!

8.3.25

Stims VIII

Quando ouvi tua melodia, 
febril flauta em Hamelin, 
lentamente conduzia 
a criança dentro em mim... 

Baile das comorbidades
e dancei com depressão... 
................................................ 
daí que veio toda paixão!

6.3.25

Stims VII

Distraio minha dor intrusa
com outra dor - essa fácil:
um espelho pra Medusa 
que é volátil e retrátil... 

Eu me machuco - confesso, 
e cravo as unhas no braço, 
esmurro às vezes, me impeço... 
não sei, mas faço... mas faço... 

5.3.25

Stims VI

Um disco retornável
que mastigo sem fim,
fico ali inalcançável:
Wave, do Tom Jobim. 

Em tempo intraduzível
quando a alma se descola
refugio o indescritível - 
melodias do Cartola! 

4.3.25

Stims V

Descobri pelas pesquisas
sobre neurodivergência,
que etiquetas nas camisas
é a raiz da delinquência...

Outra dose muito forte
é notícia que, na terra, 
etiquetas foram morte
e motivos para a guerra! 

3.3.25

Stims IV

Numerar esses poemas,
em romanos, em esquemas
como inventasse sentido
para o caos comprometido... 

Compor um estratagema
dar fôlego ao barro e tema
e dispor o indefinido
como se fosse concluído... 

8.2.25

Stims III

Ganhei um spinner do meu amor
rodei feliz, que prazer, que prazer! 
Quebrou...

Ganhei outro spinner do meu amor
girei sem parar, sem parar, outra vez
quebrou...

31.1.25

Stims II

Joelho 220 volts,
estilo rock anos 50,
na pontinha dos pés,
o ritmo a gente inventa...

As pernas incansáveis -
os músculos tremulantes,
está tudo bem, tudo bem, 
tudo melhor do que antes...