9/02/2025

XI

Adeus, Sol — nunca mais as lúdicas auroras... 
Adeus, Sol — belo, vivo, forte e bem disposto...
Adeus, Sol — sempre quase choro nessas horas...
Adeus, Sol — tudo sempre parte do suposto...

Adeus, Sol — leva minhas dores mais sonoras...
Adeus, Sol — bata em outro canto, em outro rosto...
Adeus, Sol — luz no riso triste das senhoras...
Adeus, Sol — faça um novo ninho, um novo posto...

Adeus, Sol — parte com teu divinal conceito!
Adeus, Sol — que esse estranho verso não tem jeito...
Adeus, Sol — que essa velha história se renova...

Adeus, Sol — livre, raro, e justo carmesim...
Adeus, Sol — dorme. Logo, logo, chega o fim...
Adeus, Sol —  (((     s  u  p  e  r  n  o  v  a       )))

8/13/2025

Relax

Pensar em ti somente e não dizer! 
repito para ser memorizado...
Silêncio... faço um verso cochichado
que quase some o som, que quer morrer...

Pensar em ti somente por prazer,
daquele bom prazer que é bem pensado —
que em tempo de partir quer nos prender,
que em tempo de prender tem libertado...

Pensar... isso somente... só isso basta?
Mas nada me responde e me devasta,
nem diz que estou errado, que vacilo...

Eu tento te deixar, eu me ameaço
e ponho o teu silêncio nesse traço —
e finjo ir dormir, assim... tranquilo...

8/12/2025

Stims XIX

Ao mesmo tempo que me fascinam 
esses, que julgo serem o que são, 
fico boquiaberto
ao que os conduz 

a serem o que são, assim, sendo vistos 
nesse espelho social adulterado... 
é tão óbvio o sol 
para quem luz?

8/07/2025

Para seus óculos

Voltaste para ler meu corpo inteiro
depois de me prender, de ser quem és...
E agora, que me deste paradeiro, 
mantendo-me pisado por teus pés?

E agora, que contei teu fevereiro,
embora dissidente, mais de dez...
Que importa a quantidade, se primeiro
a qualidade mostra o seu viés?

Que importa o dia do mês ou da semana
pra quem não fez, na vida, mais que os planos,
pra quem não quer saber que tudo engana –

quer sejam desprazeres quotidianos,
quer seja a mesma bossa, a mesma gana –
que importa, para nós, a luz dos anos?

8/05/2025

Insolação

Que tenho, que essa febre não desiste?
Que alucino analemas no infinito
da sanha dos seus olhos e acredito 
no verão, que é verão porque pediste...

Que tenho, que confundo se resiste
a mesma febre estranha? Que esquisito —
não vou? — aceito — não quero? — permito —
não sei se é mesmo amor, se o amor existe...

Ah, céu! Por que não cai? Por que me luz
tão vivo, que mais vida reproduz 
em tudo que me fere e me aprisiona?

Ah, Sol! Talvez nem saibas que sou teu...
deixa estar — vai passar — aconteceu —
precisando, tomo outra Dipirona.

7/28/2025

Prenúncio

Se sei que sabes bem? Não subestimo 
total capacidade e raciocínio
em desatar meus nós, mas me lastimo; 
fiquei na mira fácil e por fascínio...

O vento colhe as cores no escrutínio
das pétalas douradas ao vindimo...
E eu fico aqui culpado, sem domínio 
vou me desfalecendo em desarrimo

e lembro de cifrar que a seca finda 
no prenúncio da chuva e da fanfarra
do sol que traz verão, que vibra a linda

canção de mais amar, soror guitarra
tocada de tensão, de dor ainda,
que tende a ser timbrar de uma cigarra...

7/25/2025

Esperança

Existe alguma força compulsante
que pode me esmagar um sentimento?
Um rolo compressor, assim, gigante
que planifique a dor deste momento?

Amor? Quando a certeza é delirante 
e faz da voz o embargo mais sedento?
Amor? Quando a paixão é sufocante
e fez arfar meu peito descontento?

Eu tive poucas chances como agora 
e como agora o tempo, que me alcança,
revela que há bem mais, que mais vigora 

enquanto essa paixão perdura e avança —
tão crente que não posso ir embora, 
tão crente que já tive uma Esperança...

7/24/2025

Voragens

Que faço se as voragens não me largam?
Reduto da paixão, quanto padeço 
e pago novamente um caro preço
por um papel de versos que te amargam...

Reduto da paixão, me dê teu preço,
um preço para os braços que te largam,
vitrine de sonetos que me amargam
no corte dos pedaços que padeço...

Bonito isso a dúvida, não vês
que tudo se repete ou contradiz
e volta a te dizer mais outra vez

e assim dizendo vai e não prediz
aquilo que produz no que tu vês,
que não dizendo diz o que te diz...

7/23/2025

It's so cold

Abre, Inverno, seu corpo retinto,
desaba sobre o vale, romantiza
a tarde que mansinha vem, me pisa
que mais eu tremo, estalo e sinto 

e quebro retalhado, tanto instinto 
me ocorre transversal pela divisa 
e na espinha dorsal se cristaliza,
que a dor me fez melhor e mais distinto...

Rasga, Inverno Cálido, os instantes
que te conheci os olhos conflitantes 
da nova ambiguidade boreal,

que mais avanço e galgo, que te banco
nesse deserto estéril de tão branco,
tão branco quanto a Morte, quanto o Mal...

7/22/2025

Flâneur

Há algo. Não durmo. Clico teu perfil,
aumento a foto, pego-me sorrindo
olhando o teu fitar, que me despiu
fitando assim estático, me abrindo 

tão lento e mais que lento, feminil  
e morno me tragando, um trago infindo,
magnético, morno, lento, vil —
itálico, disperso, longe, lindo,

e o nublo olhar me fala, conversamos
sem nos dizer palavra, nos tocamos 
em closes afrontosos e soturnos,

e o anjo olhar me rende, me remove,
embora eu nada tenha que lhe prove,
além de uns decassílabos laburnos...

7/21/2025

A Justa

Se sabes, cara dama, deste vate
a quantos anda o pulso, que não meço,
que aqui não há limite, te confesso
que nada disto é amor, mas sim combate!

Contrário a me poupar de todo abate,
desnudo o elmo e a malha, me ofereço
sabendo ser lançado, te obedeço,
e mesmo que tal feito, então, me mate...

Servi-la, que servir é minha sina,
será, por mais complexa a toxina,
melhor que não te ver, não te escutar...

Não sabes como entendo essa fraqueza 
de ser mais desejada que a certeza 
de ter alguém pra quem se declarar...

7/19/2025

Handroanthus Albus

Ou poemas dedicados ao Sol
 
Jamais direi, não mesmo. Se disser
do arrepio adocicado que provoca
a simples assonância da tua boca,
que diz-me tudo aquilo que se quer.

Não digo, e sem dizer nada sequer
lacuno uma certeza que me choca,
e o quadro que te beijo se desfoca
na lente do silêncio que é não ter.

Espero que desflore a primavera,
que agora furta cores de quimera
no lance que acontece — que castigo!

Que néctar de sol borboleteio!
Que febre, que luxúria, que tonteio!
Que nunca te direi, que te não digo...

7/18/2025

Stims XVIII

Estou fadado ao feitiço 
de me ver no que saboreio 
e, pasme, tomar como indireta 
aquilo que, tonto, leio! 

E logo imagino o cenário 
em que alguém me põe no meio, 
pasmado e envaidecido 
daquilo que inventei, que creio... 

7/15/2025

Stims XVII

Nem melancolia, nem destempero, nem medida
por algum fio... 
Divago ânsias em órbita do abismo mais denso 
de tão vazio... 

Cansei de maldizer o dia que vim a nascer... 
num maio frio  
o Outono a me balançar cantigas no berço —
num tom sombrio... 

7/05/2025

Stims XVI

Queria alucinar outra loucura, 
que não esta, 
roubar a pedra mor da ventura 
de uma testa, 

praticar magia mais obscura, 
mais modesta... 
ser não mais que uma criatura 
da floresta... 

7/03/2025

Stims XV

O verso que não fiz 
não me diz nada, 
se não fiz, não veio a ser 
e se não há pé, não há estrada.

O verso que te fiz? 
Foi desse jeito:
acordei, tomei café, banho, saí... 
depois voltei com dor no peito. 

6/19/2025

Stims XIV

Posiciona-se intrusivo, velhaco, urticante, cínico,
estrategicamente nas quinas etéreas
onde me cai todo nexo, 

esse susto, esse sopro, esse topo, esse tapa
que derruba o número oito 
recurvando o som do sentido. 

6/18/2025

Stims XIII

Mimético inveterado, 
imito aquilo me apraz
ou seja; um doido dado
àquilo que um doido faz, 

por esse meu repeteco 
que rapto, que confisco, 
que desdo australopiteco 
arranho parede e disco... 

5/13/2025

Stims XII

Toda semana vasculho
nessa estreita plataforma
não o poema, mas a poesia:
essa que não se conforma,

essa que, cosmopolita, 
pretende evocar e morrer, 
té penso ser melancolia 
o que a rigidez vem reger. 

4/04/2025

Stims XI

Da sensação o tempo percorrido
de quando os átomos chocam 
no afeto prazeroso e mantido
onde os dedos curiosos tocam...

Das ondas de acordes dissonantes
que vibram cordas de tessitura, 
no sexo que nos esconde instantes - 
permanência rara de textura!... 

3/13/2025

Stims X

Cataplat! Estouram estilhaços
de confetes palavrões confusos
do eu lírico - patrão desses palhaços
que não têm nenhum dos parafusos...

Granada! E lá vai bomba - aplaudem
ao me explodir de raiva, mas poética - 
Ora, Sol! Que teus raios me saúdem
no fim dessa atração patética! 

3/11/2025

Stims IX

Saturno, o senhor tem fome?
Tal de Goya te postou na Espanha,
não te culpo, mamãe me consome
fritando minha carne na banha...

Sofres de fúria, ah! Sartuninho
girando anéis de grã deidade,
teu outro nome? Eu adivinho:
Ansiedade! Ansiedade! Ansiedade!

3/08/2025

Stims VIII

Quando ouvi tua melodia, 
febril flauta em Hamelin, 
lentamente conduzia 
a criança dentro em mim... 

Baile das comorbidades
e dancei com depressão... 
................................................ 
daí que veio toda paixão!

3/06/2025

Stims VII

Distraio minha dor intrusa
com outra dor - essa fácil:
um espelho pra Medusa 
que é volátil e retrátil... 

Eu me machuco - confesso, 
e cravo as unhas no braço, 
esmurro às vezes, me impeço... 
não sei, mas faço... mas faço... 

3/05/2025

Stims VI

Um disco retornável
que mastigo sem fim,
fico ali inalcançável:
Wave, do Tom Jobim. 

Em tempo intraduzível
quando a alma se descola
refugio o indescritível - 
melodias do Cartola! 

3/04/2025

Stims V

Descobri pelas pesquisas
sobre neurodivergência,
que etiquetas nas camisas
é a raiz da delinquência...

Outra dose muito forte
é notícia que, na terra, 
etiquetas foram morte
e motivos para a guerra! 

3/03/2025

Stims IV

Numerar esses poemas,
em romanos, em esquemas
como inventasse sentido
para o caos comprometido... 

Compor um estratagema
dar fôlego ao barro e tema
e dispor o indefinido
como se fosse concluído... 

2/08/2025

Stims III

Ganhei um spinner do meu amor
rodei feliz, que prazer, que prazer! 
Quebrou...

Ganhei outro spinner do meu amor
girei sem parar, sem parar, outra vez
quebrou...

1/31/2025

Stims II

Joelho 220 volts,
estilo rock anos 50,
na pontinha dos pés,
o ritmo a gente inventa...

As pernas incansáveis -
os músculos tremulantes,
está tudo bem, tudo bem, 
tudo melhor do que antes... 

Stims I

Defina mãos - 
balance! 
Repita e repita, 
proveite a chance...

Quanto aos olhares
de julgamento,
defina foda-se
nesse momento!