13.3.25

Stims X

Cataplat! Estouram estilhaços
de confetes palavrões confusos
do eu lírico - patrão desses palhaços
que não têm nenhum dos parafusos...

Granada! E lá vai bomba - aplaudem
ao me explodir de raiva, mas poética - 
Ora, Sol! Que teus raios me saúdem
no fim dessa atração patética! 

12.3.25

Jacaré

Flutua o trem, compassa
embora ninguém faça 
menção de perder fé, 
depois de Del Castilho 
retorna à casa o filho:
teus trilhos - Jacaré! 

No Jaca que eu cresci 
de tudo quase eu vi, 
mas sem xisnovear, né? 
Eu lembro de um vizinho 
que teve um fim sozinho... 
teu forno - Jacaré! 

Que boldo perfumado! 
Incenso que é tragado
no encanto do oboé,
na feira tem farinha,
tem pedra e barraquinha
de flor prensada até...

Na Bêra do rio verde
qualquer herói se perde, 
té mesmo Ivanhoé, 
se rende e nada vê
Ricardo não-sei-quê - 
Saudades, Jacaré! 

11.3.25

Stims IX

Saturno, o senhor tem fome?
Tal de Goya te postou na Espanha,
não te culpo, mamãe me consome
fritando minha carne na banha...

Sofres de fúria, ah! Sartuninho
girando anéis de grã deidade,
teu outro nome? Eu adivinho:
Ansiedade! Ansiedade! Ansiedade!

8.3.25

Stims VIII

Quando ouvi tua melodia, 
febril flauta em Hamelin, 
lentamente conduzia 
a criança dentro em mim... 

Baile das comorbidades
e dancei com depressão... 
................................................ 
daí que veio toda paixão!

6.3.25

Stims VII

Distraio minha dor intrusa
com outra dor - essa fácil:
um espelho pra Medusa 
que é volátil e retrátil... 

Eu me machuco - confesso, 
e cravo as unhas no braço, 
esmurro às vezes, me impeço... 
não sei, mas faço... mas faço... 

5.3.25

Stims VI

Um disco retornável
que mastigo sem fim,
fico ali inalcançável:
Wave, do Tom Jobim. 

Em tempo intraduzível
quando a alma se descola
refugio o indescritível - 
melodias do Cartola! 

4.3.25

Stims V

Descobri pelas pesquisas
sobre neurodivergência,
que etiquetas nas camisas
é a raiz da delinquência...

Outra dose muito forte
é notícia que, na terra, 
etiquetas foram morte
e motivos para a guerra! 

3.3.25

Stims IV

Numerar esses poemas,
em romanos, em esquemas
como inventasse sentido
para o caos comprometido... 

Compor um estratagema
dar fôlego ao barro e tema
e dispor o indefinido
como se fosse concluído... 

8.2.25

Stims III

Ganhei um spinner do meu amor
rodei feliz, que prazer, que prazer! 
Quebrou...

Ganhei outro spinner do meu amor
girei sem parar, sem parar, outra vez
quebrou...

31.1.25

Stims II

Joelho 220 volts,
estilo rock anos 50,
na pontinha dos pés,
o ritmo a gente inventa...

As pernas incansáveis -
os músculos tremulantes,
está tudo bem, tudo bem, 
tudo melhor do que antes... 

Stims I

Defina mãos - 
balance! 
Repita e repita, 
proveite a chance...

Quanto aos olhares
de julgamento,
defina foda-se
nesse momento!

13.8.15

Fora da zona habitável

A minha cabeça
dependurada
no mastro,
a minha cabeça
desfigurada,
um astro.

A minha cabeça
de sonho
desguarnecida.
A minha cabeça,
suponho,
planeta sem traço de vida.

31.5.15

Cronologia

Primeiro era o Espírito, todo ele preto, pairando sobre a meia noite. Verbo jovial e místico, empoleirado rebelde reverenciador dos libertinos mortos. Era detalhista dos simbolismos pós qualquer, tolo em meninice, fraco sublimado pela culpa, vomitório de caras paixonites desarticuladas, fanático por tudo que torpe lhe enaltecia o tédio mais fino, mais breve, mais falso. Sulcado pela ânsia venturosa de um desfecho ultra romântico, tencionava o suicídio por qualquer crise de tosse ou consciência; Ofélia boiando em fluído amniótico, um borra botas inveterado, que, embora mórbido e latente o seu intento engordasse, nunca o dera a cabo por nenhuma ação. Qual foi sua surpresa em descobrir-se, supondo que antes não soubera, que já não tinha em si, como prenúncio cru e lógico, as pistas apontando para seu crânio herdeiro de uma insanidade patriarcal, que já não metia nos bolsos seus prospectos encardidos de autopiedade e pretensa confissão. Bêbado arrogante até o talo. O hábito de cometer sandices o acompanhava firme, vivo e irmão. Sussurrava-lhe ao pé do ouvido o que era então, talvez, o zéfiro causador da sua febre e alucinação.
Depois de queimar sacrifícios à própria deformidade, veio o vislumbre da Essência, noiva de si; termo démodé impregnado de profundeza inócua, dado a tudo que precise de um núcleo impalpável, gasto por andar de boca em boca, atendendo a pedidos de quem quer santificar o cerne do que julga ser bom. Aqui e além brandia o sabre da alegoria, não do que era, mas do que poderia ser. Buscava abarcar o mundo e dava no bairro mais óbvio, crendo na predestinação que mais lhe aprazia, pensava ser outro, mas era o Espírito conformado, travestido e enganador, megalomaníaco de bar revirando os olhos e gavetas numa cruzada nova, por motivos turvos, aqueles... 
De tudo que era, logo mais, deu-se no próximo: A Negação. O Nada. Que menos seria? Submerso em toda aquela complexidade bostal, sentia-se satisfeito, sorria-se ao enfeitar de quadros sublimes sua estupidez social, nunca alcançara prazer igual. Arquiteto da inconstância, ali cansou-se de tudo, pôs fim a tudo, derrubando os sustentáculos daquela grande construção - miragem paupérrima, nem servia aos pombos como ninho e proteção.
Hoje, em suma, assume algum controle sobre um corpo irregular e trabalha. Mantém a mania de colecionar papeis amestrados em gavetas raras e velhas, mas o faz por motivos medicinais, assim o diz. Não entra em contato, despreza. É o sumido, duro de peito, boceja para os problemas de família, faz quase tudo por uma ninharia, engole dúzias de sapos aos borbotões, nega cigarros a indivíduos suspeitos na estação de trem às 6 da manhã, faz menção de ser rude, mas tem piedade. No entanto, mal sabem, pensa ainda em dividir o maior amor do mundo.

27.6.13

O Próprio

I - O Próprio 
 
o homem imã psicoativo
radiofônico e bélico
deus do telefone mudo
comparsa da exigência
o homem-meta aquele
antítese da antítese da antítese
primeiro parágrafo de um plágio
ou o próprio – este ser
que até daria
um belo par de botas