Rígido



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Medo de morrer, eu disse, pois avante surgem templos de conquistas. Meu defeito é minha glória, confiar somente em números já me resolveu teoremas psíquicos que pareciam absolutos. Carne crua aos chacais esqueléticos, despedaço cada membro, cada ciclo de mentir e reconhecer, pois me neguei... 
A Artesã da minha angústia, sorrindo curta, diz: "que ingênuo!" Dando de ombros, altiva e augusta.
E novamente é novamente.

Medo de viver... o assunto acaba, as fotos mudam, consumo o sono plástico, um... dois...
Então degusto o grave baixo oitentista, cadência de indústria, fuga comprimida, distorção da juventude doce, pretensiosa, suja...
Galgo colunas de injustiça, outra e outra mais. Finjo ceder, mas é contínua minha raiva: espuma e range os dentes retintos, chacoalha o dorso e ruge a mesma monótona nota de repúdio!
E novamente é novamente. 

Stims X



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Cataplat! Estouram estilhaços
de confetes palavrões confusos
do eu lírico - patrão desses palhaços
que não têm nenhum dos parafusos...

Granada! E lá vai bomba - aplaudem
ao me explodir de raiva, mas poética - 
Ora, Sol! Que teus raios me saúdem
no fim dessa atração patética! 

Jacaré



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Flutua o trem, compassa
embora ninguém faça 
menção de perder fé, 
depois de Del Castilho 
retorna à casa o filho:
teus trilhos - Jacaré! 

No Jaca que eu cresci 
de tudo quase eu vi, 
mas sem xisnovear, né? 
Eu lembro de um vizinho 
que teve um fim sozinho... 
teu forno - Jacaré! 

Que boldo perfumado! 
Incenso que é tragado
no encanto do oboé,
na feira tem farinha,
tem pedra e barraquinha
de flor prensada até...

Na Bêra do rio verde
qualquer herói se perde, 
té mesmo Ivanhoé, 
se rende e nada vê
Ricardo não-sei-quê - 
Saudades, Jacaré! 

Stims IX



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Saturno, o senhor tem fome?
Tal de Goya te postou na Espanha,
não te culpo, mamãe me consome
fritando minha carne na banha...

Sofres de fúria, ah! Sartuninho
girando anéis de grã deidade,
teu outro nome? Eu adivinho:
Ansiedade! Ansiedade! Ansiedade!

Stims VIII



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Quando ouvi tua melodia, 
febril flauta em Hamelin, 
lentamente conduzia 
a criança dentro em mim... 

Baile das comorbidades
e dancei com depressão... 
................................................ 
daí que veio toda paixão!

"Nereida"



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Ela está lá. Oculta entre as nebulosas mentais, inerte, idônea, ressona suavemente e perfuma os neurônios com aromas gentis. Sua face, outrora bestial e vulgar, agora assume o petrificado riso contido, confunde-se com choro, ambíguo como Deus o fez.
E me enamoro ao vê-la vestir seu cetim de silêncio, lenta. Onde pôs teu arsenal de culpas? Onde?...
Agora que sinto fome ela me permite comer, agora que o sol irradia ela me permite decifrar cada nota nas cores, mesmo sendo múltiplas, posso dedilhar as canções que inventei!
No entanto, sua presença é sentida, pois ela faz-me sentir. Apesar de contida, ela espreita atrás de cortinas de renda branca. E enquanto acendo o incenso de mirra, às vezes, tenta mencionar o meu nome. E eu me lembro bem da idade média. Recorro à ciência e somente para a ciência ajoelho e imploro...
Ela está aqui, voluptuosa, como é comum às musas ancestrais: nereida oscilante com sua canção  emudecida, olha-me pelos cantos, impedida de me entorpecer. 

Observando a Natureza



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Quem é você
imagem que
se reproduz? 
Um nome dito, 
talvez inédito, 
que deu-se luz? 

Símio moderno, 
dentro do terno
engravatado,
sobe os andares
com os seus pares, 
sempre ocupado...

Eu que neguei, 
penso que sei
que sou - quem és, 
mas basta ter 
que conviver
sobre meus pés, 

para notar
que meu lugar
dentro da classe
é quase igual, 
também sou mal, 
mas tenho face!... 

Dentro do bando 
não tive um quando 
pra ser quadrado...
Símio perfeito, 
como, qual jeito
deus tem te dado

tanta igualdade 
e prioridade 
no que se pensa 
ter uma vida
comprometida 
em ser quem pensa?

Stims VII



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Distraio minha dor intrusa
com outra dor - essa fácil:
um espelho pra Medusa 
que é volátil e retrátil... 

Eu me machuco - confesso, 
e cravo as unhas no braço, 
esmurro às vezes, me impeço... 
não sei, mas faço... mas faço...