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04 julho 2025

X A Vítima

Nenhuma dor supera a que consagro
no lacrimal batismo, sorumbático, 
escolho tanto o cravo quanto a lança
no ensejo de ser crivo e condenado, 

e ver cair, meloso, o sangue tórrido 
dos golpes mais sonoros, gustativos, 
e ver romper tendões, a pele e os ossos, 
já fartos dos prazeres, dos cuidados... 

Só minha dor coitada punge, inflama, 
e surta, e grita, e falha, e me segrega
na mão que me socorre e me arrebata,

no quadro eternizado da capela, 
no trono de miséria, que me exulto, 
igual a Deus? talvez! ou mais, ao Nada!... 

23 junho 2025

IX O Passageiro

Curvei na esquina crítica, decerto,       
no curso do momentum calculado,       
seguro de que o Nada engloba tudo, 
se o fim é o que define toda estada;      
      
o atraso deste expresso me desdenha      
no espesso tempo, o pouco que me resta      
em ser, e assim que ver luzir teus olhos       
lá longe dentre a névoa do conflito -     
      
um salto só no "foda-se a segunda"...       
Perdão, colegas, velhos e ambulantes,       
se espalho-me nas vossas mentes rudas       
      
no trauma sujo e puro e liquefeito,       
pintando girassóis ensanguentados       
no chão desta estação de folhas secas...

13 junho 2025

VIII A Bruxa

Na cópula sem núpcias retesa 
os lábios que, transversos, eletrizam
a cisma em namorar a flor dos homens,
outrora desprovidos brutos fálicos... 

Na transa Samyasa fez-se símio, 
mordendo-te da aréola o castanhado, 
naquele instante flébil um felino 
no dorso dos teus pés, domesticado... 

E tu, marcada a dente, forasteira
em tempos de imbecis, de partidários, 
gestante virgem túmida dos céus

às vésperas da dor, do rito augusto
que a apoteose pélvica borbulha, 
que rasga e escorre em lava o Nephilim...

28 maio 2025

VII A Sukeban

Em gangues hemorrágicas se infestam
nos bares dos pretensos monarquistas, 
empunhando suas bokkens entre saias
que longas contornavam toda fúria, 

furavam olhos bêbados, patriarcas 
da tradição nipônica do estupro, 
que gritam reduzidos às suas presas
agonizantes, velhos bem surrados! 

O crime de uniforme feminino;
a violenta rosa mais que o choque
engendra o roubo e a prática do estilo

que curva de joelhos mesmo a vida, 
que finca, que desmembra, que incendeia, 
que não se submete e nem acata... 

19 maio 2025

VI O Poeta

Amálgama lisérgico da realidade,
propenso à adicção rotunda dos lampejos, 
que vai negando ir, que subtrai das furnas
sinapses de carne dionísica adentro. 
 
Seguindo a velha escola do amputacionismo, 
malhado como Judas que nunca viu a prata;
vagabo dos vagabos, vestes de barril, 
correndo todo bairro em busca de um perverso... 

Discípulo aberrante que prega o suicídio, 
suspenso tal Jesus, amadeirado e nu, 
tingido de sentir insignificâncias, 

defende eternizar a pretensão risível 
da natureza morta - crivo supressivo 
que tenta refutar entranhas e universos.

10 maio 2025

V O Burguês

Depois da matinê, no beco podre,
te trombo perfumado em porcelana, 
tentando escapulir por improviso  
ao ver que te propus minha navalha...

De luz lunar tomado, democrata, 
abri na tua boquinha mentolada 
o talho que te ajude na hora sacra 
que tendes a empapar-se do meu nunca. 

Depois de provocar-te o riso horrível, 
te fiz uma cesária com urgência, 
de merda despencaram as tuas tripas... 

Sem mais que te cobrar voltei soberbo, 
dançando pela chuva mais vermelha, 
nutrido do teu gesto de pavor! 

27 abril 2025

IV O Sacerdote

Silêncio na penumbra que meditas,
coçando do teu falo o cancro duro, 
desejas a pureza do gorjeio 
filtrada por vitrais engordurados,

lá fora corre o riso onipresente, 
completo como tu não podes sê-lo, 
conspiras orações de mendicante 
propondo toda forma de barganha, 

e desces as escadas do teu templo,
arfando grunhos chulos de chorume, 
tua bata suando fátua teus farfalhos... 

O cervo escapa livre e te debates 
na neblina espalhando o nimbo véu 
heroico do paterno Belzebu!...

25 abril 2025

III A Criança

Acordo desconexo e reconcilio 
o caos dos meus sentidos desarticulados, 
de pronto te procuro pela casa e saio 
descalço no jardim onde contorno acácias 

e ali porque perdi do teu destino o rumo,
ferido de perfume por qualquer espinho 
conduzo pelo breu meu desespero ufano 
com mãos inconsoláveis feitas de vingança, 

encontro-te no ontem e já despetalado,
teus membros entre espasmos de inocência ida - 
no choque roxo puro, surto criminal! 

E o riso como luto me vestiu suspeito,
deitado no teu resto, reunido e impuro 
no jorro tanto êxtase quanto digressão. 

22 abril 2025

II O Zumbi

Que saudade de cair meus fatos! 
Verde musgo vem cobrir-me o úmido 
putrecido do ideal mortífero, 
que pecado sem utilidade!

Quando arrasto pela campa laica 
todo fim que nos espera vivo,
vou rangendo procurando um justo 
que alimente a minha dor de ser. 

Quanta falta de servir meu tempo 
para quem habita o chão dos burgos,
recolhidos sob à luz dos céus,

quando outrora do osedax faminto 
não pulsava esse festim orgíaco
de fervor a revolver no estômago!

17 abril 2025

I O Vampiro

A sede que te quer sugar a essência, 
tão plena como Deus assim pensou, 
exerce sobre mim poderes cúlticos  
que a fé não poderá mover jamais,

aceite que de ti a boca morta
prossiga parasita e fantasmal, 
por estro reduzir tua existência
sem culpa de se herdar a escravidão. 

Ao grave desta voz que profecia 
o curso natural tanto comum
confesse teu prazer em se iludir

e ascenda como mártir impoluto
da causa que por séculos mantém
o luxo que opulenta a tradição!