títulos variados para poemas cariocas



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comando vermelho 
vila mimosa 
vômito no garage 
a braba do jacaré 
fogo no 298
fecha o brizolão 
churrasco de x9
funk proibidão 
buraco do lacerda
ode ao fogueteiro
de bonde pra praia
o que significa apologia 
de ak 47 e de glock 
no gogó da ema
a crise do prensado 
feira de acari
beijo na passarela do nova américa 
bangu de dante
narcocultura propagada 
pó de 20
me enterre em inhaúma 
já é 

para notas antiTDAH



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edição de notas mentais 
esqueleto poético 
mosaico sináptico 
ordem sobre caos 
salvo em nuvem 
motivo para outra tag 
impulso do vício em listar coisas subjetivas 
padrão de caixa baixa
pontuação nula 
evitar o lirismo a metáfora o humor a metalinguagem 
evitar modificar as notas originais 
evitar expor notas comprometedoras e sexuais 
evitar o cinismo 
acenar para o interlocutor de soslaio

XIII



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Aqui deste ocultismo em carne viva
confesso doutra boca o meu desvelo, 
portanto mais vulgar do choque ao pelo
na pele metamorfa e permissiva... 

Nem sangue vence aquela que cativa 
nas tranças ancestrais o pesadelo, 
que dói como se a dor não fosse vê-lo 
distante dentro em outra dissertiva. 

A Lilith urbana não se afeta, 
quando ama se derrama por completa, 
até se transbordar ou se exaurir, 

da estrela do ocultismo te convoco, 
servida dos espasmos que provoco, 
até chegar aos céus e transgredir!...

VII A Sukeban



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Em gangues hemorrágicas se infestam
nos bares dos pretensos monarquistas, 
empunhando suas bokkens entre saias
que longas contornavam toda fúria, 

furavam olhos bêbados, patriarcas 
da tradição nipônica do estupro, 
que gritam reduzidos às suas presas
agonizantes, velhos bem surrados! 

O crime de uniforme feminino;
a violenta rosa mais que o choque
engendra o roubo e a prática do estilo

que curva de joelhos mesmo a vida, 
que finca, que desmembra, que incendeia, 
que não se submete e nem acata... 

O jogo de futebol



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Tinha uns 8 anos. 
era o primeiro dia de escola,
ia sozinho, à beira do rio... 
Até hoje o cheiro de esgoto traz uma nostalgia...

Ia pelos cantos caçando grilos,
tinha muito mato por lá,
muito grilo grande, tinha esperança,
mas só morta, sabia bem 
a diferença da esperança e do grilo, 
a esperança é da noite, as antenas grandes, 
corpo de folha, um verde mais vivo, 
não era tão inocente a crer 
que encontraria esperança naquela manhã, 
mas questionava o porquê do nome:
"Esperança",
será que é porque é verde?
Qual a ligação? 
Não existe esperança azul ou vermelha, 
esperança transparente ou preta... 
E ficava divagando pela beira do rio. 
Até hoje verde é a cor que mais gosto.

Gostava de futebol.
Tinha o time da igreja. 
Claro que pararia para ver
se uns moleques estivessem jogando bola. 
Até hoje não curto futebol...

Primeiro dia de aula,
perto da escola, 
lá vinha pela beira do rio, 
caçando grilo e esperança, 
pensando no nome "esperança"
e em futebol, nas cores, no mato, 
um cheiro de esgoto curtido, 
uns meninos que jogavam futebol, 
parei para ver e foi isso... 

A bola era a cabeça de alguém 
e havia risos, 
cheiro de cigarro, esgoto
e risos. 

Se quer saber, 
passei a deixar em paz os grilos e esperanças. 

Carta II



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Não me vês. Como podes? Qual o sentido de mentir quando a obviedade dos fatos é tão sólida e fria? Ah, quanto mistério faz ninho nessa árvore hirsuta da consciência humana! Veja os ovinhos!
Não me vês contorcer os neurônios em busca do silêncio palpável, de alívio torrente, de alguma voz sincera que não me diga a verdade! Desprezado o signo da minha alma, reclamo o que nunca foi promessa tua, elaboro alusões pretensas, mulambos sinestésicos, tardios, cheios de estéticas rotas, reduzidos ao bocejo do tempo, da grandeza que vence, que abate, que pilha. Admito, vou morrer! 
Outrora a juventude resplendia dulçor e novidade quente, instigante. Ah, a incoerência que se mantinha firme nos cadernos velhos, debatidos, desortográficos, pueris, que descobriste infindos, vivificados. Será que não sei que sou invisível? 
Nunca me viste. O que pensavas emoldurar na tua visão ideal? Algum nativo, idílico e selvagem, cantando palavras de ordem e coragem, olhos em chamas, músculos vibrantes rítmicos, gargantas aos berros nas fileiras da ânsia primeva do combate?!
Não me lês. É fato, mas não desanimes. Nem me julgues ingênuo a ponto de te crer desperta enquanto amputo em fixa desobediência essas e outras orações.
Antes divago. Quem sabe só tu me conheces e ainda mais do que almejo me conhecer. Como dói não ser o sol, a viração, o olho do coelho ou o arzinho cálido do solfejo que te perfuma de nardo e gás carbônico. 

Minha caríssima Madalena, saudades. 

XII



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Serás, talvez, bem mais do que presumes, 
garoto só, Nobre Anto - bronze a pele 
que arriscas, pobre e rude em teus queixumes 
cheios de deboche. Como me repele

aquilo que não tens entre teus lumes, 
que fere a si porque assim se compele 
daqueles quase todos dos cardumes, 
que te destacam lindo, mas imbele... 

Ai, não me chore, que hoje a regra basta, 
que não darei meu peito de bandeja,
pegada por tua birra, charme ou mimo, 

cansei de te dar mole e me contrasta 
o verso que te imponho, que te beija 
na minha própria falta de um estimo! 

Duas tijucanas na lotérica do Matoso



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– Você não notou, Edir?
– Não notei Nilza, o que agora?
– Aquele ali, ali parado de frente pra cá.
– Você fala o da banca de jornal ou o que tá catando coisa?
– Edir, o que está parado de frente pra cá, esquece o outro catador.
– Nilza, aponta quem é!
– O da banca de jornal...
– Que que tem?
– Tão roubando aqui demais, ele não para de encarar. Eu disse à Valentina, minha neta, sabe aquela que chegou de Portugal? Disse que aqui não é de bom tom sair com telefone celular à mostra, ela não me ouve, faz aqueles tiques toques...
– Onde você quer chegar, Nilza Albuquerque de Soares?
– Não é óbvio, só pode ser aquele parado ali! Na certa está esperando vítimas como nós, fácil de roubar, pois vai se dar mal, Edir, deixei os anéis, relógio, celular, colar, tudo no apartamento, de mim não vai ter absolutamente nada...
– Que precavida... mas se ele se enfezar de você não ter nada, pode muito bem te dar um murro, te furar, sabe que eles andam com facas...
– Ai Nossa Senhora! Não pensei nisso.
– Sabe, Nilza, fica tranquila, olha lá ele sendo atravessado na faixa, é só um cego, tadinho.
– Mentira? E eu aqui toda me tremendo.
– Viu, sua palhaça?
– Vi, um preto tão bonitinho!