seus longos dedos magros
seguidos de braços hirtos.
As árvores me parecem telas
do mais profundo
desespero dos vencidos...
Quando penso no amor que idolatro
vem a dúvida do que é a idolatria,
se te adoro como um simulacro,
se te odeio quanto mais se distancia...
É coragem por à prova o contrato
ou tem força a evolução da covardia,
se te amar descubro hoje ser um fato,
se amanhã o mesmo fato assim seria...
nada de novo,
a mesma casca
do mesmo ovo...
As vacas magras
que ainda pastam,
onde os milagres?
nem eles bastam...
Os mesmos muros
fronteiras nuas,
as mesmas dores
as mesmas ruas...
que trêmulas mãos de castelã abarcam
há silêncio
o tempo julga e decreta
o coração espera novas freguesias
para o comércio de outra miséria itinerante
o grande Mistério é a adoração
pela ciência da primogênita Virtude...
Deste quintal de putas velhas erguem-se
muralhas farpadas por pseudo-diamantes
e trepadeiras sem flores...
eu sou
A janela escancarada me entornou
na boca do espectro que me habita...
e dormes tão vazia do meu amor,
minha Ofélia melada de obscuros
tristes versos que componho sem pensar...
Meu vocabulário é uma vaca carnívora.
À primeira vista minhas ideias são asas,
à segunda são rasas,
à terceira são casas
nas esquinas das fórmulas comprometidas com o uso
do desuso...
Há profundeza nos olhos de quem vê?
No fim
eu sou você,
e vamos mal...
Não entendemos isso de ser poeta profissional.
cúmplices da luz
e dançarinas das sombras...
Amigo mais próximo, quem és tu?
Deito no tapete verde,
braços em cruz,
logo tudo se perde...
Jesus!
Arauto inútil, quem és tu?
O espelho encarcera a imagem que aceita
mas seu rosto quadrado não se sujeita...
No chão a chuva de ontem tremeluz
o espírito de um velho vulto desconhecido -
óculos e dentes e sulcos e os
braços magros dependurados -
Sou o espantalho na colheita das horas...
1
Os dias tristes nascem
do marulho dentro das conchas -
a pretensão de um oceano grandioso
dentro de uma frágil porcelana oca...
2
Os dias tristes estão
para o suicídio
como a Quinta da Boa Vista
está para o cuspe e o mijo...
3
Minha última refeição
quero comê-la no arrojo
de uma transubstanciação
de toda matéria em Miojo...
4
Os dias não chegam tristes,
vão pouco a pouco emurchecendo.
Quando sentimos um calafrio
sabemos, está acontecendo...
5
Não te guardo mágoa alguma,
não és capaz de me ferir
com sua queixa que exuma
minha pouca vontade de rir...
6
Os dias tristes são como sonhos,
como sonhos mal concebidos,
vêm assombrar-nos, enfadonhos,
como filhos mal concebidos...
7
Há quanta mudança nas horas?
a tristeza não dura um minuto...
Enquanto florescem amoras
estrelas estão de luto....
todo poeta é um mala
entre os males mais raros
Todo poema tem sido inútil?
alarde de sinos
faróis de carros
uma trupe de ciganos catarrentos...
quando até no meu nome há o deboche da vida.
esse vilipêndio,
dentro em instantes:
Incêndio!
Dois olhos pouca bosta
cor de água suja
Agora um par de qualquer coisa
rolando ladeira abaixo
Dois olhos engavetados
impostos e metidos
olhos fundos vampirescos,
janelas para o jardim,
Jardim de Arabescos...
Sensualíssima boca aberta
que morde para dentro, vilã
viúva negra e deserta
triste manhã...
Margarida Estripa,
mãos libidinosas mariposas,
coxas esquálidas, pálidas...
peitos de isopor...
Súcubo em primavera,
afluente e furor
de dependência química,
reincidência brutal e cínica.