A Piada



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Quando chorei pela primeira vez
nos braços da mulher que me pariu,
eu já sabia, inconscientemente, 
que é preciso alguma forma de alívio.

Mas depois de tantos anos ainda
inconsciente doutro meio de parir, 
serro meus dentes neste instante incerto
e procuro um motivo pra sorrir.

Vou sorrindo pelas esquinas, louco,
e meu demônio no interior do estômago
se apraz me devorando pouco a pouco... 

Depois de tanta lágrima espontânea, 
pego o espelho e examino, triunfante, 
ninguém a quem se julga importante...

Gotham



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No céu o signo do desassossego
dançando entre as nuvens carregadas,
a noite impera... bélicas trovoadas
cravam o estouro de um baque cego...

Eis o vigilante! O Morcego
no alto do edifício entre as gárgulas,
envolto pelo medo tem seu ego
vingativo... humano... cheio de máculas...

Súbito salta e silva, surpreende
o Louco Clown que ri da sua sorte,
dentro da bruma trava-se o combate!...

Enfim, um punho se ergue e acende
a chama circunstancial da morte...
Ele hesita e o Clown grita: "cheque mate!"

Sudário



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Morreu na esquina da Matoso
com a Dr. Satamini,

nada acontece de novo...
Levaram 3 horas, imagine...

A pele negra sob o pano,
A pele branca sob o pano sujo...


Havia também um despacho.

Maldita encruzilhada, aqui
não há blues... não há blues! Eu acho...

A pele negra sob o pano,
era Jesus? Era Jesus!

3 horas... e aqueles passantes
vaga-lumes mórbidos sem luz...

Nada havia, ia acontecendo...
(E quando o vi fui me estremecendo.)

"Era o Zé? Era o Zé!"
Ai dos homens de grande fé!...

3 horas infindas...
o recolheram perto das 11...

Ficando somente o despacho:
vela vermelha, cachaça e rosa...

*

Resvalou-se a turba curiosa
pelo ralo escoador de populacho...