No quadro que pintaste



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No quadro que pintaste 
na tela da tua mente
não sabes, mas trancaste 
a imagem diferente
do que presumo ser.
(E sendo, pouco insisto.)
Traçaste um bem querer 
nos moldes do teu visto.

Bem sei que a arte é falha 
e muita vez se engana 
transforma uma migalha 
numa fartura insana,
porém, minha alma viva,
me causa desconforto 
tua grande expectativa 
sobre este corpo torto...

Disponho, lastimável,
de estranhos arsenais 
beirando o inaceitável,
ao passo que os normais,
com tanta conjectura
tal qual posso inferir,
estão na longe altura 
que não me ouvem rir.

E mesmo assim colores 
a imagem que encarcera 
a antítese das dores 
que o tempo dilacera,
porém, oh bem amada
bendita sempre seja
tua mente que me enquadra,
tua boca que me beija.

Que rufem os tambores!



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Ora, se não sou o astro em mim,
afogado em mim,
intraduzível?!

Logo aquieto
as minhas intenções sublimes.
Nada em mim é sublime
e o que desprezo
é análogo à minha condição...

Ai, a vaidade da autodestruição!

Uma fração qualquer -
nem poeira cósmica,
nem barro edênico.
Em mim somente a consciência
me separa da selvageria estúpida,
mas não me livra
da estupidez de mentir,
porque sou selvageria estúpida.

Ora, se não sou o mais paupérrimo
dos lerdos, dos idiotas, crendo-me raro
entre enjeitados,
em meu cubículo mental?

Ai, que pedestal!...

Enquanto isso - Eis o sol
a estender suas fitas douradas
para a festa do verde idílico,
dos faunos e das ninfas,
e os deuses estruturais são saudados
para um novo ciclo de dor e de sorrisos,
dentro da Terra dos seresinhos "conscientes",
A Terra - esse cristal de areia
no segundo relativo
da ampulheta do Verbo.

Dia Útil



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I 6:00

Os observo do meu covil,
busco capturar o sentido
do que se propõe traduzível  
apenas sendo, como se bastasse
um gole de expresso
para o apontamento conclusivo.

Quanta similaridade física!
Nada mais... Há partilha no bando
e suas intenções são claras,
por mais medíocres que possam parecer.

Então balanço minha pedra afiada
forçando meu corpo ereto,
sobre a savana imponente caminho,
consciente, atônito e primitivo
bato meu cartão.

II 18:30

Nunca estarei entre meus pares.
Isso posto, invisto em reflexões
que mais ecos do que nunca
me trazem...

Nunca estarei entre meus pares.
Ao nascerem, meu corpo e consciência,
destituídos de ferramentas comuns,
apenas emulam a normalidade típica
dos típicos.

Nunca estarei entre meus pares!
Observe que nossa característica intrínseca
nos compõe solitários e tortos,
como, por deus, iríamos nos agrupar
contrariando nossos níveis de desinteresse
no que é o outro? No que faz o outro.
E é assim por acaso?

Nunca estarei entre meus pares?
Que presunção chocha, galopante
feito um soluço demente
resvalando sarjeta,
lambendo rastros de lama
golpista!...

Nunca estarei entre os meus pares...

Atípico



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De repente é tarde.
Desenho olhos confortáveis
psicografando temores sociais 
sobre a folha, sobre o tempo...

O café amargo só faz sentido 
quando a vida é doce.
Eu tento adivinhar padrões 
na irregularidade dos sentidos,

sempre mantive cativa
a analogia de que as pessoas 
são particularmente tão complexas 
quanto um universo.

Eu não entendo o universo.