Construção



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Primeiro, definido o espaço
e o tempo para o emprego das mãos,
o sonho da não indigência
e do não desespero noturno,
em cada vez que se cogita a presença do despejo 
atrás de uma porta adotiva.

Ali o suor e a lágrima aspergem 
sobre cada buraco úmido...
Cheiro de terra que nos sobe ao nariz
quando a liberdade está perto o bastante
para o toque de prazer impoluto.

Eu queria em mim essa estrutura férrea 
e esse balanço. Quando a sordidez dos ventos 
desfolhassem a copa das velhas árvores,
quando o murro do raio estalasse,
no meu corpo sólido haveria
a substância do amparo seguro.

Por fim, já calejados corpo e alma,
no entardecer um blues, regar as plantas 
que antes quis duas, agora mais de trinta 
desbotando flores ordinárias - sem poemas,
só a vida quase concluída,
que demanda ainda o acabamento,
feita e imperfeita...

Por enquanto mantenho o trabalho que invento
perscrutando a areia lavada,
colecionando pedras para enfeitar substratos.

Um jardim esquecido



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Um jardim esquecido?
Melancólica pintura 
onde existe e não se vê 
uma pobre sepultura.

A morte real é o olvido.
A vida real é a procura.
A única certeza é o porquê
da dúvida futura.





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Perdem-se de vista 
os dias macilentos,
e a pós modernidade
compõe monumentos...

Suposta liquidez 
que hábil nos afoga,
onde o mundo é propício 
para aquele que joga.

Evade a nado raso
o resquício da essência,
a solidez da partícula,
a lótus da consciência...

Eu olho? Que desencontro!
Sou aquilo que ignora;
um protótipo de intento;
um agora fora da hora....