O que há de espetáculo num dia de outono em um ano vil? Se do receptáculo algum ser de carne se evadiu, e, embora ainda disforme arraste as asas da sua conduta, crendo tornar-se verme mais óbvio que um filho da puta, desenlaça, para lá da casa dos vinte, alguma soma nos poucos anos de pedinte.
Quando lembro das cartas,
estúpidas canções
dão play no meu córtex,
dizia: "quase ninguém ouviu!..."
Ah, como eu era imbecil!
Os meus poemas, (deus, poemas?)
eram ouro, prata e bronze,
que, choroso, lhe entregava,
dizia: "olha, ninguém mais sentiu!..."
Porra! eu era muito imbecil!
De fato, taciturnamente,
entrego-me ao delírio, tal
é a minha fortuna em mim...
Penso: "tudo e mais se extinguiu..."
.......................................................
Abril, sol, fones
de ouvido
derretendo o
pior punk rock,
preciso de
grana... cama...
de um choque!
E pego a
próxima saída?
pra nada
o dia me
serve!... Por que
você é tão
triste e calada?
Uma
coincidência estranha –
tem alguém
que deixa pistas
à margem das
conspirações
niilistas...
Porém, vou
colhendo seus cacos:
rastro
musical que acena
à noite.
Teu pio de
coruja, tua pena...
Gisela dos Abrolhos,
quem soube
decifrar-te
ao ver como
seus olhos
corriam pelo
encarte?
Ao ver como escolhos
os versos à
la carte –
Gisela, pra
seus olhos
era a arte
pela a arte?
Erraste pelos
portos
citando algum
Pessoa,
com seus
scarpins tortos
em forma de
canoa,
seguida pelos
mortos
pedestres da
Lagoa,
Gisela
Desconfortos,
sapatos não
tem proa...
*
Dançavas com
a bruma
dos becos
infestados,
sorveste toda
espuma
dos lábios
fermentados.
Não há
surpresa, em suma,
dos
marginalizados
és mais do
que mais uma
que dançou nos
dois lados...
São sugestões de sintonias cúmplices,
pois que antes fossem melodias íntegras
do que esta dose de opioides súbitos,
do que este roxo sobre veias práticas...
Se trazem chances ao pior dos tímidos,
que se acovarda ante a grande dúvida,
tão logo o traem em promessas sórdidas
de mais futuros promissores débitos...
Adeus e adeus – multicurvas pétalas,
adeus e adeus – desamores clássicos...
As seduções dos limiares tácitos,
quer sejam banhos de suaves ósculos,
quer sejam fogos de artifícios fálicos,
quer sejam loas de tristezas múltiplas –
as seduções dos afluentes trágicos
que escorrem longas melodias úmidas,
que antes fossem solidões implícitas
do que este surto de segundos zéfiros...
São elegidas entre as horas ápices
as horas cruas de certezas nítidas,
as horas frias de rosáceas góticas,
as horas cheias de princípios lógicos,
são prometidas aos febris neófitos
e ensejadas por incautos Sísifos,
são destiladas em modorras íntimas
e morrem salvas de abalos sísmicos...
Vou indo bem.
Abro a porta tramando talvez duas plantas,
nessas horas em que, simplesmente,
Desço por mim em caracóis escadas,
mas esse jogo inútil de mãos
que não me serve equilíbrio
vai contornando o acesso...
Quando o amor é apenas um jogo
deve-se pois amarrá-lo e por fogo,
porque ele se apraz ao deitar o meu corpo consigo
e o meu corpo se deixa cortar pelo melhor inimigo...
Não que me importe a intenção
no alinhamento dos astros,
nem os perfumes das plantas:
obras de algum filantropo,
eu não me desço os degraus
em busca do principado
ou me embebedo das práticas
da irresponsabilidade...
Porque eu vou bem, afinal
permutam-se novas imagens,
chocam-se as sensações
em todos os receptores
e nada me faz repousar
em pastos verdejantes
e todos os lobos retornam
com olhos por cima dos montes...
Eu sou em mim um intruso,
me cobro deslumbramento,
penso que sei me expulsar
de mim em qualquer momento.
Abro a porta tramando talvez duas plantas,
nessas horas em que, simplesmente,
elas deveriam estar lá.
Do lado de fora perguntam
Do lado de fora perguntam
se estou dormindo.
Ninguém suspeita do que existe
dentro de um tempo fraudulento
como uma mágoa que insiste
eu tento
e quase por um momento...
São metáforas inúteis que
me caem tão bem – criancinhas
permutam-se psicodélicas
e tomam serenos à noite...
Vou indo bem.
Ninguém suspeita do que existe
dentro de um tempo fraudulento
como uma mágoa que insiste
eu tento
e quase por um momento...
São metáforas inúteis que
me caem tão bem – criancinhas
permutam-se psicodélicas
e tomam serenos à noite...
Vou indo bem.
Rascunho nuvens a lápis
no meio do plano de fuga,
traço acrobacias por cima
traço acrobacias por cima
de telhados coloniais,
antevejo cenas de comédia:
os perfumes se entreolham puritanos,
as bijuterias corruptoras dissimuladas,
papeizinhos amestrados
guardam-me fragmentos asfixiados,
meus gatos, meu orgulho,
antevejo cenas de comédia:
os perfumes se entreolham puritanos,
as bijuterias corruptoras dissimuladas,
papeizinhos amestrados
guardam-me fragmentos asfixiados,
meus gatos, meu orgulho,
meu deus que perambula...
Que comédia de se rir até das portas!
Um filme mudo que repete um gesto lento
e quase, quase por um momento...
Que comédia de se rir até das portas!
Um filme mudo que repete um gesto lento
e quase, quase por um momento...
Desço por mim em caracóis escadas,
mas esse jogo inútil de mãos
que não me serve equilíbrio
vai contornando o acesso...
Quando o amor é apenas um jogo
deve-se pois amarrá-lo e por fogo,
porque ele se apraz ao deitar o meu corpo consigo
e o meu corpo se deixa cortar pelo melhor inimigo...
Não que me importe a intenção
no alinhamento dos astros,
nem os perfumes das plantas:
obras de algum filantropo,
eu não me desço os degraus
em busca do principado
ou me embebedo das práticas
da irresponsabilidade...
Porque eu vou bem, afinal
permutam-se novas imagens,
chocam-se as sensações
em todos os receptores
e nada me faz repousar
em pastos verdejantes
e todos os lobos retornam
com olhos por cima dos montes...
Eu sou em mim um intruso,
me cobro deslumbramento,
penso que sei me expulsar
de mim em qualquer momento.
Essa lua que já foi dita
antes
e essa tarde dos antigos
recitais
e essa fumaça impregnada nos
cabelos,
nas cores e nas palavras
de todos esses
velhos livros que têm
tanta serventia –
como a vida tem deixado em
olhos cínicos
a marca da esperança
hereditária,
como é firme a pele branca
do alabastro
que espera por seu cítrico
perfume,
como são tristes os
espelhos nítidos
e que preguiça nesse
sábado enorme,
para quem os sonetinhos de
amor
são garantia de
entretenimento,
enquanto danço pra chover
vem o domingo...
Eu não posso consentir
naturalmente
que outro verbo se introduza
neste trânsito –
fico truncado e repetindo
mantras
aquém da lógica e do
alcance de um dardo,
porque não tenho olhos
para encarar
mais um verão sabor de envelhecer...
...om
eim saraswatiyei swaha
om eim saraswatiyei swaha
om eim saraswatiyei swaha...
É impossível ser um poeta
impassível?
É impassível ser um poeta
e impossível.
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