06 novembro 2015

Imagens em verde

Os grilos saltaram no pântano,
os sapos coaxaram de espanto...

No rapto das esmeraldas, tácitas
as ladras serpentes se esgueiravam...

O musgo musga alegre e esplêndido
naquele muro sábio e barbado...

As górgonas dançam emblemáticas
de olhos fechados no salão de espelhos...


12 outubro 2015

Átomo

Deixe-me só.
Que só eu fique...
Uma só nota,
um só repique...
Um poeta morto no caminho...
Crianças brincam em ciranda,
coroam sua fronte com louros
recortes de jornais e revistas...

13 setembro 2015

a gente queria conquistar o mundo
queria a gente
queria o mundo

Não sei. Vender poemas me lembra
o açougue do seu Onofre,
ele sempre sorri simpaticíssimo
com as mãos embebidas em sangue.


13 agosto 2015

A minha cabeça
dependurada
no mastro,
a minha cabeça
desfigurada,
um astro.

A minha cabeça
de sonho
desguarnecida.
A minha cabeça,
suponho,
planeta sem traço de vida.

14 junho 2015

Não era pra ter sido

Naquela vez você veio - a porta aberta
dentro da estranha noite que me entrou,
em meu quarto minguante toda oferta
das suas preocupações entregou...

Mas eu, bobo esquisito, mergulhado
em toda sorte de infantilidade,
tentei ser interessante e engraçado,
contando fatos sem profundidade...

E sentíamos o mesmo, talvez mais
do que um papo causal pode afirmar,
tanta coisa eu não soube segredar...

Agora, mal dos tímidos, sem mais
a estranheza da noite permanece...
.............................. ah, esquece!...

Introspectivo

Não te vejo, não me vês... é provável,
talvez me tenham como narcisista,
indubitavelmente impenetrável,
chupando cigarrinhos de intimista.

A solidão se torna indispensável,
mas longe de ser tola ou derrotista,
o tédio, igualmente detestável,
preenche meu desterro pessimista...

Cativo da rotina, residente
da soma do que é velho e displicente,
não sei há quanto tempo vivo a esmo.

Os livros que não li são companhia,
meus discos de obscura nostalgia -
são temas do deserto de mim mesmo...