Deixo uma salva de palmas,
deixo um relicário de almas,
deixo uma noite de calmaria...
Mas exijo! Queimem prosa e poesia!
I
Corria para o quarto do meu avô. Observava, atento, o ninho de pombos da janela... arrulhavam...
Nas mãos um segredo - réstias de pão. Depois do café sempre tinha uma bossa na vitrola, variava entre o Tom e o João, mas eu gostava, digo, eu esperava o sábado, porque o sábado era dia do Chico. Tia Raquel vinha com minhas primas, com seu 7 cordas, seus dedilhados. Então o mundo era dividido ao meio, portais de luz se abriam...
II
No terraço havia uma locomotiva. Eu, gigante cruel e demoníaco, trucidava fileiras de soldados de chumbo, barcos de jornal, cacos de tijolo. Nada sobre os trilhos de plástico escapava a seu destino catastrófico... eu só os tinha até a hora do almoço.
III
Pois, imagine! Certo dia, após o culto, voltamos de ônibus para casa. Ficamos com os bancos do fundo, onde, naquela época, era cadeira cativa de fumantes.
E lá estava um. Meus pais cochichavam reprovações como passarinhos trocam vermes, um para o bico do outro. Era um tipo esguio de olhos fundos e claros, pálido... o cigarro dependurado nos lábios, braços cruzados, pernas esticadas...
Trocamos algumas palavras que não recordo. Segundo dizem, convenci o transgressor do pecado cometido, não aquele contra a sua integridade pulmonar, mas o outro, o mais importante! O incômodo aos outros passageiros.
Depois desse dia uma ideia começou a sapatear com suas pernas de aranha na minha cabeça de vidro e qualquer fumante que eu via tornava-se um possível amigo.
Tudo observo do meu lugar altivo,
por mim escoam frias lágrimas celestiais
límpidas e lhanas... Não estou vivo,
nada abala a solidão dos ideais
que na pedra foram eternizados...
Quem há de suportar minha aparência;
aspecto de horríveis gritos dados
em estado de rochosa decadência?
Seis da noite, dobram sinos de bronze,
eu testemunho um crime ao longe... Vejo
amantes encontrarem-se num beijo...
................................................................
Nada transpassa o meu degredo frio,
e para sempre cativo silencio...
por mim escoam frias lágrimas celestiais
límpidas e lhanas... Não estou vivo,
nada abala a solidão dos ideais
que na pedra foram eternizados...
Quem há de suportar minha aparência;
aspecto de horríveis gritos dados
em estado de rochosa decadência?
Seis da noite, dobram sinos de bronze,
eu testemunho um crime ao longe... Vejo
amantes encontrarem-se num beijo...
................................................................
Nada transpassa o meu degredo frio,
e para sempre cativo silencio...
Quando do tempo menos se espera
o ato final de uma vida inteira,
eis que acontece - chega a nova era
e o vento nos espalha em poeira...
Hoje não há "luz que se apaga",
nem uma imagem pobre de matriz,
não há um olhar claro que se alaga,
tão pouco um recital mais infeliz...
Que nome em tua boca vai dormir
silenciosamente resguardado?
Nenhum Caronte vai me conduzir
praquilo que me tem angustiado?
Três dezenas de estrelas reluzentes
que aos risos pelo cosmos fundem átomos...
Quando as vejo - meus olhos transparentes
refletem a minha Ilha de Patmos.
Despido... tribunal... o alarde clama
e crepita em minha pele faiscante,
vem a lembrança de quem me ama
e nada mais que isso é importante...
o ato final de uma vida inteira,
eis que acontece - chega a nova era
e o vento nos espalha em poeira...
Hoje não há "luz que se apaga",
nem uma imagem pobre de matriz,
não há um olhar claro que se alaga,
tão pouco um recital mais infeliz...
Que nome em tua boca vai dormir
silenciosamente resguardado?
Nenhum Caronte vai me conduzir
praquilo que me tem angustiado?
Três dezenas de estrelas reluzentes
que aos risos pelo cosmos fundem átomos...
Quando as vejo - meus olhos transparentes
refletem a minha Ilha de Patmos.
Despido... tribunal... o alarde clama
e crepita em minha pele faiscante,
vem a lembrança de quem me ama
e nada mais que isso é importante...
Eu sou teu inimigo
mais antigo,
desde quando vim nascer...
Eu sou a estranha cobra
que se desdobra
e canta no entardecer...
Quem é que me conhece,
quem me esquece
do corpo e o destino torto?
Para quem ainda estou vivo
e muito vivo,
para quem estarei morto?
mais antigo,
desde quando vim nascer...
Eu sou a estranha cobra
que se desdobra
e canta no entardecer...
Quem é que me conhece,
quem me esquece
do corpo e o destino torto?
Para quem ainda estou vivo
e muito vivo,
para quem estarei morto?
No terminal rodoviário uma possível esquizofrênica comia um podrão e bebia guaraná. A cada mordida seus olhos ardiam brasas irreconhecíveis e sua boca abria saída para os mais finos palavrões fragmentados. Tomei nota de algumas novas obscenidades. Contrariado atirei metade do cigarro para não perder o 497 Bom Pastor. Logo chovia. Entrei desajeitadamente ávido. Duas estudantes apontavam lascivas e riam daquela talvez loucura, faziam caretas estúpidas, sofriam de um deboche infantiloide, o que também não é vergonha para seu ninguém, convenhamos. Ao lado, com a testa franzida em clara desaprovação moral, uma gorda embrulhada num vestido vermelho suava em bicas, vez em quando me encarava e balançava a cabeça em uma negação silenciosa, mas eu só pensava em Ki-Suco de morango.
Sentei do lado esquerdo, sozinho. Comi duas bananadas de 50 cents. Porque o mundo, meu amor, não sabe ser justo. Mas não é caso para entrar em parafuso ou ter um ataque de melancolia.
As árvores estendem
seus longos dedos magros
seguidos de braços hirtos.
As árvores me parecem telas
do mais profundo
desespero dos vencidos...
seus longos dedos magros
seguidos de braços hirtos.
As árvores me parecem telas
do mais profundo
desespero dos vencidos...
Quando penso no amor que idolatro
vem a dúvida do que é a idolatria,
se te adoro como um simulacro,
se te odeio quanto mais se distancia...
É coragem por à prova o contrato
ou tem força a evolução da covardia,
se te amar descubro hoje ser um fato,
se amanhã o mesmo fato assim seria...
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