Avulsos Atípicos (Hard Version)



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I

Vermelho o grito medonho 
insulta a deus, é um sonho
sumir diante do absoluto 
sem fim, sem adeus, sem luto...

II

Há meses um npc 
de survival horror...
quem me dera você
soubesse me impor

qualquer comando -
algo mais, um sentido
nesse quando em quando 
nunca concluído.

III

Mesmo a ausência 
torna-se incompleta -
a vida é uma evidência 
de uma falta abjeta.

IV

Até quando levar as mãos à fronte,
afundar o crânio entre dez dedos,
na procura infantil alucinar o horizonte 
no furor inalcançável dos segredos?

V

Será você, leitor, o Anjo da morte
no deleite dessas vicissitudes,
será o meu amor, minha consorte 
no mistério dessas amplitudes?

VI

Salve, Abramelin!... Adramelech,
maldito o arco-íris do teu plasma!
Ah, não importa quanto eu peque 
sempre há mais narina pra miasma!

VII

Já já a boca nunca mais diz...
Já já não sobra um relato...
Já já não será mais o infeliz 
que em vida vive putrefato...

Hikikomori



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Olhos abertos, outro dia sem rosto
sorrindo sépia sempre compassivo
ao discutir sobre o competitivo
capital nulo que nos será imposto.

Aristocrata o Sol - um rei deposto, 
não tem nenhum decreto conclusivo
sobre o não ser ou ser improdutivo, 
mesmo completamente decomposto...

Sair de ti à luz? Que superestimado
esse convívio humano quando é dado
ao mal comum - disfarce de empatia.

Sair de ti é luz, desse quarto apagado
planejo o não viver obcecado
por outra novidade ou nostalgia...

Avulsos Atípicos V



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I

Diante do óbvia negativa planejo
deitar o meu desterro pessimista
igual a quem despede-se com beijo 
não tendo do futuro uma só pista...

II

Boneco cenográfico – emulo 
a lógica aparente que espero,
mas todo meu esforço é nulo,
eu sou a divisão por zero...

III

Se chego – chego depois deles...
Se vou – eles já estão lá...
Se quero – nunca é como aqueles...
Se estou – tudo já não há...

VI

Itero sobre todas as perspectivas, 
Prolixo – esfinge magra e estranha,
intento mil telas intuitivas
com olhos de uma dor castanha...

V

Dentro do espectro imaterial 
move-se o intelecto sub-humano...
Eu sou o último Neanderthal 
que ainda não entrou pelo cano...

Sonho



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 I
 
A pretensa liberdade 
confina dos olhos a luz
da probabilidade existir 
no desejo que seduz

Financeiro e conveniente 
para quem nunca pode ser,
mas para o mundo quem tem
é feito daquilo que obter.

Conquista efêmera e
frágil cristal impoluto,
hora tombado à realidade,
hora intocado, absoluto!...

II
 
No entanto, para mim,
cada dia é um novo lucro,
estarei perto da dignidade 
quando deitar sobre um sepulcro...

Nada que tenho me tem,
nem me confundo com a matéria,
o que eu sou é apenas carne
que envolve uma alma etérea...

Afasta-te!



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Afasta-te, loucura! Tua boca em segredo 
procuro examinar no silêncio metódico...
Entre teus lábios nada se encontra de lógico,
como na humanidade, conhecer traz medo...

"Cala-te, coração!" Diz meu espírito quedo,
calejado de agruras, preguiçoso e módico,
afeito às ilusões de algum prazer melódico,
que soube errar bastante desde muito cedo...

Pois tua boca e teus lábios têm me aprisionado 
e por mais que eu me aflija, desarticulado,
não consigo escapar, tamanha é a gravidade...

E já não é o mesmo tempo, nem meus sentimentos,
tudo se faz ternura - horizonte de eventos,
neste espaço entre nós já não há realidade...

Casa Amarela



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É noite. Guarda, amor, meu nome clausurado,
selado à sete chaves atrás da tua porta...
Jamais soubeste o quanto tenho ocultado 
nessas linhas febris, quanta melodia morta...

É noite nos jardins do teu doce cuidado,
traz à memória a essência, que nada conforta...
Se te vejo sorrir como tenho sonhado
não respondo por mim e pouco mais importa...

Estou preso, não vês? Melancólico a esmo,
divago a procurar-te dentro de mim mesmo
e por vezes me perco girando espirais...

É noite e ao longe acena minha alma, flutua 
sobre o mar da saudade compulsiva e crua
de nunca mais te ter, de nunca, nunca mais...

Desenhos da Infância



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Olhos entreabertos de sangue pisado,
um corpo de um gigante decapitado,
demônios nus em posições estúpidas
sobre o montante de carcaças pútridas...
Tesouras aladas serrilhadas 
amputando asas pétalas de fadas...
Uma casa, janela de madeira, vaso de flor,
sob o sol sorridente a se pôr...

Pedras multiformes munições 
para fundíbulas assassinas de dragões,
pântanos borbulhantes onde notívagos
vampiros procuram por novos afagos...
Olhos de gatos acesos, julgadores...
Onomatopeias de choques multi-cores...
Uma cachoeira de luz efervescente 
onde as sombras observam a água corrente...

Avulsos Atípicos IV



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I

Faça filhos - dádivas, presentes...
Para que, Jesus, se planejar? 
Para que escovar os dentes?
Para que comer, beber, pensar?...

II

Existe um "eu" que pensa - um conceito 
que aprendi num livro sobre autismo,
e existe um "eu" ativo, um "eu" perfeito 
que faz e quer fazer - que romantismo!

III

Pessoas são bocas. Pessoas são 
o abrir e fechar de lábios eloquentes,
mantenho o foco - lá fora um furacão
passa... E nós seremos confidentes...

IV

Olhar em teus olhos é como despir-te 
tão lento quanto um pulso cardíaco.
Olhar em teus olhos é como cobrir-se
de um encanto, de prazer demoníaco...

V

Trabalho! Eis o deus, venere-o já!
Quanto mais teu sangue ele suga
mais do teu sangue ele desejará...
Não há descanso, tempo, amor, fuga...

VI

Sete horas da noite, minh'alma desertora
debanda para os mundos abissais, 
deixando uma desordem promissora 
engasgada nas minhas cordas vocais...