08 agosto 2025

III

Entra, Noite! Se foi da casa a luz,
as sombras trocam beijos e insultos
nas cantos invertidos pela cruz,
de gozo por satânicos ocultos.

Espalha-me no piche, no naquim —
truncados os meus braços nós de pinho,
essências de lembranças carmesim
que traz-me no tropel de um torvelinho.

E que prazer dorido a fome canta
mordendo-me na língua em tom tão grave,
tão grave quanto o peito de uma santa
que nunca fora aberto pela chave...

E a Noite, toda em renda, flutuante,
dos círculos de brisa deletéria,
emerge rebordosa e cintilante 
e cobre-me com toda antimatéria!

6 comentários:

Anna Lucia P Gadelha disse...

Magnífico poema! Versos primorosos repletos de vida!Parabéns, Davi! Abraços

Davi Machado disse...

Abraços, Anna. Nós, que nos apaixonamos pelos versos, somos instrumentos da grande poesia de deus – o universo.

lis disse...

Quando a noite chega com resquícios do Big Bang e flutua entre o sono e o sonho, causa esse 'prazer dorido'.

Daniela Silva disse...

Gostei da intensidade contida no teu "III". Há um silêncio aí que fala alto — elegante na brevidade, profundo na ressonância.

Com amor,
Daniela Silva 🩷🦋
alma-leveblog.blogspot.com — espero pela tua visita no blog

Davi Machado disse...

As noites aguçam os mistérios.

Davi Machado disse...

Que bonitos adjetivos. Este servo, naturalmente, agradece.