Entra, Noite! Se foi da casa a luz,
as sombras trocam beijos e insultos
nas cantos invertidos pela cruz,
de gozo por satânicos ocultos.
Espalha-me no piche, no naquim —
truncados os meus braços nós de pinho,
essências de lembranças carmesim
que traz-me no tropel de um torvelinho.
E que prazer dorido a fome canta
mordendo-me na língua em tom tão grave,
tão grave quanto o peito de uma santa
que nunca fora aberto pela chave...
E a Noite, toda em renda, flutuante,
dos círculos de brisa deletéria,
emerge rebordosa e cintilante
e cobre-me com toda antimatéria!
6 comentários:
Magnífico poema! Versos primorosos repletos de vida!Parabéns, Davi! Abraços
Abraços, Anna. Nós, que nos apaixonamos pelos versos, somos instrumentos da grande poesia de deus – o universo.
Quando a noite chega com resquícios do Big Bang e flutua entre o sono e o sonho, causa esse 'prazer dorido'.
Gostei da intensidade contida no teu "III". Há um silêncio aí que fala alto — elegante na brevidade, profundo na ressonância.
Com amor,
Daniela Silva 🩷🦋
alma-leveblog.blogspot.com — espero pela tua visita no blog
As noites aguçam os mistérios.
Que bonitos adjetivos. Este servo, naturalmente, agradece.
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