Meu vocabulário é uma vaca carnívora.
À primeira vista minhas ideias são asas,
à segunda são rasas,
à terceira são casas
nas esquinas das fórmulas comprometidas com o uso
do desuso...
Há profundeza nos olhos de quem vê?
No fim
eu sou você,
e vamos mal...
Não entendemos isso de ser poeta profissional.
cúmplices da luz
e dançarinas das sombras...
Amigo mais próximo, quem és tu?
Deito no tapete verde,
braços em cruz,
logo tudo se perde...
Jesus!
Arauto inútil, quem és tu?
O espelho encarcera a imagem que aceita
mas seu rosto quadrado não se sujeita...
No chão a chuva de ontem tremeluz
o espírito de um velho vulto desconhecido -
óculos e dentes e sulcos e os
braços magros dependurados -
Sou o espantalho na colheita das horas...
1
Os dias tristes nascem
do marulho dentro das conchas -
a pretensão de um oceano grandioso
dentro de uma frágil porcelana oca...
2
Os dias tristes estão
para o suicídio
como a Quinta da Boa Vista
está para o cuspe e o mijo...
3
Minha última refeição
quero comê-la no arrojo
de uma transubstanciação
de toda matéria em Miojo...
4
Os dias não chegam tristes,
vão pouco a pouco emurchecendo.
Quando sentimos um calafrio
sabemos, está acontecendo...
5
Não te guardo mágoa alguma,
não és capaz de me ferir
com sua queixa que exuma
minha pouca vontade de rir...
6
Os dias tristes são como sonhos,
como sonhos mal concebidos,
vêm assombrar-nos, enfadonhos,
como filhos mal concebidos...
7
Há quanta mudança nas horas?
a tristeza não dura um minuto...
Enquanto florescem amoras
estrelas estão de luto....
todo poeta é um mala
entre os males mais raros
Todo poema tem sido inútil?
alarde de sinos
faróis de carros
uma trupe de ciganos catarrentos...