Consciência e autocrítica



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Sobram-me reticências e vírgulas...
Meu vocabulário é uma vaca carnívora.
À primeira vista minhas ideias são asas,
à segunda são rasas,
à terceira são casas
nas esquinas das fórmulas comprometidas com o uso
do desuso...
Há profundeza nos olhos de quem vê?
No fim
eu sou você,
e vamos mal...

Não entendemos isso de ser poeta profissional.

3 Notas



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I
 
Quando estou atrasado a rua se renova, nem o sol brilha a mesma tela, aracnídeo. Até o cigarro fumado no caminho empresta um gosto nítido de deboche e despreocupação.
 
II
 
O grande motivo da minha falta de pontualidade é o orgulho. O que pensariam de mim se me vissem, esbaforido, correndo léguas para pegar o trem?
 
III
 
Se me demoro 5 minutos a mais na cama, minha rotina é varrida por um tornado, meus compromissos esmagados por um piano, minha cara é detonada por uma banana de dinamite.

Teto preto



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Afasto as cortinas
cúmplices da luz
e dançarinas das sombras...
Amigo mais próximo, quem és tu?
Deito no tapete verde,
braços em cruz,
logo tudo se perde...
Jesus!

Arauto inútil, quem és tu?
O espelho encarcera a imagem que aceita
mas seu rosto quadrado não se sujeita...

No chão a chuva de ontem tremeluz
o espírito de um velho vulto desconhecido -
óculos e dentes e sulcos e os
braços magros dependurados -

Sou o espantalho na colheita das horas...



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1


Os dias tristes nascem
do marulho dentro das conchas -
a pretensão de um oceano grandioso
dentro de uma frágil porcelana oca...

2


Os dias tristes estão
para o suicídio
como a Quinta da Boa Vista
está para o cuspe e o mijo...

3


Minha última refeição
quero comê-la no arrojo
de uma transubstanciação
de toda matéria em Miojo...

4


Os dias não chegam tristes,
vão pouco a pouco emurchecendo.
Quando sentimos um calafrio
sabemos, está acontecendo...

5


Não te guardo mágoa alguma,
não és capaz de me ferir
com sua queixa que exuma
minha pouca vontade de rir...

6


Os dias tristes são como sonhos,
como sonhos mal concebidos,
vêm assombrar-nos, enfadonhos,
como filhos mal concebidos...

7


Há quanta mudança nas horas?
a tristeza não dura um minuto...
Enquanto florescem amoras
estrelas estão de luto....

A cela



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*para uma HQ do Alan Moore

Respiro. A cela toda ao redor. Desenho sol e nuvens nas paredes úmidas, redefino ideias de júbilo. Fantásticos sons exteriores me fazem perceber todo meu estado equívoco. Enfio a cara entre as grades, penso em socorro, em morte. Tenho paciência. Súbito, rompo com todas as meditações, sobretudo as que me dão esperança; esse caminho onde se visa o fim das coisas. Mas, que fim? Sempre outra sentença principia, torna a ampulheta vagarosa a trabalhar contínua, irrefutável. 

Fumo. Tenho na sombra um adversário, 
desfiro baforadas, provoco-o...
Estarei louco? Examino meus dedos...
Estou completamente oco... oco!


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Todo poema é inútil

todo poeta é um mala
entre os males mais raros

Todo poema tem sido inútil?

alarde de sinos
faróis de carros


No trem



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Ela folheava sensualmente aquele livro. Tinha uma cara de espanto e graça, suas sobrancelhas exclamavam uma muda interjeição. O título de um sarcasmo fodido: "Ser Homem", sem aspas...


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O tempo seco acampou em minha voz
uma trupe de ciganos catarrentos...