Despedido



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O retorno é um jazz fácil.
Suave voz abraça meus sentidos,
deixo o papel de Atlas para outro,
embora tenha os ombros sacudidos.

E dizes: o ruim se queima só.
E penso: tudo é relativo,
estando em Tróia não fui troiano,
como quisesse não estar vivo.

Perco-me no que é real,
mesmo que meus olhos vagos 
tentem, inúteis, decifrar
a propriedade dos afagos.

Mas esses olhos doentes 
que julgam seus movimentos
preferem ver as ondas do mar
onde dorme a alma dos ventos.

Avulsos Atípicos II



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I

Se a paz está no silêncio
abrir a boca é para as feras.
Se a ti minha boca alcançar,
minhas desculpas sinceras!

II

Quem me dera um interruptor
neste circuito de pensamentos!
Disse outra voz entre as emoções 
que aprendi com os desatentos.

III

Ensaio no espelho 
outro "bom dia" normal,
um "boa noite, meu chegado",
mas sempre fica sem sal.

IV

Você não poderá evitar 
o movimento robótico!
Você não poderá refutar 
outro argumento lógico!

V

Sobressaem os negativos 
que tendo a remoer,
por enquanto os positivos 
tendem a se esconder.

VI

O cântico dos sonhos 
ecoa nos místicos 
campos dos Anjos 
ansiolíticos...

Avulsos Atípicos



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I

É sobre mim este poema.
O perfume - WD40.
A consciência um sistema 
operacional dos anos 90.

II

Ando desse jeito
num passo enlatado,
se apresento um defeito
não fico triste, mas enferrujado.

III

Ensaio sorrisos em reflexos.
Será que sou humano?
Tento acompanhar a normalidade 
e esse é todo "Plano".

IV

A dúvida segue meu rastro
calma e constante 
encaro o seu rosto altivo,
incompleto e delirante.

V

Um verso ou melodia 
num ciclo que sempre ecoa,
um gesto que me transborda 
que sempre faço, embora doa. 



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Sempre esteve escrito 
sem entrelinhas, sempre 
esteve por cima dos panos
e nunca deixaste
teu olho vítreo e escuro 
repousar ali.

Sempre esteve fácil 
como a sua própria sombra,
próximo o bastante
feito uma sombra,
tão verdadeiro e falso -
uma sombra...

Sempre esteve impuro 
jogado às três cabeças 
do cão que nos olha de volta 
quando olhamos para o abismo,

Como um brinquedo 
passando de mão em mão
contemplando novos inícios 
de realidades esteve, o Sempre:

O deus, a singularidade, a questão...
O poema rolando a pedra morro acima.

Nem a tristeza ou alegria, nem o mal,
nem os pontos cardeais, nem o bem.

Só o sempre,
seu nome - um verbo 
sendo escrito.

No quadro que pintaste



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No quadro que pintaste 
na tela da tua mente
não sabes, mas trancaste 
a imagem diferente
do que presumo ser.
(E sendo, pouco insisto.)
Traçaste um bem querer 
nos moldes do teu visto.

Bem sei que a arte é falha 
e muita vez se engana 
transforma uma migalha 
numa fartura insana,
porém, minha alma viva,
me causa desconforto 
tua grande expectativa 
sobre este corpo torto...

Disponho, lastimável,
de estranhos arsenais 
beirando o inaceitável,
ao passo que os normais,
com tanta conjectura
tal qual posso inferir,
estão na longe altura 
que não me ouvem rir.

E mesmo assim colores 
a imagem que encarcera 
a antítese das dores 
que o tempo dilacera,
porém, oh bem amada
bendita sempre seja
tua mente que me enquadra,
tua boca que me beija.

Que rufem os tambores!



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Ora, se não sou o astro em mim,
afogado em mim,
intraduzível?!

Logo aquieto
as minhas intenções sublimes.
Nada em mim é sublime
e o que desprezo
é análogo à minha condição...

Ai, a vaidade da autodestruição!

Uma fração qualquer -
nem poeira cósmica,
nem barro edênico.
Em mim somente a consciência
me separa da selvageria estúpida,
mas não me livra
da estupidez de mentir,
porque sou selvageria estúpida.

Ora, se não sou o mais paupérrimo
dos lerdos, dos idiotas, crendo-me raro
entre enjeitados,
em meu cubículo mental?

Ai, que pedestal!...

Enquanto isso - Eis o sol
a estender suas fitas douradas
para a festa do verde idílico,
dos faunos e das ninfas,
e os deuses estruturais são saudados
para um novo ciclo de dor e de sorrisos,
dentro da Terra dos seresinhos "conscientes",
A Terra - esse cristal de areia
no segundo relativo
da ampulheta do Verbo.

Dia Útil



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I 6:00

Os observo do meu covil,
busco capturar o sentido
do que se propõe traduzível  
apenas sendo, como se bastasse
um gole de expresso
para o apontamento conclusivo.

Quanta similaridade física!
Nada mais... Há partilha no bando
e suas intenções são claras,
por mais medíocres que possam parecer.

Então balanço minha pedra afiada
forçando meu corpo ereto,
sobre a savana imponente caminho,
consciente, atônito e primitivo
bato meu cartão.

II 18:30

Nunca estarei entre meus pares.
Isso posto, invisto em reflexões
que mais ecos do que nunca
me trazem...

Nunca estarei entre meus pares.
Ao nascerem, meu corpo e consciência,
destituídos de ferramentas comuns,
apenas emulam a normalidade típica
dos típicos.

Nunca estarei entre meus pares!
Observe que nossa característica intrínseca
nos compõe solitários e tortos,
como, por deus, iríamos nos agrupar
contrariando nossos níveis de desinteresse
no que é o outro? No que faz o outro.
E é assim por acaso?

Nunca estarei entre meus pares?
Que presunção chocha, galopante
feito um soluço demente
resvalando sarjeta,
lambendo rastros de lama
golpista!...

Nunca estarei entre os meus pares...

Atípico



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De repente é tarde.
Desenho olhos confortáveis
psicografando temores sociais 
sobre a folha, sobre o tempo...

O café amargo só faz sentido 
quando a vida é doce.
Eu tento adivinhar padrões 
na irregularidade dos sentidos,

sempre mantive cativa
a analogia de que as pessoas 
são particularmente tão complexas 
quanto um universo.

Eu não entendo o universo.