Observando a Natureza



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Quem é você
imagem que
se reproduz? 
Um nome dito, 
talvez inédito, 
que deu-se luz? 

Símio moderno, 
dentro do terno
engravatado,
sobe os andares
com os seus pares, 
sempre ocupado...

Eu que neguei, 
penso que sei
que sou - quem és, 
mas basta ter 
que conviver
sobre meus pés, 

para notar
que meu lugar
dentro da classe
é quase igual, 
também sou mal, 
mas tenho face!... 

Dentro do bando 
não tive um quando 
pra ser quadrado...
Símio perfeito, 
como, qual jeito
deus tem te dado

tanta igualdade 
e prioridade 
no que se pensa 
ter uma vida
comprometida 
em ser quem pensa?

Stims VII



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Distraio minha dor intrusa
com outra dor - essa fácil:
um espelho pra Medusa 
que é volátil e retrátil... 

Eu me machuco - confesso, 
e cravo as unhas no braço, 
esmurro às vezes, me impeço... 
não sei, mas faço... mas faço... 

Stims VI



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Um disco retornável
que mastigo sem fim,
fico ali inalcançável:
Wave, do Tom Jobim. 

Em tempo intraduzível
quando a alma se descola
refugio o indescritível - 
melodias do Cartola! 

Stims V



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Descobri pelas pesquisas
sobre neurodivergência,
que etiquetas nas camisas
é a raiz da delinquência...

Outra dose muito forte
é notícia que, na terra, 
etiquetas foram morte
e motivos para a guerra! 

Stims IV



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Numerar esses poemas,
em romanos, em esquemas
como inventasse sentido
para o caos comprometido... 

Compor um estratagema
dar fôlego ao barro e tema
e dispor o indefinido
como se fosse concluído... 

Avulsos Pós-Punk IV



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I

O homem e a mulher
foram feitos para
o homem e a mulher - 
foram feitos?...

O homem é a mulher, 
tem seus trejeitos! 
A mulher é o homem, 
cadê os peitos?

II

E vamos lá, 
versos em sangue derramados, 
contendo o DNA 
de muitos versos passados. 

III

Tenho uma mágoa marginal 
dessas que cavam sem fim,
dessas que recusam o final... 
Deus, acredite em mim! 

Primeiro de Março



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É manhã
e as árvores imóveis, 
sentinelas do vale, 
resguardam o canto dos pássaros...
Procuro-me
no condado, na ordem, no instinto
farejo meu rastro e lembro
que fui regar as plantas...
O verão açoitou até a morte
os tapetes de rainha inocentes 
debruçados, distraídos
olhando quem sobe as escadas...
É quase silêncio... 
ao fundo da vila, um rádio louva
com minha irmã que delira
e nega os medicamentos...
Tomo café
enquanto meu amor me lê,
antes de ir embora
e quando vai embora
eu fico. 

Avulsos Pós-Punk III



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I

Ele criança amava e amava 
mês após mês, mês após mês... 
ele, feito homem, não dava? 
Não! Trabalha de seis às seis... 

II

Lá vem a depressão, 
lará... lerê... 
E estou na sua mão, 
mas você... 

Você é uma canção,
lerê... lará...
Meu duro coração, 
té quando durará?

III

Eu amo cantar da morte
seus sonetos outonais,
talvez algum dia - má sorte, 
ela me cobre os autorais...

IV

Se sou isso, 
aquele sou - 
se sou outro
um outro sou,

Se há mais "se" 
travo... Contudo, 
se não há "se"... 
(telefone mudo) 

V

Estranha tarde outonal aquela
onde o anjo que tudo me revela
veio visitar-me... 
E disse, mantendo a compostura, 
que a minha nova sepultura 
tá um charme!