Ela está lá. Oculta entre as nebulosas mentais, inerte, idônea, ressona suavemente e perfuma os neurônios com aromas gentis. Sua face, outrora bestial e vulgar, agora assume o petrificado riso contido, confunde-se com choro, ambíguo como Deus o fez.
E me enamoro ao vê-la vestir seu cetim de silêncio, lenta. Onde pôs teu arsenal de culpas? Onde?...
Agora que sinto fome ela me permite comer, agora que o sol irradia ela me permite decifrar cada nota nas cores, mesmo sendo múltiplas, posso dedilhar as canções que inventei!
No entanto, sua presença é sentida, pois ela faz-me sentir. Apesar de contida, ela espreita atrás de cortinas de renda branca. E enquanto acendo o incenso de mirra, às vezes, tenta mencionar o meu nome. E eu me lembro bem da idade média. Recorro à ciência e somente para a ciência ajoelho e imploro...
Ela está aqui, voluptuosa, como é comum às musas ancestrais: nereida oscilante com sua canção emudecida, olha-me pelos cantos, impedida de me entorpecer.