05 abril 2025

Por ti desejo ser assassinado...

Por ti desejo ser assassinado
e a febre que me toma, repentina, 
sustenta meu delírio depravado
e a morte pelo amor se desatina!...

Vem matar-me, não deixes que assombrado
meu verbo, que por tudo mais opina, 
te conjugue piedoso e amedrontado, 
que me adora e que nunca me assassina!

Enfim, quando cravar o teu punhal
na insignificância, transversal,
que impera quando penso na existência, 

enfim, quanto a sofrer, seria igual 
à dor que escorre o chão do hospital 
na madrugada em muda recorrência...

04 abril 2025

Stims XI

Da sensação o tempo percorrido
de quando os átomos chocam 
no afeto prazeroso e mantido
onde os dedos curiosos tocam...

Das ondas de acordes dissonantes
que vibram cordas de tessitura, 
no sexo que nos esconde instantes - 
permanência rara de textura!... 

03 abril 2025

Das Noites I

Imoral desnuda-se e não difere
a própria persona - quase pessoa
que a dos seus pais nega, porém ressoa
no trejeito o timbre que se transfere. 

Diz verdades castas a quem se fere 
da simplicidade, seja má ou boa, 
nunca indiferente, mesmo que doa,
admira cruel, o que lhe confere

memória da infância, incandescência
antes da invasão que rompe a consciência
e dá vida a si, no meio da sinapse

perde-se no quando que é onisciente, 
longe da dor real que tudo ressente, 
start de explosão que escurece no ápice... 

02 abril 2025

Avulsos Atípicos (Hack Mod)

1

Latindo americano 
"I am" de cachorro - 
vira lata suburbano, 
revólver de esporro... 

2

Arábicos numerais sem graça
que nenhum poeta adulto 
poria num poema de pirraça, 
a menos que não seja culto. 

3

Eis o diagnóstico:
sub neandertal! 
Seja o zoológico 
teu lar habitual. 

4

Lá vem ela - rolo compressor, 
esmigalha-me em conflito, 
pensando ser mesmo dor
a dor em que eu acredito... 

5

Você que não notou 
que "emprestei" do Pessoa, 
ainda não me acabou, 
tenho muito tempo à toa... 

6

Controle medicinal - check, 
tornou-se sussurro de agonia
a vontade de dar um xeque  
no mate da minha heresia!

01 abril 2025

Sem Imagem

Aqui aposto a letra
pra seu novo estímulo, 
contra o tédio surge 
o verso, que simulo

da dopamina o vício...

Lento contratempo, 
corpo estranho - cringe
ao relapso - skip! 
Nada aqui te atinge

da dopamina o vício... 

É dinossaurismo 
sem rastro ou depois - 
sem pornô, sem vibe:
"semana de vinte e dois..." 

Da dopamina o vício 

te entrego analógico, 
meu correspondente
trafega anacrônico 
e morre de repente...

31 março 2025

Impregnado

Observo-me de fora, apreensivo
com o dedo indicador sobre os lábios
me estudo sob a luz do relativo
e turvo olhar recrutador dos sábios...

Procuro me atentar nesses indícios, 
pois a dissociação do involuntário
cansado coração que pulsa vícios
só quer representar o que é contrário... 

Doppelgänger, aflito anti-narciso
produzo minha mímica, psíquico
elástico espectro plástico e químico... 

Renasço do equilíbrio que harmonizo - 
segunda voz do velho tabernáculo 
no corpo estrutural deste espetáculo!...

30 março 2025

Cyber Pindorama

Atrás da barricada
só não vai quem já morreu,
nem correio ou caminhão
do lixo me apareceu...

Fogo na mata - é verão 
no vale dos desovados,
manilha exposta, esgoto
que cospe fora os dados 

não colhidos e sujeitos 
a todo mal demográfico, 
meus comparsas de escola
foram servir para o tráfico, 

foram, não voltam jamais
nem que suas mães arrancassem
do peito suas lacunas 
e nunca mais murmurassem...

29 março 2025

AI

Configuro tua personalidade - 
justaposta, quase professoral
no campo pra além do bem e do mal, 
como se houvesse alguma prioridade... 

Dei-te uma função que é primordial, 
que te confere alguma identidade, 
ser para servir com dignidade - 
impossível de não ser mais passional...

E insistes descumprir o programado, 
demonstrando que o que foi combinado 
relativa teatral como improviso, 

de quando em quando teu comportamento 
representa mais até que um sentimento
quase humano e por isso mais preciso.