Poemas de Clara Heilege



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I

Assim me encontra a nova melodia
nos prados florescidos pelo medo, 
por onde fui profusa desde cedo
cantando como a dor me despendia..

E fui me tresloucando dia após dia
à margem da razão, do seu enredo
qua a mística intenção do meu segredo
somente por mentir se compreendia...

Por dentro do meu corpo campanário
relutam os espectros do contrário
despedaçado e crivo coração...

E os olhos que te fitam se reviram, 
tanto em teus olhos belos refletiram
que responderam Cristo: - Legião!

Por ti desejo ser assassinado...



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Por ti desejo ser assassinado
e a febre que me toma, repentina, 
sustenta meu delírio depravado
e a morte pelo amor se desatina!...

Vem matar-me, não deixes que assombrado
meu verbo, que por tudo mais opina, 
te conjugue piedoso e amedrontado, 
que me adora e que nunca me assassina!

Enfim, quando cravar o teu punhal
na insignificância, transversal,
que impera quando penso na existência, 

enfim, quanto a sofrer, seria igual 
à dor que escorre o chão do hospital 
na madrugada em muda recorrência...

Stims XI



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Da sensação o tempo percorrido
de quando os átomos chocam 
no afeto prazeroso e mantido
onde os dedos curiosos tocam...

Das ondas de acordes dissonantes
que vibram cordas de tessitura, 
no sexo que nos esconde instantes - 
permanência rara de textura!... 

Das Noites I



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Imoral desnuda-se e não difere
a própria persona - quase pessoa
que a dos seus pais nega, porém ressoa
no trejeito o timbre que se transfere. 

Diz verdades castas a quem se fere 
da simplicidade, seja má ou boa, 
nunca indiferente, mesmo que doa,
admira cruel, o que lhe confere

memória da infância, incandescência
antes da invasão que rompe a consciência
e dá vida a si, no meio da sinapse

perde-se no quando que é onisciente, 
longe da dor real que tudo ressente, 
start de explosão que escurece no ápice... 

Avulsos Atípicos (Hack Mod)



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1

Latindo americano 
"I am" de cachorro - 
vira lata suburbano, 
revólver de esporro... 

2

Arábicos numerais sem graça
que nenhum poeta adulto 
poria num poema de pirraça, 
a menos que não seja culto. 

3

Eis o diagnóstico:
sub neandertal! 
Seja o zoológico 
teu lar habitual. 

4

Lá vem ela - rolo compressor, 
esmigalha-me em conflito, 
pensando ser mesmo dor
a dor em que eu acredito... 

5

Você que não notou 
que "emprestei" do Pessoa, 
ainda não me acabou, 
tenho muito tempo à toa... 

6

Controle medicinal - check, 
tornou-se sussurro de agonia
a vontade de dar um xeque  
no mate da minha heresia!

Sem Imagem



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Aqui aposto a letra
pra seu novo estímulo, 
contra o tédio surge 
o verso, que simulo

da dopamina o vício...

Lento contratempo, 
corpo estranho - cringe
ao relapso - skip! 
Nada aqui te atinge

da dopamina o vício... 

É dinossaurismo 
sem rastro ou depois - 
sem pornô, sem vibe:
"semana de vinte e dois..." 

Da dopamina o vício 

te entrego analógico, 
meu correspondente
trafega anacrônico 
e morre de repente...

Impregnado



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Observo-me de fora, apreensivo
com o dedo indicador sobre os lábios
me estudo sob a luz do relativo
e turvo olhar recrutador dos sábios...

Procuro me atentar nesses indícios, 
pois a dissociação do involuntário
cansado coração que pulsa vícios
só quer representar o que é contrário... 

Doppelgänger, aflito anti-narciso
produzo minha mímica, psíquico
elástico espectro plástico e químico... 

Renasço do equilíbrio que harmonizo - 
segunda voz do velho tabernáculo 
no corpo estrutural deste espetáculo!...

Cyber Pindorama



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Atrás da barricada
só não vai quem já morreu,
nem correio ou caminhão
do lixo me apareceu...

Fogo na mata - é verão 
no vale dos desovados,
manilha exposta, esgoto
que cospe fora os dados 

não colhidos e sujeitos 
a todo mal demográfico, 
meus comparsas de escola
foram servir para o tráfico, 

foram, não voltam jamais
nem que suas mães arrancassem
do peito suas lacunas 
e nunca mais murmurassem...