Carta VI



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Há qualquer coisa de abrupta e cortante. (Uma preguiça de rabiscar, descrever... Vamos lá, vamos! ) 
Tem esse clima de asfixia, de bateria 5%. Eu, que já reconhecia nas nuvens o alarde do trovão, acabo atingido facilmente, turvado na tempestade que estronda entre nós, maldizendo cada vez mais o lugar onde minhas mãos não satisfazem. (Isso não ficou tão bom, né? Foi o melhor que pude conseguir, me deixa!...) 
É um luxo esse prazer da ausência, chego a sentir os lábios trêmulos pensando no teu gosto de lichia. (Olha, lichia é uma fruta romântica sim!) 
Posso dizer o que eu quiser, que no mundo em que estamos inseridos os poetas são estrangeiros longínquos. (Egocêntrico? Prove que não!) 
Então, por que você não me traduz? (Embora eu escreva na tua língua, isso de traduzir é bonitinho, vai, tipo entender o idioma dos anjos, metáfora pobre, mas eficaz. Estou longe de um anjo, talvez djinn, não sei, não tenho ascendência árabe, queria ser filisteu, mas nasci em Judá, Saul curtia meus sonetos e solos pinkfloydeanos de harpa... ) 
Há tanta certeza no amor. Pena que não sabes, meu caju, o quanto a vida pode ser cínica, cruel e cara. (Ai, que má, que má!) 
Se nossos lábios se encontrarem, se as estrelas se alinharem, se os deuses de outrora viessem nos saudar, se apenas houvesse uma chance, tudo ruiria desastroso -  castelos de areia, pilhas de pedras, represas frágeis, pontes cariocas, barros nas encostas em janeiro...
(...) 

O amor, minha lacáride míope, é o vulgo do tempo. 
(Uma puta dor de cabeça, cadê Dipirona?...) 
Espero retorno. 
Do teu aluado Don Quixote de la Ganja. 

ouroboros blackfriday



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Stims XIV



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Posiciona-se intrusivo, velhaco, urticante, cínico,
estrategicamente nas quinas etéreas
onde me cai todo nexo, 

esse susto, esse sopro, esse topo, esse tapa
que derruba o número oito 
recurvando o som do sentido. 

Stims XIII



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Mimético inveterado, 
imito aquilo me apraz
ou seja; um doido dado
àquilo que um doido faz, 

por esse meu repeteco 
que rapto, que confisco, 
que desdo australopiteco 
arranho parede e disco... 

O sexo dos anjos



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– Então você cresceu no Azul... 
– E você na Bêra do Rio, mas não é cria...
– Não sou? Cê tá de brincadeira... 
Os dois se olham fixamente. 
– Se liga, quando tinha operação era na porta de casa,  jogavam granada e tudo... 
– Tá, na Bêra eu via os traçantes passando na janela, morava no quinto andar... 
– No Azul tentavam esconder arma na lage, minha mãe discutia com os Meninos: "Olha minha filha aí, aqui não!" 
– Na Bêra, quando deviam na boca, eles amarravam cada mão num cavalo e arrastavam até o Pontilhão... 
– E lá em cima no Azul picavam, era um serrote cego, botavam num carrinho de mão... 
– É mesmo? Pois, se chegavam vivos no Pontilhão, enfiavam dentro de uns pneus e tocavam fogo, bem na travessia para o Brizolão! 
– Mas quando matavam o chefe do morro, arrancavam a cabeça lá encima, na Glória, e saiam desfilando com a cabeça, acho que o último lugar que via era na Bêra... 
– Impossível! Para de caô! 
Os dois se olham e dão de ombros. 
– Hoje esses Meninos não são de nada, não respeitam ninguém... 
– Concordo, época boa já foi, a do Lambari! 
– Lambari? O Vado foi muito melhor!... 
Entardece em nuvens pesadas de chumbo lentamente, 
que logo logo chove. 

clickbait reverse



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aprofunda-se o pensamento em massa
na rede neural multimidia 
e vão descarrilados ao pico 
e saltam enquanto os risos silenciam 
antes dos baques cheios na rocha

a literatura está em choque 
e o que você faz? 

boca a boca ( ) 
massagem cardíaca ( )
liga pra samu ( )
escreve qualquer coisa ( )
nada ( )

pensamenta-se o neurónio videomaker
da rede que balança a massa
pica a veia um trem desgovernado 
que o silêncio chora por que pensa 
rachado em baque golpeado na fala

¿a eletrocutagem táes me letra 
                       faz vo cê o e que ^

Do retorno do inverno



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As estrelas no azul do vão, que antes luziam, 
e que naturalmente se estrelavam, 
nos filtros deste olhar que vem comigo 
retremem pelo breu, crucificadas, 
se por um lado luz, mesmo defuntas, 
feito ecos das imagens que viajam, 
têm outro lado cruz, embora vivas
nas mudas seduções que vão no espaço. 

Bem, considera-se maduro aquele que sabe
que há sempre mais caminho aos pés cansados, 
então reconsidere teu preparo 
e trate de enfiar-se num casaco, 
que a Noite vem dar palco às Moiras
e destelhar o escalpo dos telhados, 
que a noite vem sentar no avarandado
pra ver do baile angústias torvelinhos... 

para compras de domingo



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feijão
arroz ou macarrão
açúcar
milho para pipoca

café 
leite 
margarina 
se macarrão 
queijo 
se arroz 
iogurte

cebola
pimentão 
cenoura 
batata ou inhame 
se batata 
inglesa ou doce 
couve ou brócolis 
se couve
proteína de porco 
se brócolis 
proteína de frango 

banana da terra
manga tommy 
fruta do conde 

páprica defumada, picante e comum 
alho 
pimenta e cominho 
canela
cheiro verde
coentro 

água sanitária 
desinfetante neutro
sabão em pó 

chocolate
nuts!