– Então você cresceu no Azul...
– E você na Bêra do Rio, mas não é cria...
– Não sou? Cê tá de brincadeira...
Os dois se olham fixamente.
– Se liga, quando tinha operação era na porta de casa, jogavam granada e tudo...
– Tá, na Bêra eu via os traçantes passando na janela, morava no quinto andar...
– No Azul tentavam esconder arma na lage, minha mãe discutia com os Meninos: "Olha minha filha aí, aqui não!"
– Na Bêra, quando deviam na boca, eles amarravam cada mão num cavalo e arrastavam até o Pontilhão...
– E lá em cima no Azul picavam, era um serrote cego, botavam num carrinho de mão...
– É mesmo? Pois, se chegavam vivos no Pontilhão, enfiavam dentro de uns pneus e tocavam fogo, bem na travessia para o Brizolão!
– Mas quando matavam o chefe do morro, arrancavam a cabeça lá encima, na Glória, e saiam desfilando com a cabeça, acho que o último lugar que via era na Bêra...
– Impossível! Para de caô!
Os dois se olham e dão de ombros.
– Hoje esses Meninos não são de nada, não respeitam ninguém...
– Concordo, época boa já foi, a do Lambari!
– Lambari? O Vado foi muito melhor!...
Entardece em nuvens pesadas de chumbo lentamente,
que logo logo chove.
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