Berenice



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Noite baixa na Rua Sá Carneiro.
Quando eu tragava a minha esquisitice,
corri os olhos e vi... de algum desfiladeiro
chegava Berenice...

O jeans cor de mate, os cabelos pretos,
seus peitos baluartes tonteantes,
seus brincos – aqueles prediletos
que ninguém viu antes...

E me dizia: “fala aí, magrinho!
Que horas são? Que dia é hoje? E de qual mês?”
Eu lhe sorria como um filhotinho...
“Fevereiro – quarta-feira – 10 pras 6.”

Que prazer em sua boca perfumosa!
Embora em tantas outras bocas desperdice
igual prazer de um roxo quase rosa...
Teus lábios, Berenice...

Noite alta... e ainda o mesmo faço...
Cismo na morte... decido ter um gato;
aquele deus remanescente do cansaço...
E, de pronto, ponho o nome de Pacato!...

BANG!..............................
Num segundo a rua toda era só luz!
Como prevendo o lamaçal de sangue,
da janela dona Inês beijava a cruz...

“Esse é o castigo! Vai tarde! Foi o vício!”
Juízes tolos mugiam a quem ouvisse...
Fui dormir lembrando teu ofício –
“té logo, Berenice.”

O Amante Herege



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Castelã dos meus punhais,
onde tens que mendigar
nestas tardes literais?
Castelã, por quanto mais

hoje evitas acordar
a dor que dorme em tua paz?
E retorno a ser teu mar,
num silêncio de amputar...

Ah! provável castelã,
quando foste bailarina
frente às pálpebras de Pã?

Quando assim tão pequenina
escapaste entre a neblina
para ter com teu Satã?...

É teu



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Qual foi o erro,
qual é o preço
que eu devo saber?

Não é certo
que eu peça perdão
sem me arrepender...

E se teu silêncio
for tua melhor
solução,

entenda o meu
como qualquer aceno
em vão...

Pequenos poemas para rir



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I

Por que vais, morena pequenina,
e não me levas em teu burel?
Meu coração – cálida Palestina,
há de abrigar-te num mausoléu!

Sentir-se só é quase uma verdade
que para bem completar-se
o indivíduo tem que despir-se
para crer no próprio disfarce?

II

É noite – eu saio – a cidade é
os jogos dos velhos Adalbertos –
as damas – dominós – carteados –
os olhos dissimulando desertos

III 

Eu fui do burgo o bom castelo –
foi protegida a minha senha,
mas veio o tempo e me deixei
e quando mais pensava sê-lo
...
E até minha alma, que de mim desdenha,
ri de tudo que de mim despenha
...
Hoje excursionam por mim decretos
de um desconhecido rei,
tenho por dias prediletos
os que ainda não infectei
...

IV

Quero-te firme, amante infiel –
Aldebaran das boemias passadas...
Hás de notar muitas fagulhas no céu,
como nossas recordações recortadas...