Parque Shanghai



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Aberto o portal para a alegria,
da longe infância a fantasia 
vem me atenuar o distúrbio
de existir um alien no subúrbio.

Deidade de ferrugem, tu és
magia desde 1910,
morrerei - o tempo me atrai,
como tirou dentre nós meu pai...

Aos pés da Igreja da Penha
tu que reluz, tu que desdenha 
das telas da modernidade 
és lembrança, também eternidade.

Chá de ervas



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Quando à tarde cai o sol dormente
e uma ânsia de agir me invade
e meu coração transborda de vontade
que comprime e expande velozmente...

Colho as folhas de cidreira e hortelã
e um perfume acalenta os meus dedos 
envolvidos de místicos segredos,
já a ânsia se percebe fria e vã...

Vejo a água borbulhar fervura
e o vapor que inebriante acalma 
a minha boca que bebe a minha alma 
espalha o aroma da total doçura...

Anoitece em meu olhar castanho
e a quietude desta trégua abrupta 
traz desprezo à minha dor corrupta
emoldurada num altar estranho.

Meus 8 anos



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Era um sonho recorrente 
deitar sobre papelão,
coberto de um trapo dolente 
perto da chuva e do trovão...

Desses desejos sem perna 
nem braço, tronco ou cabeça,
gritar um nome na caverna,
morrer antes que anoiteça...

Ir limpando toda cidade 
pendurado a um caminhão,
dar costas para a humanidade:
ser a chuva e ser trovão.

Alvejante



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Por mais que o cheiro da dor esteja 
espalhando sua metástase 
feito bruma pelo vale úmido,
por mais que o prenúncio da morte 
anuncie o sabor das lágrimas 
destinadas ao dia derradeiro...

Ele chega. E não há sangue nas portas 
que te proteja, nem magia 
que te proteja, nem palavra
que traduza o alarido da língua inerte.


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Abro os olhos e tento 
capturar a luz que recria
no espaço e no tempo - o momento,
mas só há uma anomalia.

Quem me dera ouvir contigo 
o uníssono das eras,
crer no amor, esse inimigo 
tão real quanto as quimeras...

Tudo é falso! Vaidade 
que esconde-se e maquina,
e eu que vivo outra realidade 
não sei o que me destina,

não sei onde é que reside 
o inquilino do meu sonho,
se um dia ele decide 
ser um anjo ou ser medonho...

Construção



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Primeiro, definido o espaço
e o tempo para o emprego das mãos,
o sonho da não indigência
e do não desespero noturno,
em cada vez que se cogita a presença do despejo 
atrás de uma porta adotiva.

Ali o suor e a lágrima aspergem 
sobre cada buraco úmido...
Cheiro de terra que nos sobe ao nariz
quando a liberdade está perto o bastante
para o toque de prazer impoluto.

Eu queria em mim essa estrutura férrea 
e esse balanço. Quando a sordidez dos ventos 
desfolhassem a copa das velhas árvores,
quando o murro do raio estalasse,
no meu corpo sólido haveria
a substância do amparo seguro.

Por fim, já calejados corpo e alma,
no entardecer um blues, regar as plantas 
que antes quis duas, agora mais de trinta 
desbotando flores ordinárias - sem poemas,
só a vida quase concluída,
que demanda ainda o acabamento,
feita e imperfeita...

Por enquanto mantenho o trabalho que invento
perscrutando a areia lavada,
colecionando pedras para enfeitar substratos.

Um jardim esquecido



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Um jardim esquecido?
Melancólica pintura 
onde existe e não se vê 
uma pobre sepultura.

A morte real é o olvido.
A vida real é a procura.
A única certeza é o porquê
da dúvida futura.





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Perdem-se de vista 
os dias macilentos,
e a pós modernidade
compõe monumentos...

Suposta liquidez 
que hábil nos afoga,
onde o mundo é propício 
para aquele que joga.

Evade a nado raso
o resquício da essência,
a solidez da partícula,
a lótus da consciência...

Eu olho? Que desencontro!
Sou aquilo que ignora;
um protótipo de intento;
um agora fora da hora....