19 junho 2025

Stims XIV

Posiciona-se intrusivo, velhaco, urticante, cínico,
estrategicamente nas quinas etéreas
onde me cai todo nexo, 

esse susto, esse sopro, esse topo, esse tapa
que derruba o número oito 
recurvando o som do sentido. 

18 junho 2025

Stims XIII

Mimético inveterado, 
imito aquilo me apraz
ou seja; um doido dado
àquilo que um doido faz, 

por esse meu repeteco 
que rapto, que confisco, 
que desdo australopiteco 
arranho parede e disco... 

17 junho 2025

O sexo dos anjos

– Então você cresceu no Azul... 
– E você na Bêra do Rio, mas não é cria...
– Não sou? Cê tá de brincadeira... 
Os dois se olham fixamente. 
– Se liga, quando tinha operação era na porta de casa,  jogavam granada e tudo... 
– Tá, na Bêra eu via os traçantes passando na janela, morava no quinto andar... 
– No Azul tentavam esconder arma na lage, minha mãe discutia com os Meninos: "Olha minha filha aí, aqui não!" 
– Na Bêra, quando deviam na boca, eles amarravam cada mão num cavalo e arrastavam até o Pontilhão... 
– E lá em cima no Azul picavam, era um serrote cego, botavam num carrinho de mão... 
– É mesmo? Pois, se chegavam vivos no Pontilhão, enfiavam dentro de uns pneus e tocavam fogo, bem na travessia para o Brizolão! 
– Mas quando matavam o chefe do morro, arrancavam a cabeça lá encima, na Glória, e saiam desfilando com a cabeça, acho que o último lugar que via era na Bêra... 
– Impossível! Para de caô! 
Os dois se olham e dão de ombros. 
– Hoje esses Meninos não são de nada, não respeitam ninguém... 
– Concordo, época boa já foi, a do Lambari! 
– Lambari? O Vado foi muito melhor!... 
Entardece em nuvens pesadas de chumbo lentamente, 
que logo logo chove. 

16 junho 2025

clickbait reverse

aprofunda-se o pensamento em massa
na rede neural multimidia 
e vão descarrilados ao pico 
e saltam enquanto os risos silenciam 
antes dos baques cheios na rocha

a literatura está em choque 
e o que você faz? 

boca a boca ( ) 
massagem cardíaca ( )
liga pra samu ( )
escreve qualquer coisa ( )
nada ( )

pensamenta-se o neurónio videomaker
da rede que balança a massa
pica a veia um trem desgovernado 
que o silêncio chora por que pensa 
rachado em baque golpeado na fala

¿a eletrocutagem táes me letra 
                       faz vo cê o e que ^

15 junho 2025

Do retorno do inverno

As estrelas no azul do vão, que antes luziam, 
e que naturalmente se estrelavam, 
nos filtros deste olhar que vem comigo 
retremem pelo breu, crucificadas, 
se por um lado luz, mesmo defuntas, 
feito ecos das imagens que viajam, 
têm outro lado cruz, embora vivas
nas mudas seduções que vão no espaço. 

Bem, considera-se maduro aquele que sabe
que há sempre mais caminho aos pés cansados, 
então reconsidere teu preparo 
e trate de enfiar-se num casaco, 
que a Noite vem dar palco às Moiras
e destelhar o escalpo dos telhados, 
que a noite vem sentar no avarandado
pra ver do baile angústias torvelinhos... 

para compras de domingo

feijão
arroz ou macarrão
açúcar
milho para pipoca

café 
leite 
margarina 
se macarrão 
queijo 
se arroz 
iogurte

cebola
pimentão 
cenoura 
batata ou inhame 
se batata 
inglesa ou doce 
couve ou brócolis 
se couve
proteína de porco 
se brócolis 
proteína de frango 

banana da terra
manga tommy 
fruta do conde 

páprica defumada, picante e comum 
alho 
pimenta e cominho 
canela
cheiro verde
coentro 

água sanitária 
desinfetante neutro
sabão em pó 

chocolate
nuts! 

14 junho 2025

Carta V

Olá, pessoa. Escrevo-te outra vez desta alcova craniana de fumo. Reflexivo, fico a remoer o sentido da tua bondade. Não sabes, mas és inexistente! Mesmo propícia ao toque, és a composição provável da persona que se evadiu dos meus imaturos contos angelicais, te confiro a forma, depois o sopro e por fim te imponho a lei proibitiva, logo mais voltarei com a punição do trabalho, que fará cair o caldo de sal do teu rosto, (embora valorize os fins de semana). Vem, me ame, me invente, filosofie e me mate! 

Acompanho daqui os feitos sublimes do teu intelecto. Que bênçãos tuas mãos, quando, disforme, meu corpo contorcia cada músculo teu, quando era meu prazer não circunscrito tua cabeça em moldes diversificados e a embrionária culpa que te servi no colostro místico, dei-lhe todo o vazio do espaço, como mamaste! 
Que produtivas tuas mãos. Quando o desejo de romper com a ordem levantava a primeira horda de poetas cadáveres e elusivos, viciados em haxixe, ópio, álcool, nicotina, likes, palmas, miséria, dores falsas, sarjetas, flores malignas, liras, cuícas, pó, tuberculoses e fomes, todo meu catálogo de viagens lhe foi oferecido e outras coisas mais, pois a blasfêmia é nada. O convite para dança macabra, o contágio da música, dos rebolos em fodas vagas, das novas maresias corrosivas, dos simulacros da gênese, pinceladas fugazes, tilintar de esculturas do oriente ao ocidente revelavam as maravilhas sublimes do teu estro ou chico, os covens ebulidos... Eu que pari a dança, me arrisco? Não tenho ritmo, iancurtizado, estremelico vergonhosamente. 

Nunca poderás me perdoar, me acredito. Sonhar-te real sob a abóbada celeste é dolorido. Tu, prenhe do que me foi negado, não compreendes quão grave é a maldição desse meu estado divino e grotesco, quero o bom aroma do teu sacrifício, estou esquálido, apático, deprimido, chué... 
O quanto ainda pretendo lamentar, enquanto a vida derrama sobre lábios preteridos o bálsamo ideal dos sonhos? 

Rendei graças, dê notícias, faça milagres, mande um zap!
Aqui da várzea de lágrimas, dos teus em um. 

13 junho 2025

VIII A Bruxa

Na cópula sem núpcias retesa 
os lábios que, transversos, eletrizam
a cisma em namorar a flor dos homens,
outrora desprovidos brutos fálicos... 

Na transa Samyasa fez-se símio, 
mordendo-te da aréola o castanhado, 
naquele instante flébil um felino 
no dorso dos teus pés, domesticado... 

E tu, marcada a dente, forasteira
em tempos de imbecis, de partidários, 
gestante virgem túmida dos céus

às vésperas da dor, do rito augusto
que a apoteose pélvica borbulha, 
que rasga e escorre em lava o Nephilim...