junho 27, 2025

notas para vanguarda poética

do - pós - humano - pós - o - quê? - 
enlatar-se para não se enlatar
desperformar-se para performar 
impor métrica quando a regra for livre
impor livre quando a métrica for 
impor o não-impor para desimpor o pós-impor 
ser tirano de si 
ser múltiplo mas unilateral 
não falar de amor para falar de amor 
ser vazio para ser profundo 
acorrentar a favor do nado 
cafona cofonérrimo cafoninha cafonão 
em suma para aparecer sumir 
oclinhos cult camisinha cult disquinho cult
crescer em favela para ter lugar de fala
usar anti e des e pós com sub-frequência 
cagar na mão e jogar em quem passa 
sublinhar absurdos inconfessos 
não ser para ser 
escrever para ninguém ler
esquecer que tudo é linguagem 
subverter a linguagem 
provocar tragédias para engrandecer a biografia 
morrer como catarse 
negar para não negar
como principal meta não levantar da cama
testar pra cima para cair no cuspe 
cifrar a possibilidade do leitor entender 
fazer pastiche de dadaísmo cruzado com budismo
não nascer para nascer 

junho 26, 2025

notas para sukeban

seifuku gangues
city pop
anos 60 a 80
urbanização veloz
normas patriarcais e misoginia (redundância?) 
tensões sociais
crimes da juventude 
esploitation 
pink violence
bokkens 
desexualização na marra

junho 25, 2025

natural intelligence

crise = (vivo - vida)

input = (digite seu nome:) 
se vivo = vivo;
         chorar depois do tapa
         mamar dormir cagar
         porquês de infância 
         crescer apaixonar 

crise

input = (digite uma profissão:) 
se vivo = vivo;
         sobir descer de elevador
         desejar acontecer voltar 
         transportes públicos mil
         desenganar ser sem estar 

crise
 
input = (digite uma espectativa:) 
            se feliz
            morrer dormindo 
            se infeliz
            morrer sofrendo 

break

junho 24, 2025

Coisas Deleitáveis

Inspirado num texto da Izabela Cosenza

Escrever listas, poemas, prosas, pastiches, pinturas, devaneios, preguiças, desesperos, nasceres e morreres, palavras difíceis, inventar palavras, destruir palavras, palavras, sentenças, orações, a língua portuguesa, sotaque português, sotaque nordestino e nortista, gírias mil, palavrões cabeludos e hirsutos, referências de obscuras ao pop, contradições matemáticas, os bigodes de Nietzsche, de Cruz e Sousa e de Machado de Assis, o erotismo de Gilka Machado, chamar Gilka Machado de vó, rimas da classe mais baixa, a métrica, o verso branco, o cativo e o livre, sinestesias lisérgicas, descobrir bandas ou cantores depressivos, fumar maconha para ouvir música, descobrir escritores anônimos geniais, comer nuts enquanto assisto MasterChef, acertar um combo bom em Mortal Kombat, andar de moto na chuva, construir algo e depois olhar pensando: "fui eu que fiz essa porra!", aprender coisas novas só porque sim, hiperfocar na Segunda Guerra, dar paulada na cabeça de nazista, tocar bossa nova, aprender um acorde complicado, decassílabos simétricos, versos que fecham com Satã, mitologias judaico-cristãs, versos de Cartola, melodias do Tom, gatos gordos se espreguiçando, poetisas intensas, poetisas rasas, poetas gays, poetas atormentados, espelhos antigos, ciências ocultas, misticismos regionais, a ambiguidade da palavra essência, corrigir métrica e sintaxe, riff de contrabaixo minimalista, o Delta Blues, rir de humor de constrangimento tipo The Office, buscar referências em obras musicais e de literatura, entender como funciona algo mecânico, customizar coisas incustomizáveis, acordes dissonantes, contrastes absurdos, estereotipias sem culpa, pesquisar custo benefício, o dia que consegui casa própria, andar pelado em casa em dia de verão, fazer amor com amor, acompanhar o crescimento das plantas, o florir da flor de maio, ganhar algo para comer, comida apimentada, comer até explodir, psicodelias underground, cafuné para dormir, beijo afrodisíaco, conversar sobre algo que não sei com alguém que sabe muito mais, mulheres mais inteligentes que eu, livros antigos, cheiro de folha passada em mimeógrafo, proparoxítonas, mangás de ero-guro, filmes do estúdio Ghibli, sexos orais, bolo de aipim, cafezinho da tarde, ouvir meu nome da boca de quem tenho apreço, perfume amadeirado, ouvir declamar um poema meu, desenhar olhos em reunião,  ficar em casa a toa vendo vídeos no YouTube, jogar vídeo game quando quiser, organizar livros, fazer faxina ouvindo Smiths ou The Cure, morar no meio do mato, ser bicho do mato, a cor verde, provocar riso de criança com algo inesperado, fingir ser burro para alguém que eu amo se sentir mais confiante sobre si, peças de Shakespeare, solos de flauta doce, pudim bem feito, afinações abertas, mistérios do cosmos... 

glitch love

do amor ter sido a sorte
da morte 
do amor ter sido amor
tecido à sorte
do amor
à morte e a sorte
do amor ter
vencido 
do amor ter amortecido a morte 
e sido 

junho 23, 2025

IX O Passageiro

Curvei na esquina crítica, decerto,       
no curso do momentum calculado,       
seguro de que o Nada engloba tudo, 
se o fim é o que define toda estada;      
      
o atraso deste expresso me desdenha      
no espesso tempo, o pouco que me resta      
em ser, e assim que ver luzir teus olhos       
lá longe dentre a névoa do conflito -     
      
um salto só no "foda-se a segunda"...       
Perdão, colegas, velhos e ambulantes,       
se espalho-me nas vossas mentes rudas       
      
no trauma sujo e puro e liquefeito,       
pintando girassóis ensanguentados       
no chão desta estação de folhas secas...

junho 22, 2025

Chegou meu Cruz e Sousa de tardinha...

Chegou meu Cruz e Sousa de tardinha, 
não morto num vagão de tosco cargo, 
mas sim de motoboy, pra meu descargo, 
na mata que me escondo, tranquilinha... 

Lá foi... ficando eu, o livro e a minha
rudeza de animal queixudo e largo, 
talvez um ticos alto de letargo, 
mas sem bandeira dar do que obtinha... 

E o Cruz me olhando pávido na capa, 
sem me entender da uva, nem do vinho, 
mal sabe que comigo se esfarrapa

um outro livro seu, mas não sozinho, 
que os trago doutros tempos à socapa 
em pilhas numa estante em desalinho... 

junho 21, 2025

Carta VI

Há qualquer coisa de abrupta e cortante. (Uma preguiça de rabiscar, descrever... Vamos lá, vamos! ) 
Tem esse clima de asfixia, de bateria 5%. Eu, que já reconhecia nas nuvens o alarde do trovão, acabo atingido facilmente, turvado na tempestade que estronda entre nós, maldizendo cada vez mais o lugar onde minhas mãos não satisfazem. (Isso não ficou tão bom, né? Foi o melhor que pude conseguir, me deixa!...) 
É um luxo esse prazer da ausência, chego a sentir os lábios trêmulos pensando no teu gosto de lichia. (Olha, lichia é uma fruta romântica sim!) 
Posso dizer o que eu quiser, que no mundo em que estamos inseridos os poetas são estrangeiros longínquos. (Egocêntrico? Prove que não!) 
Então, por que você não me traduz? (Embora eu escreva na tua língua, isso de traduzir é bonitinho, vai, tipo entender o idioma dos anjos, metáfora pobre, mas eficaz. Estou longe de um anjo, talvez djinn, não sei, não tenho ascendência árabe, queria ser filisteu, mas nasci em Judá, Saul curtia meus sonetos e solos pinkfloydeanos de harpa... ) 
Há tanta certeza no amor. Pena que não sabes, meu caju, o quanto a vida pode ser cínica, cruel e cara. (Ai, que má, que má!) 
Se nossos lábios se encontrarem, se as estrelas se alinharem, se os deuses de outrora viessem nos saudar, se apenas houvesse uma chance, tudo ruiria desastroso -  castelos de areia, pilhas de pedras, represas frágeis, pontes cariocas, barros nas encostas em janeiro...
(...) 

O amor, minha lacáride míope, é o vulgo do tempo. 
(Uma puta dor de cabeça, cadê Dipirona?...) 
Espero retorno. 
Do teu aluado Don Quixote de la Ganja.