Deveria eu silenciar
e ainda mais;
descendo até o íntimo Sheol
para me reencontrar
e esse eu que deveria ser
vir para a luz comigo,
altivo e desconcertante,
mas cada vez que abro a boca
é um declínio, uma miséria,
e já tão fundos
corriqueiros, meio mé, e meio
que cansa a autopiedade,
então deveria eu silenciar
como a pedra da cachoeira
rachada de água gélida,
como o ninho do pardal
ou algo mais bucólico
que me proponha a fuga
daqui.
Arqueja sobre o chão meu corpo branco e sujo...
Ela me disse: "talvez seja obra de outro mundo,
algum obsessor que te quer ver um caramujo
que redundante arrasta o seu passado imundo..."
E ciente dos eflúvios que a mente enternece,
discuto com espelhos falhos, divergentes
espectros do eu - do que inflama, do que apodrece,
do que cai em terra fértil entre muitos afluentes.
E virá a Desvontade com seu manco acólito,
aspergindo triunfante o odor do despropósito
da jovem floração que advém do meu rancor...
E definho abraçado à completa preguiça,
ela me diz: "é do espírito! Vai ao centro ou à missa!"
E minha alma esvanece com tamanho amor...
Há muito que eu tomo
o mais grave e lúcido cuidado...
Há muito que tudo me ensina
o mais grave e lúcido cuidado...
Há muito que tudo me ensina
a permanecer calado...
Dancei com soldados no vale da Morte,
tornei-me despojo, tesouro e consorte
do sangue aspergido, do velho transporte,
meu corpo era o nada no centro do Caos...
Eu tive nas mãos a humana trindade:
a Dor, a Esperança e a Finalidade.
Ouvi o seu canto, ergui sua cidade
altiva e suspensa nas nuvens do Caos...
Da vinha do tempo colhi meu compasso,
bebi do silêncio discreto e devasso
do fim da canção que vibrava no espaço
o som do meu nome nas cordas no Caos...
Dormi com vencidos no jardim da Vida,
um servo da lágrima por cada caída
e em todo levante era mais despedida
no adeus do horizonte de eventos do Caos.
Mediano. Nada incomum.
Insisto na praga e a prova
que busco, farto de mim,
Insisto na praga e a prova
que busco, farto de mim,
e nada mais me renova...
Despendo e inspiro e flexiono...
– Será que inda não me aprendi?
– Será que inda não me enfrentei?
– Será que não me arrependi?
Que mal, Davi, mas que ruim!
A sentença é prepotente,
sem recurso, sem defesa,
violenta e simplesmente
me atravessa nesse fosso
perfurando todo um dano...
Sempre um autossabotado
afeito a mais desengano.
Despendo e inspiro e flexiono...
– Será que inda não me aprendi?
– Será que inda não me enfrentei?
– Será que não me arrependi?
Que mal, Davi, mas que ruim!
A sentença é prepotente,
sem recurso, sem defesa,
violenta e simplesmente
me atravessa nesse fosso
perfurando todo um dano...
Sempre um autossabotado
afeito a mais desengano.
Teus olhos que me abriram buscando tal essência
reconhecida em velhas palavras de espírito,
do recôndito da alma ou eterna dissidência -
teus olhos duas Antares de força e conflito.
Atados pela carne ou pela decadência
meus ossos encontraste em tudo que foi dito,
em tudo que se enterra por zelo ou influência
da urgência de ser único, mas indescrito.
E como julguei etérea, dessignificada
a origem destas ermas e incautas imagens
na oculta sordidez erguendo suas paragens!
Teus olhos que banharam essa terra ilhada,
afeitos ao meu corpo - comum subserviente
deste rito sagrado e contraproducente.
*
Eclesiastes 5:16
"Há também outro mal, assim esteja atento:
nossa nudez é igual na volta ou na partida,
que vale perseguir o rastro vão do vento
e entregar para o tempo os valores da vida?"
Toda palavra foi comprimida
dentro de uma sentença reduzida
a uma descrença desequilibrada,
toda letra foi lida e pronunciada,
tudo que é sonoro foi soado
e o que se deu ao uso foi usado.
Toda tristeza é hereditária
e essa saudade latifundiária
do que nunca foi verdadeiro e meu,
eu acho que nem mesmo aconteceu
o anoso mistério que foi revelado
do que era evidente e significado.
Tudo que é dor é indiferente
à delicadeza do amor contundente,
e o líquido amparo da alma é inútil,
nem mesmo a poesia pouco sutil
te diz o que é teu e então te conduz
a qualquer ímpeto de morte ou de luz.
E tudo regido pelo discernimento
se mistura e se funde ao conhecimento,
nada mais é firme aos pés cambaleantes
e nem mesmo a jura eterna dos amantes
pode enfim traduzir da língua mais ufana
o horror de pertencer à espécie humana.
dentro de uma sentença reduzida
a uma descrença desequilibrada,
toda letra foi lida e pronunciada,
tudo que é sonoro foi soado
e o que se deu ao uso foi usado.
Toda tristeza é hereditária
e essa saudade latifundiária
do que nunca foi verdadeiro e meu,
eu acho que nem mesmo aconteceu
o anoso mistério que foi revelado
do que era evidente e significado.
Tudo que é dor é indiferente
à delicadeza do amor contundente,
e o líquido amparo da alma é inútil,
nem mesmo a poesia pouco sutil
te diz o que é teu e então te conduz
a qualquer ímpeto de morte ou de luz.
E tudo regido pelo discernimento
se mistura e se funde ao conhecimento,
nada mais é firme aos pés cambaleantes
e nem mesmo a jura eterna dos amantes
pode enfim traduzir da língua mais ufana
o horror de pertencer à espécie humana.
Acordo sob nenhum domínio
e arrasto o olhar
para fora do meu corpo,
minha alma reproduz um estalar
de dedos a cada ápice, num ritmo
quase vitorioso. Quem dera
ser em mim legítimo
o emprego dos dentes,
no entanto, só recebo notícias
de um correspondente impreciso...
E me espalho
salvando as migalhas de fome,
a última luz, nobre, morre...
o sonho
era apenas um nome
dado ao que foi impalpável -
onde as mãos sempre inconstantes
abarcam todas as distâncias dos céus.
e arrasto o olhar
para fora do meu corpo,
minha alma reproduz um estalar
de dedos a cada ápice, num ritmo
quase vitorioso. Quem dera
ser em mim legítimo
o emprego dos dentes,
no entanto, só recebo notícias
de um correspondente impreciso...
E me espalho
salvando as migalhas de fome,
a última luz, nobre, morre...
o sonho
era apenas um nome
dado ao que foi impalpável -
onde as mãos sempre inconstantes
abarcam todas as distâncias dos céus.
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