Aqui pretendo esmiuçar, sem perder a pose teatral, essas cartas para ti. Adianto que acendi um incenso de café, seria mais lógico passar um café, porém tenho tido ataques de gastrite; certamente devido à ação dos confetes que equilibram meu sistema nervoso central junto com o café - tive de me abster... ou tive de abster? Frequentemente tem me acometido as dúvidas verbais, inoculado de um processamento lento, paro e foco no horizonte em busca de uma palavra e acabo rolando os cumes das nuvens ou achando ritmo no baile das árvores do vale neblinoso...
Aqui já me perdi, vê? Voltemos ao cerne dessas cartas. Cartas, por definição, devem comunicar algo a alguém e este alguém, por meio da carta, ter ciência do algo que lhe foi conferido, daí responde ou não com seu algo preferido e assim, os dois perseguidores de algo, vão por algum motivo estabelecendo esse escambo persecutório...
Mas, aqui refiro-me ao leitor(a) deste desumilde contexto: os novos anos 20. A ideia inicial era apenas escrever uma correspondência para seus olhos, insinuando imagens que te provocassem essa coisa de arte que transforma e peretetê pão duro, mas por vezes fui traído pelas musas ou cá entre nós, viajei no purê. Sempre preferi purê à maionese, pois no "Catálogo de Alimentos, Texturas e Sinestesias" os dois pertencem à mesma classe sensorial, por isso podem ser comparados, sabes que jamais cometeria essa gafe de comparar objetos subjetivos que se significam, essencialmente, nos padrões preestabelecidos, em grupos lógicos diferentes.
Taí?... Penso que escrever qualquer coisa hoje em dia é um ato subversivo, ainda mais sob a marquise de uma pretensão artística, essa qualquer coisa escrita vira um dado precificado e rapidamente me pego tentando organizar o caos da pós-modernidade...
Onde chegamos – ler poesia é ser subversivo? Talvez em 1968 nos tempos do baculejo.
Então, me conta, como vai você? Tem lido o quê? Tem lido? Tem ouvido discos novos? Tem escrito suas coisas? Tem se importado com estética, com ética?
Ouvi dizer que o universo como conhecemos colapsará antes do combinado, é foda. São os tempos líquidos, Bauman isso, Baudrillard aquilo... Chato demais!
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