10 julho 2025

XV Os pássaros

No meu dissimular de déjà vu, 
tentei justificar um vaticino, 
onde retorcia um homem-bem-te-vi 
de dor sobre a soleira, ao sol a pino, 

tomei teu corpo pobre, e me atrevi 
cuidar-te as asas quedas de menino, 
depois dei-te ao biquinho, que previ 
tomar de toda boca algo ferino, 

a carne do meu pão recém partido, 
o sangue que um milagre fez ungido 
por tantos passarinhos machucados, 

e a mim? não resta mais que ver partir, 
assim como chegaste, podes ir, 
agora que não tens pra que cuidados... 

09 julho 2025

social ability killer

no eyes no look
can't move can't see
  this is a thing
this is a situation for me

no eyes no look
can't love but can hate
  I can so much so far
  I can die and die and putrefy
can you feel me a natural reflex?
can't cry like human and confess

no mouth no voice
can't suffer from suffering
  bullet my honey eyes
  bullet my alien soul
we're dying just to lies 
there's no more shining
and green and white and nothing

Avulsos Pós-Punk XII

I

– Enterrado Morto!
– Que tem? 
– Era o nome da página. 
– Ah... 
– Não é genial? 
– Nossa!... 
– Nunca mais te conto nada... 

II

– No cursinho fiz um PowerPoint com a discografia do Nick Drake!... 
– Parabéns, dividiu o átomo, né? 
– Você é igual minha mãe... 

III

– Eu andava com o W, então a turma do C veio me perseguir também.
– O que você fez?
– Levei um canivete do meu P.
– E aí?
– Fui expulso pela D.

IV

Ai, que mundo egoísta...
Ai, que o ser humano é mal por natureza...
Ai, que todo mundo faz isso...
Ai, me dê um tiro na boca! 

V

Pense em algo absurdo, 
fruto de meio milênio 
de administração inconstante 
onde os planos de governo
são descontinuados... 

Ouviram do Ipiranga às margens....

VI

(Faça voz de criança mimada, histriônica, 
de pais relapsos, alheia ao outro, alheia a si.) 

– Eu tenho o direito de gostar do Bigodinho! 
    É um país livre!! 

VII

Olha o aleijado, que engraçado! 
(Traduz-se por?) 

O macaco, o aidético, a bichona, a piranha! 
(Entre as entrelinhas, observe. ) 

Ora, mas querem censurar minha arte?! 
(Não importam os meios para o marketing. ) 

VIII

déos
prátrea
i fámêléa

IX

Olá! Prazer, Machado aqui. 
Não te cansa
essa necessidade moderna
de ter que se defender a tese 
do óbvio? 

Será cansaço? 
Será moderno? 
Será mesmo óbvio? 
Será o "será" será? 
................................ 
Necessidade? 




Aqui?! 

X

Preocupa-se não 
com lingua-
gem a f
om
e

08 julho 2025

the sovereign self

metas = {
                 popular, invejável;
                 limpo, feliz;
                 célebre, sorrir;
                 poder, glória;
{
 
método = {
                    canibalizar, ostentar;
                    segregar, usurpar;
                    proclamar, morder;
                    impor, humilhar;
{

metas + método = tendência;
se tendência is true;
      pessimismo;
se tendência is false;
      otimismo;

07 julho 2025

Avulsos Pós-Punk XI

I

– Adoro a boneca de Kafka... 
– Eu gostava da boneca da Xuxa. A Kafka passava onde? 
[claque] 

II

"Desde os primórdios do universo, 
(você sabe) , 
que a culpa do holocausto 
é de Paulo Freire! 
Salem
e o Massacre do Carandiru, 
Massacre de Mutantes, 
Massacre da Serra Elétrica, 
Massacre da Candelária, 
Massacre de Nanquim 
e outros pontos turísticos da história. 

Eu nunca li Paulo Freire,
mas dá tesão odiar quem defende Paulo Freire!
Paulo Freire Paulo Freire Paulo Freire... 
Ele! Que caiu com a terça parte dos anjos!"

III

Olha o gay atravessando na rua, 
olha a inclusão social, 
olha o professor comunista, 
olha o negro comprando um carro novo,
olha o trabalhador lendo um livro, 
olha a mulher tendo perspectiva, 
olha a igreja imitando Jesus - 
olha o favelado vivendo, 
todo mundo do seu lado no avião! 

IIII

E o Molejo Ultra-direitista? 

Mamadeira de piroca,
como é bom! 
como é bom! 

Hitler foi morrer na toca,
Franz Franz von! 
Franz Franz von! 

06 julho 2025

XIV

Quando ao tocar-me a tez intumescente
supões que me dominas, acintoso, 
se regurgitas, dentro, teu mal gozo, 
boleando esse turíbulo dormente, 

sorrindo teu bigode, crente crente 
do olhar que te confesso, que amoroso 
não tiro do teu lábio mentiroso. 
Meu fauninho, ouça bem: abra tua mente! 

Pouco importa a luxúria que produzes, 
meu corpo já verteu por outras cruzes
muito sangue, mais vida, mais espasmo! 

Se me dou nesta noite, rumorosa, 
remida neste arroubo cor de rosa, 
né por ti, mas somente pelo orgasmo!! 

05 julho 2025

Stims XVI

Queria alucinar outra loucura, 
que não esta, 
roubar a pedra mor da ventura 
de uma testa, 

praticar magia mais obscura, 
mais modesta... 
ser não mais que uma criatura 
da floresta... 

Carta IX

Ao perguntar se estou em crise por qualquer falta minha, quer seja de manejo ou trato correto do verbo transitivo, torna-se capacitismo? Aqui tendo a rejeitar a ideia de dicionarizar a palavra capacitismo. Também estou pelado da vontade de fazer sentido. 
Prestes a conhecer o meu planeta, embora certo que esteja pra lá de Sirius, esquina com Andrômeda, não posso deixar de persuadir a ânsia a calar-se. Meu planeta Crise; luas afetadas, anéis de autoflagelo, atmosfera de bad vibe. 
Defina crise:
Um tardígrado em órbita social pode sobreviver exatamente em quanto espaço-tempo? Mentira, não sou tão resistente, é bem verdade, mas estou vivo, acho... É o que conta! 
Desde sempre imitei os cultos ou os que julgava cultos, na esperança febril de um lampejo, de uma saliva pro meu boneco de barro, para que com essa conquista incorporasse o meu mito de criação, minha start-up ou ONG do verbo. 
Culto ao Cartola, culto a Jesus, culto a Eros, Dionísio, Kali, Shiva, Ogun, Exu, culto a Azazel, culto ao Homo Sapiens, ao Bob Dylan, Patti Smith, Billie Holiday, culto ao Vincent, ao Lambari... Eu sou um idólatra incontido. 
A poesia está na caixa de Schrödinger... O verso-não-verso até que não leiam e o leiam. Abrindo as portas para todos os mundos não possíveis. Vi isso em uma série da Netflix, ou li no Bhagavad Gita?... Tanto fez, tanto faz. 
Agora tudo é crise.
O país acabou.
A paciência ruiu.
A guilhotina emperrou. 
A receita voou pelos ventos de maio e eu não sei a cor da tarja que me pertence.

Então vamos, meu cúmplice, correremos na orla por essa neblina de outono, nada mais será culpa do Homem.