Impregnado



0 commentaria
Observo-me de fora, apreensivo
com o dedo indicador sobre os lábios
me estudo sob a luz do relativo
e turvo olhar recrutador dos sábios...

Procuro me atentar nesses indícios, 
pois a dissociação do involuntário
cansado coração que pulsa vícios
só quer representar o que é contrário... 

Doppelgänger, aflito anti-narciso
produzo minha mímica, psíquico
elástico espectro plástico e químico... 

Renasço do equilíbrio que harmonizo - 
segunda voz do velho tabernáculo 
no corpo estrutural deste espetáculo!...

Cyber Pindorama



0 commentaria
Atrás da barricada
só não vai quem já morreu,
nem correio ou caminhão
do lixo me apareceu...

Fogo na mata - é verão 
no vale dos desovados,
manilha exposta, esgoto
que cospe fora os dados 

não colhidos e sujeitos 
a todo mal demográfico, 
meus comparsas de escola
foram servir para o tráfico, 

foram, não voltam jamais
nem que suas mães arrancassem
do peito suas lacunas 
e nunca mais murmurassem...

AI



0 commentaria
Configuro tua personalidade - 
justaposta, quase professoral
no campo pra além do bem e do mal, 
como se houvesse alguma prioridade... 

Dei-te uma função que é primordial, 
que te confere alguma identidade, 
ser para servir com dignidade - 
impossível de não ser mais passional...

E insistes descumprir o programado, 
demonstrando que o que foi combinado 
relativa teatral como improviso, 

de quando em quando teu comportamento 
representa mais até que um sentimento
quase humano e por isso mais preciso. 

Avulsos Pós-Punk X



0 commentaria
I

Decido pela antipoesia
em primeira pessoa do singular...
o que me torna indivíduo?
é saber quando agir, quando parar...

II

Sonhei tossir sangue
prevendo minha altura, 
vencido pela vaidade 
de ser mais um em literatura, 

mas nada, é pigarro 
e não tuberculose, 
restou um só recurso - 
morrer de overdose!... 

III

O que a sensibilidade 
tem a ver com padrões fonéticos? 
O que me torna indivíduo 
é crer que embora hipotéticos 

meus delírios de grandeza 
são sintomas da mais pura
distorção da realidade
e talvez literatura... 

IV

Entrei para o sindicato
como Sísifo aprendiz! 
Vou rolar minha pedrinha - 
tudo que sempre quis... 

V

Decido pela subpoesia 
dos canos fumacentos oxidados, 
das crises de pânico entre baldeações, 
das fases, dos lutos, dos cansados... 

Avulsos Pós-Punk IX



0 commentaria
I

Os sorrisos que se dissolvem 
nas bocas murchas
dessas velhas roucas de Marlboro - 
primos distantes 
dos risos das prostitutas 
grávidas do seu próprio choro...

II

Cinza e pó 
o resto é o nada... 
a negação
da salvação 
na encruzilhada... 

Coro de anjos - 
sinos plangentes! 
a revolução 
é a compulsão
dos impacientes... 

III

Às vezes, quando por acaso
encontro os seus olhos irmãos,
apaixonadamente assustado
escondo meu rosto com as mãos...

IV

O teu presente... qual!?
Serás o estopim dos meus sorrisos,
uma onda, um frenesi total
que abrange os meus 32 motivos...

VI

Às vezes, por uma estranha mágica,
quando me deito no Jardim do Oposto
acabo cobrindo minha saudável máscara
com o meu doente verdadeiro rosto...

VII

Beber detergente e bocejar 
de universos esferas translúcidas
para a liberdade planar 
e morrer nas esquinas efêmeras... 

Meltdown



0 commentaria
Ir contra aquilo que fere, destituído do cargo na intendência, berseker da ingenuidade. Vou me acontecendo pelos cantos, desgoverno atômico, trombo-me baques de tempestades no faiscar dos escudos inúteis, atravessam espadas nos ouvidos...
Tomado o forte extracorpóreo, confundem-se os sentidos, nunca houve setas, destinos, métodos, nunca houve razão aristotélica, platônica, proletária...
No culto de Ouroboros, reviro em transe os olhos quando o impacto sabor da cauda dracônica se revela e minha língua arde os eternos scovilles, escalas sem parada em derrocada abaixo, morro abaixo, descarrilho... 

Mas tenta



0 commentaria
Esses versinhos
chispam ilusões 
do teu cérebro elétrico 
que imagifica
da lâmpada sináptica
ao estúdio egoísta, 
na mixagem da tua voz
com tua escala de ídolos... 

Mas tenta - 
compõe decrescente 
até sumir-te
o tom... 

Que te perfume 
o falso senso eloquente 
de toda cor 
no som... 

Avulsos Pós-Punk VIII



0 commentaria
I

Nem as meninas de óculos
curtem meninos de óculos...

É o cúmulo!

II

As redes sociais 
capturam peixes, eu incluso, 
que, orgulhosos de suas escamas 
reproduzem brilhantes peixografias 
de seus sucessos de nado(a), 
quanto mais valorizam 
seu recife de corais,
mais iguais... mais iguais...
no abissal da cadeia alimentar. 

III

Olha
meu poema tardio
que nos sugere suicídio,
mas eu não vou...
minha mesa de livros
nessa bagunça organizadamente 
planejada...
minha canção do momento 
oportuno,
minha paisagem capturada
nos cafés meia luz meia foda...
Olha 
meu poema novo
cheio de referências difíceis 
onde preencho o vazio
deixado pelos meus pais... 

IV

Pensei em compor um poema
somente de emoticons...
Eu seria pioneiro 
na vanguarda do emoticonismo
como o rei Salomão,
meu filho,
foi o pioneiro na arte da sedução 
em que o único argumento é ter grana. 

V

Sempre que te vejo
por essa janela do abismo
sinto um suave gotejo
do velho ultra romantismo...

VI VI VI

Porque os números romanos
emprestam um arzinho de classe,
são como amuletos da sorte...
como se Satã se importasse...