julho 06, 2025

XIV

Quando ao tocar-me a tez intumescente
supões que me dominas, acintoso, 
se regurgitas, dentro, teu mal gozo, 
boleando esse turíbulo dormente, 

sorrindo teu bigode, crente crente 
do olhar que te confesso, que amoroso 
não tiro do teu lábio mentiroso. 
Meu fauninho, ouça bem: abra tua mente! 

Pouco importa a luxúria que produzes, 
meu corpo já verteu por outras cruzes
muito sangue, mais vida, mais espasmo! 

Se me dou nesta noite, rumorosa, 
remida neste arroubo cor de rosa, 
né por ti, mas somente pelo orgasmo!! 

julho 05, 2025

Stims XVI

Queria alucinar outra loucura, 
que não esta, 
roubar a pedra mor da ventura 
de uma testa, 

praticar magia mais obscura, 
mais modesta... 
ser não mais que uma criatura 
da floresta... 

Carta IX

Ao perguntar se estou em crise por qualquer falta minha, quer seja de manejo ou trato correto do verbo transitivo, torna-se capacitismo? Aqui tendo a rejeitar a ideia de dicionarizar a palavra capacitismo. Também estou pelado da vontade de fazer sentido. 
Prestes a conhecer o meu planeta, embora certo que esteja pra lá de Sirius, esquina com Andrômeda, não posso deixar de persuadir a ânsia a calar-se. Meu planeta Crise; luas afetadas, anéis de autoflagelo, atmosfera de bad vibe. 
Defina crise:
Um tardígrado em órbita social pode sobreviver exatamente em quanto espaço-tempo? Mentira, não sou tão resistente, é bem verdade, mas estou vivo, acho... É o que conta! 
Desde sempre imitei os cultos ou os que julgava cultos, na esperança febril de um lampejo, de uma saliva pro meu boneco de barro, para que com essa conquista incorporasse o meu mito de criação, minha start-up ou ONG do verbo. 
Culto ao Cartola, culto a Jesus, culto a Eros, Dionísio, Kali, Shiva, Ogun, Exu, culto a Azazel, culto ao Homo Sapiens, ao Bob Dylan, Patti Smith, Billie Holiday, culto ao Vincent, ao Lambari... Eu sou um idólatra incontido. 
A poesia está na caixa de Schrödinger... O verso-não-verso até que não leiam e o leiam. Abrindo as portas para todos os mundos não possíveis. Vi isso em uma série da Netflix, ou li no Bhagavad Gita?... Tanto fez, tanto faz. 
Agora tudo é crise.
O país acabou.
A paciência ruiu.
A guilhotina emperrou. 
A receita voou pelos ventos de maio e eu não sei a cor da tarja que me pertence.

Então vamos, meu cúmplice, correremos na orla por essa neblina de outono, nada mais será culpa do Homem. 

julho 04, 2025

X A Vítima

Nenhuma dor supera a que consagro
no lacrimal batismo, sorumbático, 
escolho tanto o cravo quanto a lança
no ensejo de ser crivo e condenado, 

e ver cair, meloso, o sangue tórrido 
dos golpes mais sonoros, gustativos, 
e ver romper tendões, a pele e os ossos, 
já fartos dos prazeres, dos cuidados... 

Só minha dor coitada punge, inflama, 
e surta, e grita, e falha, e me segrega
na mão que me socorre e me arrebata,

no quadro eternizado da capela, 
no trono de miséria, que me exulto, 
igual a Deus? talvez! ou mais, ao Nada!... 

julho 03, 2025

Stims XV

O verso que não fiz 
não me diz nada, 
se não fiz, não veio a ser 
e se não há pé, não há estrada.

O verso que te fiz? 
Foi desse jeito:
acordei, tomei café, banho, saí... 
depois voltei com dor no peito. 

julho 02, 2025

"Pegue o mestre!"

Furo no olho,
choque na língua,
cortem orelha,
cortem salário,
cuspe na boca,
murro na boca,
murro na venta
e no salário,
bico no peito
e no estômago,
queime chamada,
queime salário,
ponha na dama,
dama de ferro,
na guilhotina
corte de verba,
ponha na cama,
cama de prego,
ponha na bunda
e no salário,
mutile,
emudeça,
assassine, 
esqueça,
deprecie,
sucateie, 
não parem!
Não paguem! 
Apaguem! 

julho 01, 2025

Self

Assisto ao gosto triste da modorra
ao rabiscar, facinho, como venho
já indo pros quarenta, por desforra
da cara do Destino que despenho. 

Quando eu não menos era do que porra, 
não tinha tanta fome, tanto engenho, 
no bucho da cadela mais cachorra
cresci, também mamei forte e ferrenho, 

e agora que vos sei, meu bom carinho,
não posso me fazer de coitadinho, 
na mira dos teus olhos, que me julgam, 

mas lato! que as malícias me consomem, 
sem mais, trago pendentes, no abdômen, 
aquelas coisas tristes que não mudam!... 

junho 29, 2025

Tu és da cor a música...

Tu és da cor a música 
almiscarada e nítida, 
quando toco-te a verdade, 
o teu pejo se enrubesce... 

Se conheço o meu Amor, 
ele vai por onde fujo, 
nas areias ondeadas
performadas pelos zéfiros... 

Se confesso o meu Amor, 
ele fere, em fúria, os mares, 
e nos solos dos soluços 
faz-me ouvir a terra e os céus... 

Se esqueço o meu Amor, 
pelas trombas colunares
vai em voltas volteando, 
recurvando, recurvando... 

Há uma Dor que fareja
nos meus olhos que turvam
pelo caminho dos seus
a debulhar-me em sussurros, 

há uma Dor que esfarela 
pelos rastos, pelos rastos
as cinzas do desencontro
dos que sonham lado a lado... 

Mas alegro minha graça 
ao Juiz supremo e anoso, 
e protejo o meu algoz 
com coroa de açucenas... 

Porque a música é a dor 
onde habito em cativeiro, 
só me basta uma fresta 
para dar-te a peça inteira... 

Vejo as claves deste sol, 
no suflar dos sustenidos,
revelar-te o corpo vulto, 
nas vibragens dos acordes

rente às hordas dos ciprestes 
sobejados dos orvalhos, 
onde o Nada cai num breu
que me apaga, que me esquece...