é muito séria e deprimente,
não é tão pouco conclusiva
e muito menos coerente.
Não vou falar da minha vida,
do que espero de outro alguém,
a minha alma arrependida
não quer saber mais de ninguém...
Nenhum refrão me vem a mente,
porque não sei pensar sozinho,
meu coração incompetente
ainda espera por carinho...
E que prazer nessa guitarra
enquanto corta lentamente
vou escutar Violeta Parra,
e me envolver num acidente...
do verbo a magia
que te contrasta.
Tua língua encerra
um sabor de terra,
uma terra nefasta...
Já não há combate,
nem teu corpo se abate -
nenhum desfalecer.
Não te chega a altura
tua fraca figura,
tua falta de ser.
Amordaça o Desejo,
dilacera esse beijo -
bem me quer, mal te quis...
Teu amor é um defeito
que te infecta o peito
de carências sutis.
Quem dera, Arcangélica,
que essa fome histérica,
violenta e triste,
que tu tens carregado
com tamanho cuidado
como quem não desiste,
Fosse feito em presente
ao futuro indecente
que me espera cair
de joelhos em glória
ao findar uma história
que ninguém quis ouvir.
Segunda-feira.
Entrei numas de acender fogueira
pra dançar meu ritual de guerra
com os pés descalços
sobre a terra...
Tomei um litro e meio de sangria,
confundi estupidez com rebeldia,
fui ter com os perdidos amizade
e acreditei que existe a liberdade.
Era um dia normal,
ganhei no bicho.
Fiz do que era santo
um capricho,
comi das flores as cores do odor
e o gosto encheu minha boca de torpor,
deitei nesta clareira morna e mística
como um fauno acometido pela tísica,
enfim, um melancólico enojado
de mim, da distância, do planeta, do Estado...
até onde os meus braços vão?
da minha boca o calor se afasta,
em minha mente pensamentos são
emaranhados em espirais doentes...
Terra infértil... abortados brotam
diante da escultura que eu ergui
para o culto dos que se importam...
E arrasto uma memória ruminal
feito inútil e desgraçado animal,
preso numa velha interrogação...
E ciente do que eu não alcanço
ainda sim inconsciente avanço
até meus pés saírem do chão...
dançando entre as nuvens carregadas,
a noite impera... bélicas trovoadas
cravam o estouro de um baque cego...
Eis o vigilante! O Morcego
no alto do edifício entre as gárgulas,
envolto pelo medo tem seu ego
vingativo... humano... cheio de máculas...
Súbito salta e silva, surpreende
o Louco Clown que ri da sua sorte,
dentro da bruma trava-se o combate!...
Enfim, um punho se ergue e acende
a chama circunstancial da morte...
Ele hesita e o Clown grita: "cheque mate!"
Morreu na esquina da Matoso
com a Dr. Satamini,
nada acontece de novo...
Levaram 3 horas, imagine...
A pele negra sob o pano,
A pele branca sob o pano sujo...
Havia também um despacho.
Maldita encruzilhada, aqui
não há blues... não há blues! Eu acho...
A pele negra sob o pano,
era Jesus? Era Jesus!
3 horas... e aqueles passantes
vaga-lumes mórbidos sem luz...
Nada havia, ia acontecendo...
(E quando o vi fui me estremecendo.)
"Era o Zé? Era o Zé!"
Ai dos homens de grande fé!...
3 horas infindas...
o recolheram perto das 11...
Ficando somente o despacho:
vela vermelha, cachaça e rosa...
*
Resvalou-se a turba curiosa
pelo ralo escoador de populacho...