I O Vampiro



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A sede que te quer sugar a essência, 
tão plena como Deus assim pensou, 
exerce sobre mim poderes cúlticos  
que a fé não poderá mover jamais,

aceite que de ti a boca morta
prossiga parasita e fantasmal, 
por estro reduzir tua existência
sem culpa de se herdar a escravidão. 

Ao grave desta voz que profecia 
o curso natural tanto comum
confesse teu prazer em se iludir

e ascenda como mártir impoluto
da causa que por séculos mantém
o luxo que opulenta a tradição!

Elegia do Ocaso



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Ah, cantar o fim das coisas, 
palavras por entre as loisas
a rodo... 
Do sol ver um outro eclipse, 
crer-me ser do Apocalipse - 
rapsodo!...

Ah, cantar-te ocaso vasto
deste céu de azul nefasto
que impera
sobre as ondas que redobram
quando os afogados cobram - 
Nova Era! 

E cantar da ceifa o súbito
no meu triste estranho púlpito, 
pendão
do esplendor que traz o Outono, 
ergo-te, mas te abandono, 
perdão... 

Dar-te voz, deus preterido, 
martelar tema batido, 
febril 
sorver o teu sumo rude, 
sufocar de finitude - 
Nihil!...

Carta XII



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Falta-me o tato social? Dei agora para empacar com o óbvio. Mesmo mascarada entre bits recursivos a inaptidão me assombra.
Tenho lido contemporâneos, gente como a gente, com o perdão do bordão lúdico. Daí o ceticismo ficou cínico, esfregando na minha cara que essa solidão foi travestida em vaidade.
Outro dia fiquei todo todo. Descobri que Nick Drake chupava também drops de amitryl... Aquele girafo e suas túnicas de areia! 
Acharias incrível como farmacêuticos fazem vista grossa nesse lado do Rio, hoje fui renovar meus votos no rito pós moderno, consegui duas caixas a mais, mesmo explícita a receita para uma de cada, isso me recorda como patologias psíquicas são cada vez mais nicho especulativo para investimento e acúmulo de capital. "Vai, anedônico, hoje é promoção!" 
Outro dia li algo num blog literário daqui, mas de lá da terra de Mario de Sá, o poema dissertava jocoso sobre a visita de dois Baudelaires, achei graça demais, mesmo o Brasil não tendo dissabores e mágoas de picuinhas com a França, claro que periga da gente cair no chiste anacrônico, veja que amo os portugueses, e sua propensão não rara de mamar nas bolas da xenofobia não diminui em nada o alto teor de intelecto etílico-heroico que nos falta tanto, estamos ocupados demais contando moedas para o pão. 
Dasatei a vociferar aleatório, para bem do tema central abandonado era melhor que eu fosse mudo. 
Outro dia pensei que devia ter uma cartilha para expor nossas linhas de interpretação, minha mutação impede de perceber nuances no elogio que dou e que recebo, malfeita a genética propensa ao binário - é literal ou escárnio? Na dúvida fico com o lógico talvez. 



V



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De sândalo perfumo-te, querido, 
que dele a vida seja um sacrifício
té quando por demanda deste vício 
seguir-te o meu desvelo desmedido

que julgas delinquente e confundido
nas tardes caridosas de suplício
por onde me prostrei desdo início, 
discreta enquanto vinhas combalido... 

Ausente de mim mesma, decidida 
amputo cada pétala de vida 
pra teu desfrute cínico sorver, 

e vou mesmo que custe toda glória 
matar por ti bem mais que toda história 
não pode comportar em escrever! 

IV



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Amor - porque sonhei demais contigo
que até corri o ridículo perigo 
de não cumprir talvez tua penitência, 
devota em minha torta obsolescência... 

Amor - porque te ergui feito jazigo - 
astuto obsessor que vem comigo
ditando a pulso firme a indecência 
de corromper a límpida consciência... 

Nesses sonhos que já nasceram mortos
sou aquela a popular ondas nos portos
inchada de penúria e confissão... 

A indigna que aguarda e que evidente 
não crê por fé, nem deixa inconsciente 
a voz atroz da própria condição... 

Junji Ito



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Da casa as sombras tortas se rebelam
em vórtices talvez ectoplasmáticos, 
julgando entre rangidos democráticos
o crime que nem mesmo nos revelam... 

Pululam pelas nuvens que encapelam, 
no horrendo cavalgar dos raios trágicos, 
as luzes refulgentes que fantásticos
provérbios recursivos atropelam...

Nas bocas os sorrisos de ferrugem
nos morde a fina e tímida penugem
bebendo da vertente flor do trauma!... 

E a tela de nanquim nos mortifica 
no olhar que já sem vida testifica 
a mágoa que a beleza traz na alma!

III



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Alheia a teus verões vivendo atônica
na palidez que cobre meu gemido, 
na mão desta estação tanto antagônica 
e quanto mais sem cor e sem partido, 

batida de argumentos vou platônica
curvando a reta linha do sentido, 
sonhando tua imagem babilônica
que rivaliza a um Deus desprevenido... 

Não tenho ao menos na alma alguma glória, 
pois dela fiz espelho pro teu ego 
a custa de exaurir-me como um susto... 

Meu Hélios, toda dor é tão simplória 
que em mim por sacrifício te entrego 
e penso ser sagrado, bom e justo... 

II



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Aguardo a recompensa do retorno
enquanto te transcrevo as serranias...
Já nem me lembro mais como dormias
cativo do meu cínico transtorno.

Saudades de habitar no teu contorno, 
velando pelas queixas que movias
por ser demais cruéis aquelas vias
que tinhas que singrar sob o sol morno...

Não vens e te erguerei um novo culto 
vestida toda em branco como um vulto
em transe a desaguar sinestesias!...

Edênica nas dores deste exílio 
que sebastianamente meu martírio 
açoita em sangue e asperge poesias!...