19 julho 2025

Carta XI

Certo de que lhe prometi resignação versificada, procuro entre os arquivos daqui, dali e pronto! Documento lavrado no cartório Angenor de Oliveira, que descreve: 
"Para todos os fins, seja dada a proibição contínua de escrever-te ou descrever-te, até a segunda ordem." 
Porém, arrisco-me, subversivo do verso, no disfarce de prosaicas imagens discursivas. Claro que tomei a liberdade de simplificar os termos jurídicos, dado o teor confessional desta prosa, que se sabe limitada e hermética para os emancipados poéticos. 
À mesa, sob a bênção lunar, sentamos na partilha do silêncio. Há qualquer humor infeliz que te escolta, um cheiro peculiar, além do costumeiro de mentiras. Embaraçado, tento decifrar-te, já que para os autos do ofício, ainda posso fingir-te Esfinge, e como mentiroso igual, te absolvo, te pondero, mas não me devoras...
E nada mais. Concluo o caso como o arquivo: "indefinido". Tudo bem, ameríndia lânguida. Quaisquer que sejam tuas queixas, existe um raio de sol por onde a glória da guilhotina desce sua bênção avassaladora e, Tupã o sabe: desde moço o meu pescoço pontilhado espera, ultra-romanticamente, pelo golpe transcendental!
 
Sem mais, do teu escrivão submerso 
e náufrago do abismo.

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