Depois da passarela, Rua do Matoso



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O sol é como a fênix rara
piando a lei que declara:
toma outra manhã!... 

O sol é esperança - não tarda, 
embora seus beijos nos arda, 
com tanto afã.

E lá vem eu que sonho pouco, 
cantando desafinado e rouco 
a mesma canção... 

E lá vai eu que aos trinta e tantos 
ainda escrevo meus encantos 
(de) coração... 

Até cair



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Até cair a nuvem de fiapos
e a ilusão da água batizar
a todos nós recém nascidos 
debaixo desse sol de azar...

Até cair os cabelos brancos
de um Deus surdo e mudo,
os anjos virão ao teu encontro
e ao teu ouvido dirão: "isso é tudo."

Até cair a face de Cristo Rei
no madeiro onde ainda padece,
o trovão irá dar o tom de início
para canto que a morte oferece...

Até cair folha nenhuma de nenhuma
árvore que não viça florescente, 
alguma onde qualquer verde jamais
poderá existir verde novamente...

Até cair a última lágrima coitada
no meio de um disco de acreção,
pouco vale a tua dor se não supor
que a beleza seja sua condição... 

Olhando os trilhos do trem



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Desinfeliz, ocasionalmente, 
julgo o preço do café - tomo 
contrariado, mas plenamente 
sorrio ao sol sem saber como... 

Preguiça de métrica - ausente 
psíquico, ao meu querer assomo
rimar displicente, inconsciente, 
anedônico, reduzido - átomo! 

Os trilhos do trem vão velozes... 
os fones não calam as vozes
dentro desse baú encefálico...

"Morrer, morrer!" Ele soa convicto, 
sino da tristeza, não serei adicto
ecoando o seu timbre metálico... 

Cortes do NIHIL?



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Passei a tarde jogando Pokemon, 
fones novos, supra auriculares, 
ouvindo Djavan, Elis e Tom,
e outros pedestais em seus altares...

Fiz um penta kill de Dragonite!
Dei um tempo, peguei na geladeira
o meu prêmio, algo doce, mas light - 
velha ambiguidade costumeira. 

Mudei algumas plantas de lugar... 
Que vontade de ouvir Malandragem 
agora que virei a personagem... 

E foi chegando a noite devagar...
Fui caçar nova vida libertária, 
e outra vez a fome literária... 

Carta X



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Eu disse te amar crendo proferir um encantamento medieval, um desejo de que o mundo físico se modificasse, mas era feita de ouro de tolo minha pedra filosofal.
Aqui seremos francos, aquele teatro infantil machucou a nós três. Dediquei sonetos, poemas imensos, erros gramaticais apenas conhecidos por mãos adolescentes ansiosas em conquistar uma paixão idealizada, "comunista".
Longe de mim me eximir do conceito da culpa, mas na real, me perdoe, eu menti.
Não existe amor sem cumplicidade, sem aquela partilha de dor fúnebre ou riso escandaloso de piada duvidosa. Nosso amor era natimorto. Como um algoritmo simulando saudades e carências de uma outra dimensão.
Bem, como todo poeta... não, não serei um canalha desse tipo! Errei e ponto. Penso ter acabado lá, mas talvez eu tenha deixado alguma semente murcha, que brotou uma flor moribunda, que te perfuma com os vapores de Delfos...
Olha, com todo respeito, mate esta flor! 

Stims III



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Ganhei um spinner do meu amor
rodei feliz, que prazer, que prazer! 
Quebrou...

Ganhei outro spinner do meu amor
girei sem parar, sem parar, outra vez
quebrou...

Ao Neurologista



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Eu me vejo um bicho indefinido
entre a folhagem espessa escura, 
ninguém sabe por onde tenho ido,
minha espécie não tem conjectura...

Meus hábitos alimentares estranhos 
envolvem todo tipo de ambrosia? 
Envolvem sorver seiva ou sangue
ou mastigar versos tristes de poesia?

Eu me sinto um bicho nunca visto:
animal arisco de hábitos noturnos,
nunca ouvi a voz de Jesus Cristo,
nunca vesti farda nem coturnos...

Será você, grande Sherlock mental
o primeiro a escrever minha pele?
Antes que o tempo seja triunfal
e meu corpo para estudo se revele? 

Café



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Esses verdes olhos de vidro - 
agora sozinho finalmente 
experimente o último espasmo
numa pilha de lixo indigente...

Eu vi porcos - certo que o devorem
como lentamente tenho sido...
Menos, né? Por um segundo eu
invejei o teu último gemido...

E que esperança! Duvidei até gelar
suas orelhas e abri seu fuço
já com aquele característico
fedor de carne quase ida - soluço...

Bem, eu o amava... nada contradiz, 
sempre recorro à poesia unguento...
Mas os anos 20 estão aí, baby, 
e a dor é um algoritmo lento...
................................................. 

E eu que não quero chorar mais
marejo diante de ti, me estio
ao falhar no contrato de macho
nesse olhar de vidro verde vazio...