18 abril 2025

Avulsos Atípicos VII

 I

Antes de sair, esse android, 
confere a playlist do cenário
onde representa o humanoide
que aprendeu no dicionário.

II

Satisfaço minha afeição autocrítica
nos assuntos monotemáticos, 
correlacionados pela tênue
intenção da série
em seguir estacionária, 
mas consecutiva... 

Satisfaço minha afeição 
filtrada 
de nomear, numerar, enfileirar, 
assim feito objetos metafísicos
no todo Caos
insiro descanônicos rigores e índices... 

III

Entre notas ponho traduzir
malditas como Patti Smith
com urgência,
mas dou com o niilismo, 
pego Rimbaud e atiro
sem cadência
ao lado da cama, às mãos
enquanto ouço
a trovoada dos ventos 
volume um, 
eletro-livres, 
de Arno X. F. Breeze. 

IV

Naturalmente de esquerda a pata
lógica da vida se impõe 
antes de se encherem os rabos latifúndios 
do sangue e suor do povo, 
aqueles velhos homens antíteses 
dos mitos, dos sábios... 
A direita está contra de praxe 
a inutilidade e eu, desaristocrata, 
sou tocado de rufares 
para os versos de intentona
com o pendão vermelho tímido 
que me cobre e me faz super, 
defendendo meus interesses, 
revoluciono a fila do SUS... 

V

Logo ao chegar, esse algo-ritmo, 
liga-se à tomada e... stand by... 
sonho consciências no meu íntimo 
por onde minha teia se esvai... 

17 abril 2025

I O Vampiro

A sede que te quer sugar a essência, 
tão plena como Deus assim pensou, 
exerce sobre mim poderes cúlticos  
que a fé não poderá mover jamais,

aceite que de ti a boca morta
prossiga parasita e fantasmal, 
por estro reduzir tua existência
sem culpa de se herdar a escravidão. 

Ao grave desta voz que profecia 
o curso natural tanto comum
confesse teu prazer em se iludir

e ascenda como mártir impoluto
da causa que por séculos mantém
o luxo que opulenta a tradição!

16 abril 2025

Elegia do Ocaso

Ah, cantar o fim das coisas, 
palavras por entre as loisas
a rodo... 
Do sol ver um outro eclipse, 
crer-me ser do Apocalipse - 
rapsodo!...

Ah, cantar-te ocaso vasto
deste céu de azul nefasto
que impera
sobre as ondas que redobram
quando os afogados cobram - 
Nova Era! 

E cantar da ceifa o súbito
no meu triste estranho púlpito, 
pendão
do esplendor que traz o Outono, 
ergo-te, mas te abandono, 
perdão... 

Dar-te voz, deus preterido, 
martelar tema batido, 
febril 
sorver o teu sumo rude, 
sufocar de finitude - 
Nihil!...

14 abril 2025

V

De sândalo perfumo-te, querido, 
que dele a vida seja um sacrifício
té quando por demanda deste vício 
seguir-te o meu desvelo desmedido

que julgas delinquente e confundido
nas tardes caridosas de suplício
por onde me prostrei desdo início, 
discreta enquanto vinhas combalido... 

Ausente de mim mesma, decidida 
amputo cada pétala de vida 
pra teu desfrute cínico sorver, 

e vou mesmo que custe toda glória 
matar por ti bem mais que toda história 
não pode comportar em escrever! 

13 abril 2025

IV

Amor - porque sonhei demais contigo, 
que até corri o ridículo perigo 
de não cumprir talvez tua penitência, 
devota em minha torta obsolescência... 

Amor - porque te ergui feito jazigo - 
astuto obsessor que vem comigo, 
ditando a pulso firme a indecência 
de corromper a límpida consciência... 

Nesses sonhos, que já nasceram mortos, 
sou aquela a popular ondas nos portos, 
inchada de penúria e confissão... 

A indigna que aguarda e que evidente 
não crê por fé, nem deixa inconsciente 
a voz atroz da própria condição... 

12 abril 2025

Junji Ito

Da casa as sombras tortas se rebelam
em vórtice, talvez, ectoplasmáticos, 
julgando, entre rangidos democráticos,
o crime que nem mesmo nos revelam... 

Pululam pelas nuvens que encapelam, 
no horrendo cavalgar dos raios trágicos, 
as luzes refulgentes, que fantásticos
provérbios recursivos atropelam...

Nas bocas o sorriso de ferrugem
nos morde a fina e tímida penugem,
bebendo da vertente flor do trauma!... 

E a tela de nanquim nos mortifica 
no olhar, que já sem vida, testifica 
a mágoa que a beleza traz na alma!

11 abril 2025

III

Alheia a teus verões, vivendo atônica,
na palidez que cobre meu gemido, 
na mão desta estação tanto antagônica 
e quanto mais sem cor e sem partido, 

batida de argumentos, vou platônica
curvando a reta linha do sentido, 
sonhando tua imagem babilônica
que rivaliza a um Deus desprevenido... 

Não tenho ao menos na alma alguma glória, 
pois dela fiz espelho pro teu ego 
a custa de exaurir-me, como um susto... 

Meu Hélios, toda dor é tão simplória 
que em mim por sacrifício te entrego 
e penso ser sagrado, bom e justo... 

10 abril 2025

II

Aguardo a recompensa do retorno
enquanto te transcrevo as serranias...
Já nem me lembro mais como dormias
cativo do meu cínico transtorno.

Saudades de habitar no teu contorno, 
velando pelas queixas que movias
por ser demais cruéis aquelas vias
que tinhas que singrar sob o sol morno...

Não vens e te erguerei um novo culto 
vestida toda em branco como um vulto
em transe a desaguar sinestesias!...

Edênica nas dores deste exílio 
que sebastianamente meu martírio 
açoita em sangue e asperge poesias!...