Bateria



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Sincopado 
dedicado 
para te prender, 

baque inchado 
represado, 
bruto de poder, 

velho atrito, 
rito e mito 
puto de bater, 

infinito 
torque aflito 
rubro de verter, 

gordo murro, 
nojo e curro;
crime de prazer, 

débil urro, 
cuspe surro;
tiro de render, 

do arremate 
transe e abate, 
fome de foder, 

do combate 
que retrate
parte do viver, 

primitivo 
golpe vivo 
farto de conter, 

recursivo
compulsivo
riso de sofrer, 

tribal dúbio 
do subúrbio; 
ritmo de arder, 

interlúdio 
que o repúdio 
traz por responder, 

barbarismo, 
belicismo
pronto pra romper, 

paganismo, 
terrorismo 
todo de tremer, 

chaga prima
que se exprima, 
gozo despender 

que de cima 
nos redima 
para nos vencer. 

Baixo



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O calibre grosso
do fundo do fosso, 
soturno esboço, 
betume do troço;

monótono fulo, 
vibrátil casulo, 
volátil adulo
que domo, que bulo;

do medo modorro 
degredo e esporro 
que monto, que morro, 
que surjo socorro;

tirano amigo
que firo, que digo
no fado que irrigo 
no nó do umbigo;

dobrado borrão 
do lábio do não
vingado e malsão 
amado irmão;

conciso no dom, 
afago do som, 
rebolo do tom 
que é vago, que é bom, 

que transo no avanço, 
não calo, não canso, 
abismo que danço 
metálico e manso;

translúcido torvo
que d'olho do corvo 
te trago e absorvo 
num túrbido sorvo, 

que mais reverbero, 
que pronto pondero
contínuo, prospero 
rosnando o que quero;

que pulso e trituro 
passado, futuro, 
silábico e duro
quadrúpede puro! 

Guitarra



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A elétrica lira
meu tímpano morde, 
meu corpo transpira
na chama que atira
o teu longo acorde - 
Oh, Byron, milorde!

O gume do arpejo
das cordas de aço
despende um desejo, 
trafega o regaço
que fere o solfejo...

Ascende uma escala
quebrando cristais
e quando resvala
eu quero tocá-la 
como os imortais - 
Oh, meu Satanás! 

O tempo é torcido 
no turvo bemol 
ou num sustenido
pendura um anzol 
que arrasta o sentido... 

Propaga-se a luz, 
inverte-se a cruz
que te reproduz
humana, blasfema
no sonho de Dante 
o horror dissonante 
que vem semelhante 
ao som do poema, 

eriçam-se os pelos 
e os dedos vão pelos
os mistos apelos 
dos trastes, das casas
compostas no solo, 
erguidas do solo 
do templo de Apolo - 
seis cordas, seis asas!

Francisco



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O Papa humano morreu, 
vale nota o acontecido. 
Amado por bramir o óbvio
do óbvio tão reduzido. 

Foi santo porque gentil, 
como se aí tanto houvesse
algo que falta ao poder
que se apropria da prece.

Agora que vai enterrado
exuma-se o que se consterna,
que se conserva na igreja
como na imunda taverna. 

IX



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A insubmissa 
de queixo em riste fúria precursora, 
que movediça 
irrompe pela vala transgressora, 

que te aterrissa
dos céus onde proclamas opressora, 
a mesma missa 
do velho amarrotado defensora!... 

Arcana maga
que chove o sangue tétrico do oculto, 
que verte a chaga

que sentencia um Deus subproduto 
da própria praga 
que prega o desamor absoluto! 

IV O Sacerdote



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Silêncio na penumbra que meditas,
coçando do teu falo o cancro duro, 
desejas a pureza do gorjeio 
filtrada por vitrais engordurados,

lá fora corre o riso onipresente, 
completo como tu não podes sê-lo, 
conspiras orações de mendicante 
propondo toda forma de barganha, 

e desces as escadas do teu templo,
arfando grunhos chulos de chorume, 
tua bata suando fátua teus farfalhos... 

O cervo escapa livre e te debates 
na neblina espalhando o nimbo véu 
heroico do paterno Belzebu!...

VIII



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Amado dos meus cantos rarefeitos, 
restritos num acorde mal montado;
louvor aborrecido e deslocado, 
não pôde fazer jus aos teus preceitos, 

nem nunca imaginar os teus trejeitos 
enquanto tu me lês desconcertado
e sentes que o que eu digo foi pensado 
por quem te beija até por teus defeitos... 

Amado que jamais ouviu, latente,
do corvo o miserere displicente, 
paupérrimo, truncado e desigual, 

que sendo assim esdrúxulo torcido, 
sugere parcamente algo vencido, 
ungido, ressurreto e triunfal!... 

III A Criança



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Acordo desconexo e reconcilio 
o caos dos meus sentidos desarticulados, 
de pronto te procuro pela casa e saio 
descalço no jardim onde contorno acácias 

e ali porque perdi do teu destino o rumo,
ferido de perfume por qualquer espinho 
conduzo pelo breu meu desespero ufano 
com mãos inconsoláveis feitas de vingança, 

encontro-te no ontem e já despetalado,
teus membros entre espasmos de inocência ida - 
no choque roxo puro, surto criminal! 

E o riso como luto me vestiu suspeito,
deitado no teu resto, reunido e impuro 
no jorro tanto êxtase quanto digressão.