Junji Ito



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Da casa as sombras tortas se rebelam
em vórtices talvez ectoplasmáticos, 
julgando entre rangidos democráticos
o crime que nem mesmo nos revelam... 

Pululam pelas nuvens que encapelam, 
no horrendo cavalgar dos raios trágicos, 
as luzes refulgentes que fantásticos
provérbios recursivos atropelam...

Nas bocas os sorrisos de ferrugem
nos morde a fina e tímida penugem
bebendo da vertente flor do trauma!... 

E a tela de nanquim nos mortifica 
no olhar que já sem vida testifica 
a mágoa que a beleza traz na alma!

III



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Alheia a teus verões vivendo atônica
na palidez que cobre meu gemido, 
na mão desta estação tanto antagônica 
e quanto mais sem cor e sem partido, 

batida de argumentos vou platônica
curvando a reta linha do sentido, 
sonhando tua imagem babilônica
que rivaliza a um Deus desprevenido... 

Não tenho ao menos na alma alguma glória, 
pois dela fiz espelho pro teu ego 
a custa de exaurir-me como um susto... 

Meu Hélios, toda dor é tão simplória 
que em mim por sacrifício te entrego 
e penso ser sagrado, bom e justo... 

II



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Aguardo a recompensa do retorno
enquanto te transcrevo as serranias...
Já nem me lembro mais como dormias
cativo do meu cínico transtorno.

Saudades de habitar no teu contorno, 
velando pelas queixas que movias
por ser demais cruéis aquelas vias
que tinhas que singrar sob o sol morno...

Não vens e te erguerei um novo culto 
vestida toda em branco como um vulto
em transe a desaguar sinestesias!...

Edênica nas dores deste exílio 
que sebastianamente meu martírio 
açoita em sangue e asperge poesias!... 

Canzone



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Amore, amore mio,
entardeci vazio
do seio teu...
Não mais augures místicos -
poemas apocalípticos -
não mais eu!...

No prado do martírio
cansei do meu delírio
compulsão,
matei minha alfazema,
sofrendo de enfisema,
de paixão...

Amore, tutto cuore,
mais nada me colore,
tu somente...
Só tu, em quem confio, 
só tu, meu bem, meu lírio
penitente... 

E brinco - ignoro
meu nome, tento o choro,
mas desisto...
A saudade é um fio
de sabre tão sombrio
quando insisto...

Simulacro



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Daquilo que era realidade,
da poesia primogênita,
da simples capacidade
da rima brutal e frêmita,

daquilo que é preterido
e que subverte o capital,
daquilo que nunca foi tido
como verdade universal,

da luz que se impõe limite
e serve pra fim algum 
além daquilo que transmite
o ideal de não ter nenhum,

daquilo que foi romance
ou do que pensava sê-lo, 
da eterna performance
de obter o perfeito apelo,

daquilo que o verbo encerra
e dá-se por satisfeito -
um eco no seio da terra
de um tempo liquefeito... 

Poemas de Clara Heilege



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I

Assim me encontra a nova melodia
nos prados florescidos pelo medo, 
por onde fui profusa desde cedo
cantando como a dor me despendia..

E fui me tresloucando dia após dia
à margem da razão, do seu enredo
qua a mística intenção do meu segredo
somente por mentir se compreendia...

Por dentro do meu corpo campanário
relutam os espectros do contrário
despedaçado e crivo coração...

E os olhos que te fitam se reviram, 
tanto em teus olhos belos refletiram
que responderam Cristo: - Legião!

Por ti desejo ser assassinado...



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Por ti desejo ser assassinado
e a febre que me toma, repentina, 
sustenta meu delírio depravado
e a morte pelo amor se desatina!...

Vem matar-me, não deixes que assombrado
meu verbo, que por tudo mais opina, 
te conjugue piedoso e amedrontado, 
que me adora e que nunca me assassina!

Enfim, quando cravar o teu punhal
na insignificância, transversal,
que impera quando penso na existência, 

enfim, quanto a sofrer, seria igual 
à dor que escorre o chão do hospital 
na madrugada em muda recorrência...

Stims XI



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Da sensação o tempo percorrido
de quando os átomos chocam 
no afeto prazeroso e mantido
onde os dedos curiosos tocam...

Das ondas de acordes dissonantes
que vibram cordas de tessitura, 
no sexo que nos esconde instantes - 
permanência rara de textura!...