13 de abr. de 2016

No fim da rua a tua casa morre
e dormes tão vazia do meu amor,
minha Ofélia melada de obscuros
tristes versos que componho sem pensar...

Consciência e autocrítica

Sobram-me reticências e vírgulas...
Meu vocabulário é uma vaca carnívora.
À primeira vista minhas ideias são asas,
à segunda são rasas,
à terceira são casas
nas esquinas das fórmulas comprometidas com o uso
do desuso...
Há profundeza nos olhos de quem vê?
No fim
eu sou você,
e vamos mal...

Não entendemos isso de ser poeta profissional.

3 Notas

I
Quando estou atrasado a rua se renova, nem o sol brilha a mesma tela, aracnídeo. Até o cigarro fumado no caminho empresta um gosto nítido de deboche e despreocupação.
II
O grande motivo da minha falta de pontualidade é o orgulho. O que pensariam de mim se me vissem, esbaforido, correndo léguas para pegar o trem?
III
Se me demoro 5 minutos a mais na cama, minha rotina é varrida por um tornado, meus compromissos esmagados por um piano, minha cara é detonada por uma banana de dinamite.

Teto preto

Afasto as cortinas
cúmplices da luz
e dançarinas das sombras...
Amigo mais próximo, quem és tu?
Deito no tapete verde,
braços em cruz,
logo tudo se perde...
Jesus!

Arauto inútil, quem és tu?
O espelho encarcera a imagem que aceita
mas seu rosto quadrado não se sujeita...

No chão a chuva de ontem tremeluz
o espírito de um velho vulto desconhecido -
óculos e dentes e sulcos e os
braços magros dependurados -

Sou o espantalho na colheita das horas...